Grécia tenta limitar aglomeração de refugiados na fronteira com a Macedónia

Fecho da fronteira com a Macedónia ameaça tornar insustentável a situação no país. Governo reduz transporte de refugiados entre as ilhas e o porto de Pireu.

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Mãe e filho descansam numa praça do centro de Atenas Louisa Gouliamaki/AFP
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Manifestação no porto de Pireu contra o fecho da fronteira com a Macedónia Alkis Konstantinidis/Reuters
Centenas de pessoas estão a percorrer a pé o caminho até à fronteira
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Centenas de pessoas estão a percorrer a pé o caminho até à fronteira Yannis Behrakis/Reuters
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Um aeroporto a oeste de Atenas foi transformado em centro de acolhimento temporário Alkis Konstantinidis/Reuters
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Há famílias inteiras nas estradas que conduzem à fronteira Yannis Behrakis/Reuters

Isolada pelos parceiros europeus, a Grécia tenta aliviar a pressão provocada pela decisão da Macedónia de limitar a passagem de refugiados através da fronteira. As companhias de ferries receberam ordens para reduzir o transporte entre as ilhas – ponto de chegada dos migrantes à Europa – e o porto de Pireu. Os autocarros para Idomeni, última localidade antes da Macedónia, são cada vez mais escassos, o que não deixa outra alternativa aos refugiados que não seja fazer a viagem a pé, ainda que à sua espera haja apenas arame farpado.

Atenas não esconde a sua fúria com a Áustria, que, distanciando-se cada vez mais do seu vizinho alemão, concertou com nove países da chamada "rota dos Balcãs" restrições que equivalem a um quase encerramento da fronteira – a Eslovénia, a Croácia e a Sérvia anunciaram já nesta sexta-feira que só vão aceitar 580 migrantes por dia no seu território.

Viena acredita que, se a pressão sobre a Grécia se tornar insustentável, convencerá Berlim a reverter a sua política de acolhimento. A alternativa, várias vezes sugerida nos últimos dias, será excluir a Grécia do espaço de livre circulação de Schengen; os países do Norte acusam a Grécia de não cumprir a obrigação de vigiar as fronteiras externas da União Europeia.

Depois de na véspera ter chamado a sua embaixadora em Viena “para consultas”, o Governo de Alexis Tsipras levou nesta sexta-feira mais longe o seu protesto: o Ministério dos Negócios Estrangeiros confirmou que o executivo recusou receber a ministra do Interior austríaca, artífice do plano para isolar a Grécia. Johanna Mikl-Leitner tinha-se disponibilizado para ir a Atenas “explicar em detalhe a posição austríaca”, depois de uma intensa troca de acusações, quinta-feira em Bruxelas, entre ela e o ministro adjunto grego da Imigração, Yannis Mouzalas. O Governo austríaco lamentou a recusa, dizendo que a ministra continua disponível para ter uma “discussão aberta” com Atenas.

O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, anunciou que se deslocará na próxima semana, entre terça e quinta-feira, a todos os países da rota dos Balcãs, para tentar "construir um consenso europeu sobre a forma de lidar com crise migratória e preparar a cimeira com a Turquia de 7 de Março", lê-se num comunicado divulgado nesta sexta-feira.

Fúria à parte, o executivo grego é obrigado a gerir a crise dentro das suas fronteiras. Das ilhas no Egeu à fronteira com a Macedónia, cresce a cada dia o número de gente ansiosa por seguir viagem e desesperada pelos entraves que encontra pela frente. Em Atenas, são cada vez mais os refugiados a dormir ao relento, contando com a ajuda da população para sobreviver.

O ministro da Navegação, Theodoris Dritsas, deu conta de um plano para “uma desaceleração controlada do movimento de refugiados entre as ilhas e o porto de Pireu”. As companhias de ferries e as agências de viagem receberam ordens para reduzir o número de imigrantes que transportam e três navios que tinham sido fretados pelo Governo para ajudar na tarefa vão ficar ancorados nas ilhas “durante dois a três dias”, mantendo as portas abertas para dar abrigo aos recém-chegados.

A decisão, que Governo diz ser “temporária”, corre o risco de complicar a situação nas pequenas ilhas, como Lesbos ou Kos, que desde o início do ano já viram chegar e partir mais de cem mil pessoas. Mas o cenário não é menos complicado no porto de Pireu – só na quinta-feira, desembarcaram ali dois mil refugiados e, com os centros de acolhimento cheios, são cada vez mais os que se abrigam por ali. Outros foram levados para um aeroporto desactivado a oeste de Atenas, onde famílias inteiras dormem agora em cobertores estendidos no chão. “Os aviões estão a bombardear as nossas casas, era perigoso ficar por lá”, contou à Reuters Rajiya Zara, mãe de três crianças e grávida de nove meses, explicando que se tivesse ficado na Síria arriscava a vida dos filhos.

A agência conta que 300 a 400 pessoas que para ali tinham sido levadas recusaram ficar no aeroporto e decidiram seguir viagem pelos próprios meios. Uma viagem que é empreendida cada vez mais a pé. Jornalistas da AFP acompanharam três grupos, de várias centenas cada um, que na quinta-feira tentavam chegar a Idomeni, na fronteira com a Macedónia, fechada para quase todos desde o fim-de-semana. “São famílias inteiras, como podemos pará-las?”, confidenciou um polícia que escoltava um grupo de 300 pessoas por uma estrada no centro da Grécia.

Num centro de acolhimento junto à fronteira, sobrelotado e sem condições, estão já mais de três mil pessoas, entre eles muitos afegãos, a quem a Macedónia recusa entrada, alegando restrições impostas pela Croácia e a Sérvia. Depois de confrontos junto à fronteira, as autoridades gregas encaminharam centenas de pessoas para centros de abrigo em Atenas e Salónica, mas muitos fizeram-se de novo à estrada, mesmo sabendo que a sorte poderá não ser diferente desta vez – quinta-feira a Macedónia autorizou apenas a entrada de cem pessoas.

“Quero ir para a Alemanha”, assegura Nadershah Ahmedi, um estudante afegão de 18 anos. “Quando chegámos à Grécia, disseram-nos que as fronteiras com a Macedónia estavam fechadas para nós. Porque é que os sírios e os iraquianos passam e não nós?”

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