Greve "do lixo" em Madrid entra na segunda semana sem acordo à vista

UGT alerta: "O lixo está em todo o lado, mas essa é uma realidade passageira. O que não será passageiro será o drama" do desemprego.

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Tudo indica que a greve se mantém até ao dia 17 JAVIER SORIANO/AFP

A cidade de Madrid, em Espanha, está cheia de montes de lixo e a porcaria nas ruas vai continuar a acumular. A greve dos funcionários que fazem a sua recolha nos espaços públicos já entrou na segunda semana e não há sinais de haver em breve um acordo para o seu fim.

Na origem desta greve está a proposta de redução de salários dos trabalhadores e o despedimento de mil deles. A paralisação, por tempo indeterminado, foi convocada pelos sindicatos UGT, CC OO e CGT, que chegaram a reunir com as empresas a quem o município de Madrid concessionou a recolha de lixo, a OHL, a Valoriza e a FCC. Uma quarta empresa, a Cepsa, anunciou que não vai fazer despedimentos.

As empresas em causa têm seis mil trabalhadores e pretendem reduzir esse número em 1134. Querem também baixar, para cerca de metade, o salário de 625 trabalhadores, reduzir as indemnizações para os despedidos e mexer nos direitos sociais como o pagamento de baixas e reformas. Além das mudanças salariais, as empresas querem alterar os turnos da recolha do lixo.

Segundo os sindicatos, o salário de um trabalhador de recolha do lixo urbano é de mil euros mensais, os que trabalham nos jardins e parques públicos recebem um pouco menos, 900 euros.

"Querem acabar com a regulamentação dos horários", disse ao El País Juan Carlos del Río, da UGT, a central sindical mais representada entre os funcionários de recolha do lixo em Madrid.

"Não há perspectiva de solução", disse à rádio pública Roberto Tornamina, também da UGT. "Percebemos que os cidadãos estejam aborrecidos, o lixo está em todo o lado, mas essa é uma realidade passageira. O que não será passageiro será o drama de deixar sem emprego famílias que dependem de salários muito baixos".

Ana Botella pressiona sindicatos
A presidente da câmara, Ana Botella (do partido de direita PP e mulher do antigo chefe do Governo José María Aznar), optou por fazer pressão junto dos sindicatos. Mas, ao mesmo tempo, manteve-se à margem do problema dizendo, na segunda-feira, quando passou uma semana desde início da greve, que se tratava de um "conflito entre empresas e trabalhadores".

As empresas já tinham demitido 350 funcionários em Agosto, argumentando que esta redução e reestruturação dos serviços se deve à pressão do município, que quer pagar menos pela limpeza das ruas e parques municipais. Francisco Jargón, presidente da associação de empresas de limpeza (Aselip), disse no início da greve que o município reduziu "em 40% o que paga às empresas" e, por isso, estas "não podem manter a mesma estrutura".

No domingo, o governo municipal anunciou que patrulhas policiais iriam andar nas ruas e parques de forma a garantirem que os serviços mínimos de limpeza estavam a ser garantidos.

A oposição criticou a postura da presidente da câmara, exigindo-lhe um esclarecimento sobre o que foi proposto às empresa concessionárias, e considerando que o município não se pode pôr de lado neste conflito. Na conferência de imprensa de segunda-feira, porém, Botella limitiu-se a constatar que Madrid está cheia de lixo e a registar que "não há perigo para a saúde".

O prazo para empresas e trabalhadores chegarem a acordo termina no dia 17. Depois dele, as empresas podem impor as suas condições, restando aos sindicatos levar as mudanças salariais e de horários aos tribunais.

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