Governo interino da Ucrânia acusa Rússia de “invasão armada” na Crimeia

Ucrânia pede extradição de Ianukovich e emite mandados de captura para dez ex-dirigentes políticos.

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Homens armados no exterior do aeroporto da capital da Crimeia David Mdzinarishvili/Reuters

O ministro interino do Interior da Ucrânia acusou as forças russas de “invasão armada” depois da ocupação de dois aeroportos na região da Crimeia.

Membros de uma milícia pró-russa ocuparam esta sexta-feira de manhã parte do principal aeroporto da província. As autoridades ucranianas dizem ainda que forças militares russas bloquearam o aeroporto militar de Sebastopol, a cidade portuária onde a Rússia tem a sua Frota do Mar Negro estacionada. Os russos negam qualquer envolvimento: "Nenhuma unidade da Frota do Mar Negro avançou para o aeroporto, muito menos participa em qualquer bloqueio", diz um porta-voz.

“Considero o que se está a passar uma invasão armada e uma ocupação que viola todos os acordos e as normas internacionais”, escreveu o ministro Arsen Avakov na sua página de Facebook.

Ao início da tarde, as autoridades ucranianas voltaram a controlar os aeroportos, afirmou o director do Conselho Nacional de Segurança, Andrei Parubi. "Houve uma tentativa de tomada dos aeroportos de Simferopol e de Sebastopol, mas voltaram agora ao controlo pelas forças de segurança ucranianas", revelou Parubi.

Entretanto, o chefe das Forças Armadas, Iuri Ilin, foi demitido pelo Presidente interino, Oleksander Turchinov, segundo a BBC. Ilin foi nomeado ainda por Viktor Ianukovich durante os confrontos de há duas semanas. Na altura especulava-se que o exército poderia estar perto de ser chamado a intervir.

Vários dos homens que entraram nos aeroportos acabaram por sair, embora alguns se tenham mantido, segundo várias agências. Há também relatos da aproximação de helicópteros militares russos.

“Estou com a Milícia do Povo da Crimeia”, disse à Reuters um homem que se identificou como Vladimir. “Estamos a trabalhar para manter a ordem no aeroporto. Vamos receber os aviões com um sorriso.”

Segundo a AFP, para além destes milicianos, vestidos com roupas civis, há homens, com uniformes e armados com Kalashnikovs, que patrulham o exterior do aeroporto de Simferopol. Estes não permitem que os jornalistas se aproximem, ao contrário dos milicianos. “Estamos aqui para manter a ordem pública e não bloqueados nada. Mas se os bandidos nacionalistas vierem vamos combatê-los.”

Apelo aos EUA e ao Reino Unido

O Parlamento ucraniano votou entretanto uma resolução, que vai fazer chegar ao Conselho de Segurança da ONU, onde apela aos Estados Unidos e ao Reino Unido para garantirem a sua soberania – estes países, tal como a Rússia, assinaram o Memorando de Budapeste, em 1994, acordo que dava à Ucrânia a garantia de independência em troca da sua renúncia a armas nucleares.

O texto aprovado pelos deputados pede a norte-americanos e britânicos que “confirmem os seus compromissos” com a Ucrânia e lancem “consultas imediatas para fazer baixar a tensão no país”.

A Comissão Europeia fez apelos para que seja encontrada uma "solução política" e que as partes envolvidas tenham um comportamento "contido e moderado". "A situação na Crimeia requer uma solução política que só pode ser alcançada através da via do diálogo entre as diferentes partes envolvidas", afirmou um porta-voz da comissão.

A Crimeia é a única região da Ucrânia onde a maioria da população é de origem russa e as tensões estão em crescendo desde sábado, quando o Presidente Viktor Ianukovich desapareceu e a oposição tomou o poder. Na quinta-feira, um comando pró-russo ocupou já a sede do governo e do parlamento da região autónoma, enquanto Moscovo colocava em alerta de combate os seus aviões junto à fronteira ocidental.

Os deputados regionais aprovaram a marcação de um referendo sobre a autonomia da província, justificando a medida como as ameaças à paz na Crimeia, fruto “da tomada inconstitucional do poder na Ucrânia por nacionalistas radicais, com o apoio de grupos criminosos armados”.

Extradição para Ianukovich

Num outro desafio aos novos líderes de Kiev, Ianukovich prepara-se para dar uma conferência de imprensa esta sexta-feira. Isso anunciou o próprio na quinta-feira, seis dias depois de ter desaparecido. “Ainda me considero o legítimo chefe de Estado ucraniano”, disse, em declarações à agência russa Itar-Tass, sem revelar o seu paradeiro mas explicando ter pedido “às autoridades russas” para garantirem à sua segurança “contra os extremistas”.

A justiça ucraniana vai pedir a extradição de Ianukovich, caso se confirme a sua presença na Rússia, anunciou esta sexta-feira o procurador-geral. Será, contudo, improvável que Moscovo aceda ao pedido da Ucrânia, alertam alguns analistas. O procurador emitiu também dez mandados de captura em nome de várias figuras da anterior administração, segundo a Reuters.

A Áustria e a Suíça congelaram as contas bancárias de vários cidadãos ucranianos suspeitos de abusos de direitos humanos, na sua maioria antigos governantes do país. Um deles será o filho de Ianukovich, Oleksander, presidente da sociedade Mako Trading, com sede em Genebra, e que tem uma fortuna calculada em 500 milhões de dólares, segundo a AFP. 

As autoridades policiais suíças lançaram também um inquérito criminal aos negócios de Ianukovich e do seu filho, sob suspeita da lavagem de dinheiro. O Ministério Público afirma que já foram iniciadas buscas a alguns escritórios em Genebra.

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