Gravações ocultas fazem cair mais um ministro brasileiro

Responsável pelo ministério de combate à corrupção na administração pública, Fabiano Silveira é a segunda baixa no Governo interino de Michel Temer em apenas uma semana.

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Manifestação a exigir a demissão de Fabiano Silveira António Cruz/Agência Brasil/AFP

Em apenas uma semana, o novo Presidente interino do Brasil, Michel Temer, perdeu o seu segundo ministro. O ministro da Transparência, Fiscalização e Controle, Fabiano Silveira, pediu a demissão esta segunda-feira à noite, após a divulgação de uma gravação oculta em que ele critica  a Operação Lava-Jato, a investigação que expôs o maior escândalo de corrupção do país, envolvendo a companhia estatal Petrobras e as principais empresas de construção do Brasil.

A saída de Fabiano é a segunda baixa no novo Governo, que entrou em funções há apenas 18 dias. Há uma semana, um dos ministros da mais alta confiança de Michel Temer, Romero Jucá, também se demitiu quando a imprensa brasileira revelou as suas declarações, gravadas sem o seu conhecimento, de que a Lava-Jato devia ser travada e de que haveria uma articulação – um “pacto” – entre várias instituições, incluindo o Supremo Tribunal, para afastar Dilma Rousseff da Presidência.

Tanto Jucá quanto Fabiano Silveira foram gravados por Sérgio Machado, ex-presidente de uma empresa subsidiária da Petrobras, a Transpetro, e um ex-senador com ligações ao PMDB, partido de Michel Temer. Pressionado pelos investigadores da Lava-Jato, Machado negociou há meses um acordo de colaboração com as autoridades e gravou conversas comprometedoras com figuras da cúpula do PMDB, incluindo o presidente do Senado, Renan Calheiros, e o ex-Presidente da República, José Sarney, sem o conhecimento destes.

Nas gravações divulgadas no domingo à noite pelo programa Fantástico, da TV Globo, Fabiano Silveira, que estava à frente do ministério responsável pelo combate à fraude e corrupção na administração pública, dá conselhos a Renan Calheiros e Sérgio Machado, ambos investigados pela Lava-Jato, sobre como devem defender-se e dificultar o trabalho dos procuradores do Ministério Público. A conversa foi gravada em Fevereiro, na casa de Renan Calheiros, antes de Fabiano Silveira ser ministro.

Segundo a imprensa brasileira, Michel Temer estaria decidido a manter o ministro, por avaliar que o seu caso era menos grave do que o de Romero Jucá. Mas a revelação das gravações gerou protestos de funcionários do ministério, que impediram Silveira de entrar no edifício; 26 chefes regionais do ministério ameaçaram entregar os seus cargos por não reconhecerem autoridade a Silveira. A Transparência Internacional, ONG de combate à corrupção, exigiu a saída do ministro. A queda de Silveira fragiliza ainda mais um Governo que tem tido dificuldades em causar boa impressão, e cuja legitimidade tem sido questionada por uma parte da sociedade.

Na carta de demissão que apresentou na segunda-feira, Fabiano Silveira diz que “a melhor decisão é deixar o ministério”, apesar de não existir nada que “atinja” a sua conduta. Sobre as declarações reveladas na gravação, diz que se limitou a emitir “comentários genéricos e simples opinião” num contexto de “informalidade”.

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