Governo da Colômbia suspende bombardeamentos em resposta à trégua das FARC

Decisão foi anunciada pelo Presidente Juan Manuel Santos e saudada como um passo positivo para desbloquear as negociações de paz que se arrastam desde 2012.

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Governo "abranda" conflito com as FARC Jaime Saldarriaga/Reuters

O Presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, deu ordem para suspender os raides militares em território controlado pelos guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), numa medida destinada a “facilitar” a conclusão das negociações de paz para o fim de um conflito que já dura há mais de 50 anos e fez centenas de milhares de vítimas.

“Dada a declaração feita pelas FARC [que iniciaram um novo cessar-fogo unilateral de um mês há uma semana] dei ordem para a suspensão, a partir de hoje, dos bombardeamentos aéreos a acampamentos rebeldes”, anunciou Juan Manuel Santos, no sábado. “Decidimos abrandar a intensidade do conflito e reduzir significativamente as nossas acções militares. Isso quer dizer menos mortes, menos sofrimento, menos vítimas”, acrescentou o Presidente.

Santos precisou, porém, que o Exército nacional continuará a ter luz verde para actuar, com ataques cirúrgicos, contra alvos das FARC sempre que a actividade dos guerrilheiros for considerada como de “ameaça” ou “risco iminente” para a população civil, as forças de segurança ou a infra-estrutura do país, assim como em caso de “proselitismo”. “O Governo não deixará de garantir a segurança de todos os colombianos, ou de perseguir a criminalidade”, prometeu.

Para os analistas, a reciprocidade governamental ao gesto das FARC é um passo “positivo e concreto” no sentido do encerramento do processo de paz iniciado há três anos na capital cubana de Havana e marcado por avanços e recuos. Numa agenda dividida em seis pontos, já existe acordo em três. Mas ainda há posturas irreconciliáveis, nomeadamente no que diz respeito à desmobilização dos cerca de 7000 combatentes afectos à guerrilha, ou à sua possível acusação por crimes de guerra. Os negociadores das FARC já desmentiram notícias que apontavam para uma alegada exigência de imunidade judicial para todos os seus guerrilheiros. “Ninguém está a falar de impunidade em Havana. Estamos a falar de responsabilidade”, disse à AFP Ricardo Tellez, da delegação das forças rebeldes.

De ambos os lados multiplicam-se os sinais de impaciência com o impasse das negociações, que foram retomadas esta semana depois de meses de estagnação. Porém, o Presidente da Colômbia, cuja queda de popularidade é atribuída à falta de progressos no processo, mandou a sua equipa de volta para Havana com um prazo de quatro meses para obter resultados: se em Novembro não se avançar no diálogo e não houver compromissos, o Governo pondera a possibilidade de se levantar da mesa, disse.

Em meados de Julho, a cúpula das FARC fez saber que a partir do dia 20 de Julho a guerrilha “cessaria todas as acções de carácter ofensivo contra as Forças Armadas do Estado e a infra-estrutura pública e privada”. A trégua de um mês, descrita como “uma medida prática de carácter humanitário”, foi aprovada “com o propósito de encontrar, em colaboração com o Governo nacional, fórmulas eficazes para mitigar o conflito”, segundo o comunicado divulgado pelo estado maior dos rebeldes.

Esta é a segunda vez este ano que as FARC decidem unilateralmente congelar o ataque às forças governamentais. A trégua anterior, que começou em Dezembro de 2014 e prolongou por cinco meses, terminou no fim de Maio: em retaliação a uma emboscada rebelde que resultou na morte de onze soldados, a Força Aérea bombardeou um dos seus acampamentos. Desde então, a guerrilha marxista intensificou o confronto – segundo o Centro de Recursos para Análise de Conflitos (CERAC), registaram-se 145 acções ofensivas até à passada segunda-feira.

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