Governo sírio está a espalhar as armas químicas por todo o país

Relatório da Human Rights Watch diz que tropas de Assad fizeram um massacre sectário em Maio — executaram pelo menos 248 sunitas.

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Lavrov, Brahimi e Kerry - a diplomacia remete para segundo plano a guerra na Síria Larry Downing/Reuters

O Exército sírio está a movimentar as suas armas químicas para 20 localizações diferentes, diz o jornal americano The Wall Street Journal, que explica a acção como uma manobra para dificultar a sua localização se o plano russo para a destruição deste arsenal vier a ser aprovado.

As fontes do Journal (que falou com altos responsáveis americanos e do Médio Oriente, não esclarece de que países) especificaram que a Unidade 450, um grupo de elite do Exército ao serviço do Presidente Bashar al-Assad, está a realizar a operação que também pode "complicar os hipotéticos bombardeamentos americanos" na Síria, caso estes venham a realizar-se.

Os Estados Unidos pretendem realizar ataques punitivos contra Assad por ter concluído que foram as suas tropas que, no dia 21 de Agosto, massacraram mais de mil pessoas com armas químicas. O governo de Damasco e o russo negaram a acusação e acusaram a oposição — que há mais de dois anos tenta derrubar o regime, travando-se uma guerra no país — de o fazer para provocar a intervenção militar do Ocidente na Síria. Um plano russo para a destruição das armas químicas de Damasco está em discussão entre os EUA e a Rússia em Genebra — esta sexta-feira realiza-se a segunda ronda de discussões e aos chefes da diplomacia russa e americana, respectivamente Serguei Lavrov e John Kerry, junta-se o enviado das Nações Unidas e da Liga Árabe para a questão síria, Lakhdar Brahimi.

De acordo com o jornal americano, os militares sírios começaram a mudança das armas químicas para novas localizações há meses e na semana passada ainda o estavam a fazer. O arsenal, que não estava guardado todo junto mas que se repartia por poucas estruturas militares, estará agora em 20 localizações em várias regiões da Síria e no final da operação estará em 50, diz o Wall Street Journal.

As fontes dizem que os serviços secretos americanos e israelitas estão a monitorizar estas mudanças, sabendo quais as zonas da Síria para onde as armas foram levadas. "Mas sabemos hoje muito menos sobre as armas químicas sírias do que sabíamos há seis meses", admitiu uma fonte.

Bashar al-Assad confirmou na quinta-feira, durante uma entrevista a uma televisão russa, que a Síria possuiu um arsenal de armas químicas (até aí os sírios não tinham confirmado ou desmentido) e aceitou entregá-las para destruição, como exige o plano russo. Porém, não aceita dar esse passo unilateral e exigiu que os EUA retirem a ameaça dos ataques aéreos antes de se comprometerem com o desarmamento.

Relatório denuncia novo massacre
No terreno, a guerra prossegue e, de acordo com um relatório das Nações Unidas divulgado esta semana, está cada vez mais violenta. Ambas as partes cometem crimes de guerra com mais frequência e, nesta sexta-feira, a organização de direitos humanos Human Rights Watch (HRW) denunciou que as tropas do regime de Assad executaram, nos dias 2 e 3 de Maio, pelo menos 248 pessoas nas cidades de Bayda e Banias.

A HRW diz que o número de executados deverá ser maior e disse que esta foi "uma das mais mortíferas execuções em massa desde o início do conflito na Síria". A organização sublinhou que este relatório sobre Bayda e Banias recorda ao mundo que a guerra prossegue e que outras armas, além das químicas, estão a ser usadas.

"Enquanto a atenção do mundo está voltada para a questão de o governo sírio não voltar a usar armas químicas contra a sua população, não devemos esquecer que as tropas desse mesmo governo usam armas convencionais para chacinar civis", disse Joe Stork, director para o Médio Oriente da Human Rights Watch, citado pelo International Herald Tribune.

"Os sobreviventes contaram-nos histórias dilacerantes sobre a forma como os seus familiares e outras pessoas desarmadas foram abatidas pelas forças governamentais e por grupos pró-governo."

Bayda e Bania são cidades maioritariamente sunitas, mas as zonas em seu redor são de maioria alauíta, a minoria religiosa a que pertence a família Assad (os alauítas são um ramo xiita). A HRW classifica estas execuções como "massacre sectário".

 
 
 

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