Grécia fortemente criticada em reunião do Eurogrupo

Yanis Varoufakis garante que tem havido convergência, mas o presidente do Eurogrupo avisa que o tempo se está a esgotar.

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Yanis Varoufakis esta sexta-feira em Riga REUTERS/Ints Kalnins

Yanis Varoufakis garantiu que nas últimas semanas houve uma grande convergência nas negociações, mas da reunião do Eurogrupo realizada esta sexta-feira em Riga, na Letónia, as notícias que saíram foram de um clima de forte crítica ao ministro grego das Finanças por parte dos seus colegas do resto da zona euro.

A agência Bloomberg avança que na reunião do Eurogrupo, que durou um pouco mais de tempo do que o esperado, a discussão sobre a situação grega conduziu a que diversos ministros criticassem abertamente a forma como Yanis Varoufakis e o governo grego têm vindo a actuar. Acusaram-no de seguir uma estratégia de perda de tempo muito perigosa e mostraram o seu descontentamento pelo facto de o primeiro-ministro grego ter tentado, junto de Angela Merkel, “passar por cima” das decisões que o Eurogrupo tem de tomar em relação ao programa grego.

Os membros do Eurogrupo deixaram também claro que não estão disponíveis para aceitar uma concessão parcial do empréstimo que resolvesse as necessidades de financiamento de curto prazo da Grécia.

Na conferência de imprensa que se seguiu à reunião, o presidente do Eurogrupo, o holandês Jeroen Dijsselbloem foi questionado se tinha havido um ataque a Varoufakis por parte dos seus colegas no encontro. Dijsselbloem não negou: “Tenho de ser franco, foi uma discussão muito crítica”, disse aos jornalistas.

O presidente do Eurogrupo salientou por diversas vezes que “o tempo se está a esgotar” para a Grécia, e embora tenha referido a existência de alguns progressos, afirmou que se mantém “grandes, grandes problemas”. “Temos vindo a esperar para hoje ouvir sobre um resultado positivo e um acordo, para que pudéssemos tomar uma decisão, mas ainda estamos muito longe dessa possibilidade”, afirmou.

A seguir, Yanis Varoufakis deu a sua conferência de imprensa, tentando passar uma mensagem de maior optimismo. O ministro grego afrimou que “houve uma clara indicação de que o processo de negociações convergiu nas últimas semanas”. Duas áreas de convergência referidas por Varoufakis são a das privatizações e a da reforma do sistema de justiça.

No entanto, em questões como a das penhoras de imóveis pelos bancos ou da meta para o excedente orçamental primário reconheceu a existência de diferenças entre o governo grego e a troika. E confirmou que a Grécia defende a “entrega parcial” do empréstimo nesta fase, em troca de “uma lista de reformas mais curta”.

Dizendo sempre que Atenas está aberta a quaisquer sugestões que permitam acelerar o processo de negociações, Varoufakis disse que um acordo era inevitável. “O acordo vai ser difícil, mas acontecerá, e rapidamente porque não há qualquer outra saída”, disse.

A mensagem de Varoufakis
Antes da reunião, o ministro grego já tinha exposto as suas ideias num texto publicado em alguns jornais e no seu blogue.

“A Grécia e os seus parceiros europeus e internacionais já concordaram em muita coisa”, escreveu, defendendo que o actual desacordo com os nossos parceiros é ultrapassável”. E para reforçar essa posição garantiu que o seu Governo está pronto para concessões que antes não contemplava: “racionalizar o sistema de pensões (limitando, por exemplo, as reformas antecipadas), continuar a privatização parcial de bens públicos, criar uma comissão orçamental completamente independente”.

O ministro escreveu também que “o sistema fiscal tem de ser alterado, e as autoridades tem que ser livres de influência política e das empresas” – um dos últimos responsáveis pelo sistema fiscal demitiu-se no ano passado, dizendo depois que tinha sido alvo de ameaças e pressão política.

Mas traçou igualmente uma linha vermelha no que pode fazer: “o mercado de trabalho foi devastado pela crise e está profundamente segmentado, sem crescimento de produtividade”, disse Varoufakis, sublinhando que não é possível levar a cabo mais cortes nos salários e nas pensões, como desejam os credores.

Rejeitou ainda o que classificou como “a armadilha da austeridade”, ao fazer depender as metas orçamentais de um objectivo predeterminado para o rácio da dívida face ao Produto Interno Bruto (PIB). Em vez disso, o ministro grego das Finanças propõe “um plano de longo prazo baseado em previsões razoáveis em relação aos excedentes primários consistentes com as taxas de crescimento e expansão de exportações que possam estabilizar a economia grega e a relação dívida-PIB”.

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