No Reino Unido há um grupo de trabalhadores que não quer ganhar mais

Deputados britânicos estão contra a subida do próprio salário, recomendada por um organismo parlamentar.

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JIM WATSON/REUTERS

Dos trabalhistas aos conservadores, passando pelos liberais, há consenso entre a classe política britânica numa questão: os salários dos deputados não podem subir. Nem que para isso haja uma rebelião contra a IPSA (Independent Parliamentary Standards Authority), a entidade britânica que fixa os salários dos deputados desde 2010 e que agora recomenda um aumento de 11% após as eleições de 2015.

Há o entendimento entre Governo e oposição de que uma medida deste teor seria muito mal recebida pela opinião pública britânica, numa altura de cortes orçamentais e de medidas de austeridade. No entanto, o IPSA não precisa da aprovação da Câmara dos Representantes para implementar a medida, obrigando os deputados a terem salários mais altos.

O deputado e secretário de Estado da Defesa Philipp Hammond, do Partido Conservador, recusou aceitar a subida proposta. “Enquanto eu for secretário da Defesa, presidindo a uma situação em que os soldados que servem tão brilhantemente o nosso país estão a ter aumentos de 1%, eu não irei aceitar um aumento de salário”, afirmou à Radio 5 Live. Hammond disse esperar que o seu exemplo seja seguido pelo resto do Executivo.

Do lado dos liberais, parceiros dos tories no Governo, a subida dos salários dos deputados é considerada “totalmente inapropriada”. “A maioria das pessoas vai achar totalmente incompreensível, num tempo de restrições nos pagamentos ao sector público, num tempo de apertos na despesa, que a IPSA esteja a recomendar” este aumento, afirmou o ministro do Tesouro e também deputado Danny Alexander, durante uma entrevista à BBC, garantindo que vai abdicar do vencimento extra.

A oposição não ficou atrás e o deputado trabalhista Ed Balls criticou o relatório da IPSA que considera “totalmente fora do contexto do mundo real”. “Como é que poderia dizer aos deputados do Partido Trabalhista que, nesta altura, com uma economia como esta, sob grande pressão, quando há uma crise do custo de vida, que eles devem aceitar um aumento do salário?”

O primeiro-ministro, David Cameron, ainda não reagiu, mas uma fonte de Downing Street citada pelo Guardian e pela BBC afirmou que “o custo da política deve descer e não subir”.

A recomendação da IPSA está alinhada com uma redução prevista nas pensões dos deputados e nos valores que recebem quando deixam o Parlamento. No longo prazo, isto não resultaria, em princípio, num custo acrescido para as contas públicas.

O salário anual dos deputados britânicos passaria das actuais 66 mil libras anuais (79 mil euros) para 74 mil (88 mil euros).

A IPSA foi criado na sequência da denúncia feita em 2009 sobre os abusos dos deputados britânicos com as suas despesas extraordinárias. O objectivo foi o de criar uma entidade independente do Parlamento para controlar as contas dos deputados e fixar-lhes os vencimentos. De acordo com o The Guardian, a única forma de anular as decisões da IPSA seria legislar a extinção do próprio organismo. Caso a proposta avance, a cada deputado irá caber a decisão de ceder o acréscimo do salário, seja devolvendo ao Parlamento ou através de doações.

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