Grécia faz concessões aos credores em dia de Eurogrupo

Ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, admite limitar reformas antecipadas e levar a cabo privatizações.

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Varoufakis sorri à chegada à reunião do Eurogrupo em Riga: a Grécia admite algumas concessões mas estabelece algumas "linhas vermelhas" Ints Kalnins/Reuters

O ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis, admitiu várias concessões aos credores internacionais, num post no seu blogue no dia em que se reúne o Eurogrupo, em Riga, para conversações sobre o plano de reformas da Grécia que os credores querem ver antes de darem a última tranche do empréstimo.

Varoufakis nota que “a Grécia e os seus parceiros europeus e internacionais já concordaram em muita coisa”. “O actual desacordo com os nossos parceiros é ultrapassável”, diz. Assim, o seu Governo está pronto para concessões que antes não contemplava: “racionalizar o sistema de pensões (limitando, por exemplo, as reformas antecipadas), continuar a privatização parcial de bens públicos, criar uma comissão fiscal completamente independente”.

O ministro diz também que “o sistema fiscal tem de ser alterado, e as autoridades livres de influência política e das empresas” – um dos últimos responsáveis pelo sistema fiscal demitiu-se no ano passado, dizendo depois que tinha sido alvo de ameaças e pressão política.

Mas traça uma linha vermelha no que pode fazer: “o mercado de trabalho foi devastado pela crise e está profundamente segmentado, sem crescimento de produtividade”, disse ainda Varoufakis, sublinhando que não é possível levar a cabo mais cortes nos salários e nas pensões, como desejam os credores.

Rejeitou ainda o que classificou como “a armadilha da austeridade”, ao fazer depender as metas orçamentais de um objectivo predeterminado de relação de dívida com o Produto Interno Bruto (PIB). Em vez disso, o ministro grego das Finanças propõe “um plano de longo prazo baseado em previsões razoáveis em relação aos excedentes primários consistentes com as taxas de crescimento e expansão de exportações que possam estabilizar a economia grega e a relação dívida-PIB”.

O encontro de Riga dos responsáveis das Finanças dos ministros da zona euro desta sexta-feira era tido como o prazo final para um acordo entre a Grécia e a troika de credores, mas as esperanças foram decrescendeo nas últimas semanas e já ninguém esperava que daqui saísse um consenso.

O ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, repetiu à chegada o que tem dito ultimamente: que havia muito poucas expectativas para um acordo nesta reunião, ou ainda durante o mês de Abril. Algumas fontes antecipavam um possível encontro excepcional do Eurogrupo antes do final do mês, outras diziam que esta reunião decorreria apenas como esperado em Maio, já depois de Atenas ter tido que pagar mais uma prestação do empréstimo ao FMI quando os seus cofres se esvaziam (sinal disso foi a controversa medida do Executivo de Alexis Tsipras de obrigar entidades locais a cederem qualquer reserva de tesouraria ao banco central).

Sensação de urgência
Apesar de todas as declarações de que não havia um acordo iminente, os mercados estavam a reagir com optimismo à possibilidade de um acordo mais tarde, quando os media começam a mencionar cada vez mais como a data do prazo final já não Maio mas Julho, quando a Grécia tem de pagar uma grande prestação ao Banco Central Europeu.

Caso não consiga pagar, surge a hipótese de um “acidente grego”, em que um incumprimento de um dos pagamentos levaria a uma saída da Grécia do euro não propositada, mas num caso em que as negociações se arrastassem e nenhum lado cedesse esperando um volte-face de última hora do outro. Mas também cada vez mais economistas antecipam uma hipótese de a Grécia se poder manter no euro mesmo em incumprimento.

A chanceler alemã, Angela Merkel, que se reuniu com o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, à margem de um encontro extraordinário sobre os migrantes que chegam de barco à Europa e morrem no Mediterrâneo, disse apenas que “é preciso fazer tudo para evitar” um cenário de incumprimento grego.

O líder do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, disse que “há uma grande sensação de urgência”, embora isso não queira dizer um acordo na reunião desta sexta-feira. No entanto, comentou, “espero que haja progressos e depois veremos o que nos trazem as próximas semanas.”

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