Hillary escolheu para "vice" um político “aborrecido” mas que “nunca perdeu eleições”

O senador do estado da Vírginia, Tim Kaine, foi o escolhido como companheiro de campanha de Clinton.

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Clinton e Kaine são os apelidos que vão liderar a campanha democrata Saul Loeb/AFP

Tal como esperado, Tim Kaine, senador do estado da Vírginia, foi o escolhido por Hillary Clinton para entrar na corrida à Casa Branca como seu candidato a vice-presidente. O anúncio foi feito nas redes sociais e através de mensagens enviadas aos seus apoiantes. “Sinto-me feliz por anunciar o meu companheiro de candidatura, Tim Kaine, um homem que dedicou a sua vida a bater-se pelos outros”, escreveu Clinton no Twitter.

A apresentação oficial ocorreu horas mais tarde, num comício em Miami, em que Clinton e Kaine subiram juntos ao palco, e a candidata democrata não perdeu a oportunidade para atacar o seu rival republicano. "O senador Tim Kaine é tudo o que Donald Trump e Mike Pence não são", declarou.

O companheiro de Clinton retribuiu o elogio: "Hillary Clinton é o exacto oposto de Donald Trump." Num discurso em que alternou entre o inglês e o espanhol, Kaine continuou com a mira apontada ao magnata do imobiliário, que recentemente veio pôr em causa as garantias dos EUA de protecção dos aliados da NATO. "O meu filho [que é soldado de elite nos Marines] será enviado dentro de alguns dias para a Europa para cumprir os compromissos americanos para com os nossos aliados da NATO. Para mim, isto faz com que o que está em jogo nestas eleições seja muito pessoal", acrescentou.

Kaine, um político discreto com 58 anos, católico, formado em Direito em Harvard, já era apontado como favorito para esta posição há algumas semanas, sobretudo pelos seus mais de 18 anos de experiência política no desempenho de cargos executivos e legislativos. Foi governador da Vírginia, presidente da câmara de Richmond (a capital desse estado), e tem trabalhado no Senado nas áreas de relações externas e assuntos militares. De acordo com a Associated Press, traz consigo ainda a reputação de conseguir ultrapassar as fronteiras partidárias e criar consensos.

O agora candidato, que em tempos se descreveu a si mesmo como “aborrecido” — característica que Hillary já referiu “adorar nele”, gracejando , aprendeu a falar fluentemente espanhol após ter participado numa missão com padres jesuítas nas Honduras. Um factor que pode seduzir a comunidade hispânica nos Estados Unidos, cujo voto é crucial em alguns estados chave.

“Ele nunca perdeu umas eleições”, afirmou Hillary Clinton, que de acordo com um membro da sua campanha ficou impressionada com o estilo pragmático de Kaine quando este participou num comício seu, na semana passada. Depois disto, o senador ter-se-á encontrado mais duas vezes com a ex-secretária de Estado norte-americana, incluindo um almoço privado com a família Clinton.

No passado, Tim Kaine já tomou posições a favor de um maior controlo na venda de armas de fogo e foi uma voz activa contra a discriminação das comunidades imigrantes, nomeadamente procurando abrir caminho à atribuição do visto de residente a milhões de cidadãos indocumentados. Por outro lado já declarou a sua oposição pessoal ao aborto, embora tenha também demonstrado publicamente o seu apoio aos direitos das mulheres em termos de saúde reprodutiva. Foi também um dos legisladores do Senado favorável a uma autorização formal de guerra contra o Estado Islâmico.

Uma escolha para agradar aos moderados

De acordo com os media norte-americanos, a escolha do senador Tim Kaine pode agradar ao eleitorado independente, aos moderados do Partido Democrata e mesmo a alguns republicanos descontentes com o seu candidato, Donald Trump, que esta semana insistiu na sua promessa de construir um muro na fronteira com o México para barrar o acesso a imigrantes.

No entanto, é uma escolha que pode desagradar à ala mais à esquerda, sobretudo aos apoiantes de Bernie Sanders que esperavam poder ver a senadora Elizabeth Warren ao lado de Clinton. Para além disso, Kaine já não era visto com bons olhos pelos apoiantes do veterano senador do Vermont devido ao seu apoio aos acordos de comércio internacional.

Será exactamente por aí que os republicanos poderão pegar para um contra-ataque. O comércio, e sobretudo os acordos que estão em cima da mesa, serão centrais no duelo entre republicanos e democratas nestas eleições, afirmou à Reuters Stephanie Taylor, co-fundadora do comité político Progressive Change Campaign. “Infelizmente, e uma vez que Tim Kaine votou para acelerar o acordo de Parceria Trans-Pacífico, os republicanos têm uma nova brecha para atacar os democratas neste tema”, concluiu.

Donald Trump, candidato do Partido Republicano às eleições presidenciais de Novembro próximo, é um dos mais fervorosos críticos destes acordos, que considera serem prejudiciais para os trabalhadores norte-americanos, argumentando que para além disso, poderão aumentar a taxa de desemprego.

Não é de estranhar portanto que a campanha de Trump tenha reagido de imediato, criticando a escolha de Kaine. Jason Miller, um representante do candidato republicano, classificou a dupla Clinton e Kaine como pertecendo ao status quo e lançou suspeitas sobre a ética do candidato. “Se acham que a Desonesta Clinton e o Corrupto Kaine vão mudar alguma coisa em Washington, vai ser exactamente o contrário”, afirmou num comunicado, onde usou os qualificativos habitualmente empregues por Trump nas suas mensagens no Twitter.

Atrás de Kaine, terão ficado outros candidatos, nomeadamente Cory Booker, senador do estado de Nova Jérsia, e o secretário da Agricultura Tom Vilsack, referiu à Reuters uma fonte dos democratas, que acompanhou o processo de escolha.

A Convenção Nacional do Partido Democrata, durante a qual Hillary será formalmente nomeada como a candidata presidencial do partido, arranca esta segunda-feira na cidade de Filadélfia.

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