Entre a fome extrema e a obesidade, FAO e OMS dizem que "alguma coisa não está a correr bem”

Quando importar alimentos produzidos industrialmente fica mais barato do que cultivar localmente, “alguma coisa não está a correr bem”, disse a directora-geral da Organização Mundial de Saúde.

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Os números da fome diminuiram 21% desde 1992 Barry Malone/Reuters

Ministros e altos funcionários de mais de 170 países comprometeram-se nesta quarta-feira a lutar contra a malnutrição e aprovaram recomendações para combater a escassez de alimentos, a falta de nutrientes e a obesidade. “Uma parte do nosso mundo desequilibrado ainda morre de fome. A outra come até ficar obesa, de tal forma que a esperança de vida recua de novo”, disse, sintetizando os problemas, a directora-geral da OMS, Margaret Chan, na abertura da II Conferência Internacional sobre a Nutrição (CIN2), em Roma.

A “Declaração de Roma sobre Nutrição” e o “Quadro de Acção” culminaram um ano de intensas negociações e foram aprovados logo no primeiro dos três dias da conferência organizada pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) e pela OMS (Organização Mundial de Saúde).

Mas o director-geral da FAO, José Graziano da Silva, afirmou que “não podemos ficar por aqui”. “É nossa responsabilidade transformar estes compromissos em resultados concretos. Espero que, durante esta conferência, os vossos ministros anunciem objectivos que vão além do que já aqui foi fixado”, disse. “Temos os conhecimentos, competência e recursos para acabar com todas as formas de malnutrição. Há comida suficiente para que todos se alimentem correctamente.”

Margaret Chan chamou a atenção para os problemas e riscos da agricultura industrializada. “O sistema alimentar mundial não está a funcionar, por causa da dependência de uma produção industrializada de alimentos cada vez mais baratos e piores para a saúde”, disse. Um exemplo dado pela directora-geral da OMS foi o de cidades da África e da Ásia para as quais fica mais barato importar alimentos produzidos de forma industrial do que comprar alimentos frescos cultivados em zonas rurais próximas.

“Devemos perguntar-nos, porquê? Alguma coisa não está a correr bem”, disse, apelando aos governantes para serem criativos e aos cientistas, sociedade civil e sector privado para que encontrem soluções para fazer chegar alimentos a quem não os tem e corrigir os erros de uma alimentação incorrecta que favorecem patologias como a diabetes, a obesidade e as doenças cardiovasculares.

Ainda que os números da fome tenham diminuído 21% desde 1992, mais de 800 milhões de pessoas ainda não têm comida. Em 2013, a falta de nutrientes provocava atrasos no crescimento a 161 milhões de crianças com menos de cinco anos e a falta de peso afectava 51 milhões. A subnutrição está associada a quase metade da mortalidade infantil – cerca de 2,8 milhões de crianças por ano.

Ao contrário, os dados internacionais indicam que a obesidade afecta 500 milhões de pessoas e que 1,5 milhões têm peso a mais, sendo 42 milhões destes menores de cinco anos.

Entre as 60 recomendações constantes do “quadro de acção” aprovado em Roma incluem-se o investimento no acesso universal a água potável, o apoio à produção local e a diversificação de culturas.

A conferência prolonga-se até sexta-feira, na sede da FAO. O Papa Francisco é esperado na manhã desta quinta-feira.

 

 

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