Governo ucraniano faz ultimato para manifestantes desocuparem edifícios públicos

Estados Unidos e vários países europeus aconselham autoridades de Kiev a respeitar direitos a protestos pacíficos.

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Manifestantes não arredam pé da praça da Independência, em Kiev REUTERS/Stoyan Nenov

Sem sinal de esmorecimento dos protestos contra o Governo do Presidente Viktor Ianukovich, as autoridades ucranianas deram um prazo de cinco dias para os manifestantes pró-europeus abandonarem os edifícios governamentais que ocuparam em Kiev, mas comprometeram-se a não recorrer à força no cumprimento do ultimato.

Com dezenas de diplomatas internacionais na capital ucraniana para uma cimeira ministerial da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), o primeiro-ministro Mikola Azarov esforçou-se por desvalorizar a contestação na rua, descrevendo os protestos como “um desenvolvimento normal num país onde a democracia está estabelecida” e garantindo que o seu Governo está disponível para dialogar com os partidos de oposição.

Os representantes europeus e dos Estados Unidos aconselharam o Governo a “respeitar” o direito dos cidadãos a “manifestarem-se pacificamente”, e a “atender” as aspirações da população em vez de a “desiludir”, sublinhou a vice-secretária de Estado norte-americana, Victoria Nuland. “Os olhos do mundo estão voltados para a Ucrânia”, assinalou o ministro britânico para os assuntos europeus, David Liddington.

No entanto, algumas declarações de líderes internacionais acabaram por deitar mais achas na fogueira. Azarov reagiu de forma bastante agressiva às palavras do ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Guido Westerwelle, que na quarta-feira esteve reunido com os manifestantes da praça da Independência e exprimiu “particular preocupação” com a violência policial durante os comícios a favor da integração europeia. “Nazis, extremistas e criminosos não são, de forma nenhuma, aliados da ‘euro-integração’”, terá distinguido o chefe do executivo ao ministro alemão, referindo-se aos participantes nos protestos contra a suspensão das negociações.

"Histeria europeia"
Também presente na cimeira, o chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, considerou exagerada a reacção dos dignitários europeus à suspensão das negociações de um pacto político e comercial com a Ucrânia. “A actual tensão [em Kiev] está ligada à histeria dos europeus relativamente a uma decisão tomada pelo Presidente da Ucrânia, que no pleno uso dos seus poderes soberanos considerou que este não era o momento certo para assinar um acordo que as autoridades e vários especialistas entendiam ser desvantajoso”, disse Lavrov à agência russa Itar-Tass.

O primeiro-ministro ucraniano – cuja demissão tem sido exigida pela oposição e pelos manifestantes – tem insistido na tese de que as conversas com Bruxelas foram suspensas e não abandonadas. Segundo Azarov, Kiev fez uma “pausa estratégica” na negociação para poder concentrar-se na solução de problemas mais imediatos de tesouraria.

O Presidente Viktor Ianukovich, que viajou para a China em busca de financiamento para a economia ucraniana, assinou vários acordos nas áreas da agricultura, infraestruturas e energia que, estimou, correspondem a um investimento de cerca de 8 mil milhões de dólares.

No regresso a Kiev, o Presidente terá de decidir se avança com uma recomposição do elenco governativo. Mas a substituição de ministros poderá não ser suficiente: na rua, reclama-se a dissolução do Parlamento e a convocação de eleições legislativas.
 
 

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