Governo indiano cria site para encontrar crianças desaparecidas

Cerca de 70 mil crianças por ano são sequestradas na Índia. Governo quer aproveitar o potencial e a rapidez na transmissão de informação da Internet e das redes sociais

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A maioira dos raptos ocorre nas zonas rurais e nos bairros mais pobres das grandes cidades MONEY SHARMA/AFP.

A ministra do Desenvolvimento para as Mulheres e as Crianças, Maneka Gandhi, apresentou esta terça-feira uma nova ferramenta para o combate ao tráfico de menores na Índia. A ideia terá mesmo sido sugerida pelo Primeiro-ministro Narendra Modi e consiste numa página de Internet, onde as pessoas podem reportar o desaparecimento de crianças, carregando ou transferindo informações, fotografias e vídeos, para a base de dados do site.

“Sentimos que era necessário criar este portal, onde as famílias podem inserir detalhes e fotografias quando uma criança desaparece”, informou Gandhi, citada pela agência Reuters, esta terça-feira, no lançamento do Khoya Paya (Perdidos e Achados), a página do Governo indiano para rastrear os menores desaparecidos. “Se alguém vir uma destas crianças, pode carregar a informação e a polícia investiga se há uma correspondência”, acrescentou a ministra, durante o evento, que também contou com a presença do Ministro da Comunicação e Tecnologia, Shri Ravi Shankar Prasad.

O tráfico de menores é um dos maiores flagelos sociais da Índia e contam-se cerca de 70 mil desaparecimentos por ano para este fim, segundo as informações do Ministério do Desenvolvimento para as Mulheres e as Crianças (MDMC), maioritariamente nas áreas pobres rurais ou nos meios urbanos desfavorecidos. A grande maioria das crianças é sequestrada ou vendida para exploração sexual ou para trabalhar para as próprias redes de tráfico.

Maneka Gandhi acredita que as redes sociais podem ter um “papel fundamental” no rastreio de crianças desaparecidas, uma vez que possibilitam uma transmissão rápida da informação e unem as pessoas à volta deste tipo de causas. Para justificar a criação do portal, a ministra relembrou o caso de Jhanvi Ahuja, uma criança de três anos que desapareceu e foi rapidamente encontrada devido a uma campanha criada no Facebook, intitulada Bring back Jhanvi (Devolvam a Jhanvi), que cedo se propagou nas redes sociais Twitter e Whatsapp, gerando uma onda de apoio de grande escala na Internet.

“É importante obter as informações relacionadas com as crianças desaparecidas, mas é igualmente importante que essas informações sejam trocadas e partilhadas rapidamente”, disse Gandhi, citada pelo Indian Express.

O Khoya Paya não é a única ferramenta on-line utilizada para localizar crianças desaparecidas. Existe um outro portal, o TrackChild, gerido pelo Ministério dos Assuntos Internos, mas destina-se à comunicação entre os vários departamentos policiais do país. Maneka Gandhi esclareceu que o novo site tem como fim a troca de informações entre o “homem comum e o Governo”. De qualquer forma, a ministra informou que o TrackChild e o Khoya Paya vão estar associados e a informação será automaticamente partilhada entre eles, assim como os dados que as pessoas possam transmitir através da linha de assistência telefónica oficial.

A criação do portal foi aplaudida pelas organizações e activistas de direitos das crianças do país. Ravi Kant, presidente de uma ONG anti-tráfico humano, citado pela Reuters, informou que a sua organização já estão a informar as populações das comunidades mais pobres sobre a utilização do portal Khoya Paya. Apesar de admitir que uma grande fatia das pessoas do subcontinente indiano não têm acesso à Internet, Kant descreve o novo site como “um bom passo para encontrarmos as nossas crianças”.

Dificuldades em encontrar os desaparecidos
Segundo as informações reveladas pela ministra Gandhi, baseadas nos dados do Gabinete nacional de registo de crimes, apenas cerca de 75 mil menores foram encontrados, entre Janeiro de 2012 e Abril de 2015, um número reduzido, tendo em conta o desaparecimento anual de 70 mil crianças. “Mesmo os melhores governos têm apenas 10% de hipóteses” de encontrar estas crianças”, confessou Gandhi. “Precisamos que as pessoas nos ajudam”, apelou.

A dificuldade em rastrear as crianças sequestradas ou desparecidas tem levado o MDMC a investir em novas formas de recolha de informação. A nova ferramenta surge para reforçar os já existentes apelos, via jornais, folhetos informativos e panfletos.

Segundo o jornal indiano Telegraph, Maneka Gandhi solicitou, há uns meses atrás, que os viajantes e passageiros dos comboios, um dos meios de transporte mais utilizados na Índia e onde as crianças sequestradas costumam exercer as suas novas “actividades”, reportem às autoridades, no caso de avistarem menores em condições suspeitas.

Texto editado por Joana Amado

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