Governo e rebeldes do Sudão do Sul assinam acordo de cessar-fogo

Compromisso prevê cessação total das hostilidades num prazo de 24 horas e a retoma do processo negocial para o diálogo político e a reconciliação nacional.

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Meio milhão de pessoas fugiram da violência sectária no Sudão do Sul AFP/ASHRAF SHAZLY

Representantes do Presidente do Sudão do Sul, Salva Kiir, e dos combatentes rebeldes que lançaram uma ofensiva contra o seu Governo acertaram os termos de um acordo de cessar-fogo e declararam tréguas no conflito que já fez milhares de mortos desde Dezembro.

Os termos do acordo – negociado na Etiópia sob a mediação da Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (Igad), um bloco regional africano –, prevêem a cessação das hostilidades e toda a actividade militar num prazo de 24 horas. Mas horas depois de o acordo ser assinado, o porta-voz do Exército do Sudão do Sul, Philip Aguer, dava conta das suas dúvidas quanto à disponibilidade do chamado “exército branco”, uma milícia de jovens armados da etnia nuer, para respeitar o cessar-fogo. “[O ex vice-presidente] Riek Machar está a utilizar essa força para combater o Governo, por isso temos de esperar para ver”, disse à Associated Press.

O conflito eclodiu em meados de Dezembro, cinco meses depois de Riek Machar ser afastado do Governo, acusado pelo Presidente de tentativa de golpe de Estado. O conflito começou na capital Juba, mas a violência alastrou rapidamente ao resto do território, obrigando meio milhão de habitantes a abandonar as suas casas e comunidades. O número de vítimas permanece indeterminado, mas analistas estimam que possam ascender a cerca de dez mil pessoas.

O acordo assinado em Addis-Abeba contempla ainda o regresso das duas delegações à mesa negocial a partir de 7 de Fevereiro, para alcançar um compromisso político que permita a reconciliação nacional. A delegação rebelde só aceitou prosseguir as conversações depois de o lado do Governo se ter comprometido em libertar onze aliados de Riek Machar que foram detidos em Dezembro por suspeita de envolvimento no alegado golpe palaciano contra o Presidente. Salva Kiir tinha recusado até agora retirar as queixas contra os onze, insistindo que teriam de ser sujeitos ao processo judicial.

“Os dois pontos do acordo são os ingredientes necessários para criar um ambiente propício para se conseguir a paz no país”, referiu o líder da delegação rebelde, Taban Deng, à AFP. “O nosso desejo é que possamos alcançar rapidamente um acordo mais global para pôr fim ao banho de sangue”, acrescentou o negociador do Governo, Nhial Deng Nhial.

A rivalidade política entre Salva Kiir e Riek Machar tem uma componente étnica, com o Presidente a integrar a maioria dinka do Sudão do Sul, o que deu ao conflito um carácter sectário. As Nações Unidas alertaram para atrocidades – violações, incorporação de crianças-soldados nos combates, execuções sumárias – e massacres cometidos por ambos os lados do conflito, e recolheram cerca de 76 mil pessoas em oito bases instaladas no Sudão do Sul. Os confrontos puseram em risco a produção petrolífera, que é a principal fonte de receita do país.

O secretário-geral do Conselho Norueguês para os Refugiados, Jan Egeland, comparou os crimes de guerra no Sudão do Sul com aqueles que ocorreram na Somália, e lamentou a quantidade de vítimas de “um conflito étnico em que as duas principais tribos do país parecem estar implicadas”. “Aquilo que começou por ser uma luta política entre dois homens, com solução possível através de um processo político, está a matar mulheres e crianças simplesmente porque ambos se recusam sentar e discutir”, lamentou aquele responsável, que já dirigiu a agência humanitária da ONU.

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