Três semanas depois, Hollande aterra no Mali

Visita do Presidente francês acontece três semanas depois do início da intervenção militar e após a tomada da última cidade do Norte sob controlo dos islamistas.

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Hollande insiste que "a França não tem vocação para permanecer no Mali" Bertrand Langlois/Reuters

Não se espera um discurso de vitória idêntico ao proferido em 2003 por George W. Bush, a bordo de um porta-aviões no Golfo após a queda do regime iraquiano de Saddam Hussein. Mas quando François Hollande aterrar sábado em Bamaco – três semanas após o arranque da intervenção francesa no Mali – as comparações entre as duas aparições presidenciais tornar-se-ão inevitáveis.

Segundo o jornal Libération, o Presidente francês parte nesta sexta-feira à noite de Paris, sendo esperado na capital maliana na manhã de sábado para um encontro com o Presidente interino, Dioncounda Traoré. Visitará depois Tombuctu, cidade património da Humanidade.

Foi em resposta a um apelo lançado por Traoré  que a França enviou, a 11 de Janeiro, os seus caças para travar o avanço de grupos islamistas. Dez meses depois de terem tomado o controlo da metade Norte do Mali, em coligação com os separatistas tuaregues, os combatentes radicais islâmicos tomaram no início de Janeiro uma cidade às portas do Sul, o que os deixava em condições de avançar para Bamaco. A aviação francesa travou-lhes a marcha e, em menos de três semanas, os 2500 militares que Paris enviou para o terreno recuperaram, com o apoio do Exército maliano, as três grandes cidades do Norte que estavam em poder dos jihadistas, incluindo da Al-Qaeda no Magrebe Islâmico (AQMI, grupo com origem na Argélia e que se diz filiado na rede fundada por Osama bin Laden).

“Estamos a ganhar esta batalha”, disse Hollande, na segunda-feira, após a entrada das tropas francesas em Tombuctu, fazendo questão de partilhar os louros com o Exército do Mali. Dois dias depois, as tropas dos dois países entraram em Kidal, no nordeste, cumprindo o objectivo inicial da missão.

Paris reconhece que uma nova fase se inicia agora, mas insiste que caberá às tropas do Mali e à missão africana – cinco mil soldados dos países da Comunidade de Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) e do Chade – a tarefa de perseguir os grupos radicais no deserto, zona que dominam e que poderão usar para lançar operações de guerrilha.

“A França não tem vocação para permanecer no Mali”, insistiu Hollande, sublinhando que a missão se restringirá a criar condições para que “as forças africanas possam dar ao Mali uma estabilidade durável”.

Há, no entanto, dúvidas se a missão africana tem os meios – militares e logísticos – para controlar o vasto território, que lhe é estranho, e sobre as capacidade do Exército do Mali, tido como ineficaz e minado pela corrupção.

A União Europeia comprometeu-se a enviar perto de 500 formadores militares e vários países ofereceram ajuda financeira e apoio logístico à missão da CEDEAO. Resta saber se será suficiente para permitir uma retirada francesa a curto prazo. “Esta segunda fase poderá demorar meses e a França poderá ficar mais tempo na linha da frente do que tem admitido em público”, advertiu o correspondente da BBC em Bamako, Thomas Fessy.  

As comparações com o Afeganistão estão por todo o lado, embora o Governo francês garanta "ter tirado lições dé vários conflitos" e que, desta vez, não haverá “ derrapagem”. 
 
 
 

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