Governo moçambicano e Renamo retomam diálogo interrompido há três meses

“Acho que a nossa expectativa, e creio que também é a da Renamo não é ver quem ganhou ou perdeu. A nossa expectativa é que desse debate ganhem todos os moçambicanos", disse o ministro dos Transportes.

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Centro de conferências Joaquim Chissano: desta vez a Renamo esteve presente Nelson Garrido

O Governo moçambicano e a Renamo, maior partido da oposição e antigo movimento rebelde, retomaram esta segunda-feira o diálogo político, em Maputo. Mais de três meses depois do último encontro, delegações das duas partes estiveram reunidas durante cerca de meia hora.

Na reunião foi discutida a presença de mediadores e observadores do processo de diálogo iniciado em Maio de 2013, que não produziu frutos. O último encontro das negociações para dar resposta a queixas do partido da oposição sobre a composição dos órgãos eleitorais e partidarização do Estado tinha ocorrido em meados de Outubro. Nos últimos meses, a comunicação foi feita por escrito.

Ao mesmo tempo, os actos de guerra sucederam-se. Forças governamentais ocuparam sedes e bases da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), incluindo Satungira, onde vivia o líder da oposição, Afonso Dhlhakama. A antiga guerrilha multiplicou ataques a colunas de carros, principalmente no centro do país.

Questionado sobre se a presença na mesa de negociações significaria o fim dos ataques, o chefe da delegação da Renamo, o deputado Saimone Macuiana, disse que o partido foi esta segunda-feira ao Centro de Conferências Joaquim Chissano para debater assuntos relacionados com a mediação. “Outros objectos não foram discutidos, mas quando for a altura iremos avisar.”

No encontro, o Governo da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) mostrou-se, segundo a agência noticiosa estatal AIM, receptivo à proposta da Renamo de incluir no diálogo observadores nacionais, nomeadamente o bispo da Igreja Anglicana Dom Dinis Sengulane e o académico Lourenço do Rosário.

Em seguida deverão ser discutidos “os critérios, os termos de referência da participação de terceiros”, o que criará “condições muito mais positivas para o avanço do diálogo”, explicou o ministro dos Transportes e Comunicações, Gabriel Muthisse. O representante do executivo classificou o espírito das duas delegações como positivo.

“Acho que a nossa expectativa, e creio que também é a da Renamo não é ver quem ganhou ou perdeu. A nossa expectativa é que desse debate ganhem todos os moçambicanos. O nosso foco é que os moçambicanos ganhem, possam produzir e viver num clima de paz”, disse.

“Do trabalho que fizemos, de acordo com a agenda do dia, fica claro que é importante a presença da mediação e de observação, então iremos encontrar em conjunto a efectivação, com vista integrar a participação de todos. Como se sabe todo mundo está interessado em ajudar ao povo moçambicano a alcançar uma solução pacífica”, disse Saimone Macuiana, que afirmou esperar, nos próximos dias, avanços no processo.

O jornal A Verdade notou que, no final, as duas delegações estavam satisfeitas embora tivessem continuado a usar expressões diferentes para se referirem às figuras que deverão ser incluídas no diálogo. A Renamo falou em “mediadores e observadores”, o Governo referiu-se a observadores ou simplesmente a “terceiros”.

Nas autárquicas de Novembro, boicotadas pela Renamo, a Frelimo foi confirmada como principal partido moçambicano, mas as eleições mostraram também a subida de um terceiro partido, o MDM (Movimento Democrático de Moçambique), que agora preside a três capitais provinciais e conseguiu importantes votações em bastiões da Frelimo, como Maputo e Matola.

Para Outubro estão marcadas as eleições gerais, legislativas e presidenciais, em que será eleito novo Parlamento e novo chefe de Estado. Armando Guebuza, actual Presidente da República, não pode candidatar-se a um terceiro mandato. A Frelimo deve decidir no final do mês quem apresenta para concorrer à sucessão.

Os pré-candidatos do partido governamental são o primeiro-ministro, Alberto Vaquina, o ministro da Agricultura, José Pacheco, e o ministro da Defesa, Filipe Nyussi. A escolha será feita pelo comité central, no início de Março. Todos são próximos do actual Presidente, o que, segundo a imprensa moçambicana, está a causar mal-estar no seio do partido.

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