Governo norte-americano recolhe dados de telemóveis a partir de aviões comerciais

Sistema presente em aviões que percorrem a totalidade do território norte-americano permite captar informações únicas presentes nos telemóveis comuns.

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Desde o início do ano, a Deco recebeu 75 queixas sobre o desbloqueamento de telemóveis Pedro Cunha

As autoridades norte-americanas conseguem aceder a informações de telemóveis em praticamente todo o território do país, através de mecanismos que simulam torres de emissão presentes em aviões comerciais. Segundo uma investigação do Wall Street Journal (WSJ) este é o sistema mais sofisticado conhecido da utilização de tecnologia para efeitos de segurança.

De acordo com várias fontes ouvidas pelo jornal, o programa do Departamento de Justiça norte-americano está em vigor desde 2007 e abrange aviões Cessna a partir de, pelo menos, cinco aeroportos e que cobrem quase todo o país. Cada aeronave é equipada com um aparelho denominado “dirtbox” que emite sinais com a mesma frequência dos que são transmitidos pelas torres comuns das empresas de telecomunicações.

Esses sinais implicam uma resposta por parte de cada telemóvel que, desta forma, fornece as suas informações únicas de registo. Diz o WSJ que mesmo os aparelhos com encriptação estão sujeitos a este processo. Assim que um telemóvel é sinalizado, o sistema consegue determinar a sua localização num raio de três metros.

Sem avançar qualquer número concreto, as fontes ouvidas asseguram que durante cada voo em que o mecanismo é accionado são detectadas informações de dezenas de milhares de telemóveis.

Contactado pelo jornal, um responsável do Departamento de Justiça não confirmou nem negou a existência do programa, referindo apenas que abordar estas matérias seria prejudicial, pois ajudaria os alvos do sistema a ter noção das capacidades de vigilância das agências norte-americanas.

O grande número de potenciais telemóveis pessoais que podem ser alcançados por este método levanta questões sobre a violação da privacidade – lembrando o debate em torno da vigilância maciça operada pela Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla inglesa), revelada pelo antigo analista Edward Snowden.

“É indesculpável e é provável, tendo em conta a extensão com que os juízes estão a autorizar, que nem sequer tenham ideia da escala disto”, disse ao WSJ Christopher Soghoian, da American Civil Liberties Union, uma organização de defesa dos direitos e liberdades individuais.

O objectivo do programa é apenas obter informações sobre pessoas suspeitas de crimes ou que representem uma ameaça à segurança interna. No entanto, a grande maioria dos telemóveis que são captados pertence a cidadãos comuns. É incerto até que ponto são tomadas as providências necessárias para que a informação obtida sobre pessoas não suspeitas é efectivamente destruída.

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