Governo de Merkel baixa a idade da reforma para os 63 anos

Programa da coligação CDU/SPD gera polémica por favorecer pensionistas, num dos países mais envelhecidos da Europa.

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Angela Merkel discursou sentada, por causa da queda que deu nas férias de Natal JOHN MACDOUGALL/AFP

Durante a campanha eleitoral, a CDU, o partido de Angela Merkel, denunciava os perigos para a Alemanha, um país muito envelhecido, se a idade de reforma fosse reduzida para os 63 anos, como os sociais-democratas do SPD queriam. E o SPD, por seu lado, fazia campanha contra o aumento da reforma para as mães que tivessem tido filhos antes de 1992 – um projecto caro à CDU. Por milagre da coligação de governo que junta os dois partidos, ambas as medidas fazem parte do programa apresentado no Parlamento pela chanceler Angela Merkel.

Outra novidade é a criação de um salário mínimo de 8,5 euros (brutos) à hora. “Porque ninguém com coração pode rejeitar a ideia de um salário mínimo”, afirmou Merkel. Ainda que ela própria só a contragosto tenha aceitado a ideia.

Mas a grande polémica diz respeito às reformas. No primeiro governo de grande coligação de Merkel com o SPD, de 2005 a 2009, a idade de reforma foi subindo gradualmente até aos 67 anos, para reflectir a realidade demográfica – nunca houve tantos pensionistas. No entanto, o SPD convenceu-se de que esta medida o fez perder milhões de votos, até porque os eleitores mais assíduos são os que têm entre 60 e 70 anos. Por isso fez deste tema cavalo de batalha.

Mas a ideia é muito criticada. Até Gerhard Schroeder, o chanceler social-democrata que precedeu Merkel e que lançou a Agenda 2010, de reformas para a liberalização do mercado do trabalho que produziram aquilo que se chama “o modelo alemão”, se meteu na conversa: “É um sinal absolutamente errado, em especial para os nossos parceiros europeus, a quem correctamente temos pedido reformas estruturais”, escreveu Schroeder num novo livro, do qual o jornal Bild publicou um excerto nesta quarta-feira.

Merkel mostra-se imperturbável face às críticas como a de que a reforma “instaura um desequilíbrio que desfavorece as gerações mais jovens”, feita por Ingo Kramer, presidente da federação patronal BDA. “Cada um deve fazer o que for preciso em sua casa”, argumenta a chanceler, sublinhando que só as reformas estruturais permitirão “à Europa sair da crise mais forte de sempre”.
 

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