Governo chinês quer acrescentar seis anos à segunda guerra sino-japonesa

Xi Jinping ordenou que os livros de história sejam alterados e que acrescentem seis anos ao conflito com o Japão, que teve início em 1937 e terminou em 1945.

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Soldados chineses em 1932 Wikipedia

O Governo chinês quer que todos os livros sobre a história da China acrescentem seis anos à duração da segunda guerra sino-japonesa, que ficou conhecida entre os chineses como “a guerra de oito anos de resistência à agressão japonesa”.

Os registos históricos apontam para o início da segunda guerra sino-japonesa, entre a China e o Japão, no ano de 1937 tendo terminado oito anos depois, em 1945, com a vitória final dos EUA no conflito no Pacífico durante a II Guerra Mundial. Agora, o Governo de Xi Jinping fala da “guerra de 14 anos contra a agressão japonesa”, apontando como início do conflito o ano de 1931, diz o Guardian.

De facto, os conflitos entre japoneses e chineses iniciaram-se em 1931, tal como alega o Governo comunista de Pequim. No entanto, este primeiro período de hostilidades foi caracterizado apenas como “incidentes”. Esta expressão, utilizada principalmente pelo Império do Japão, servia para descrever um conflito que até 1937 não conheceu nenhuma declaração de guerra oficial por nenhuma das partes envolvidas.

Aproveitando a instabilidade gerada pela guerra civil chinesa, que se iniciou em 1927, e que daria, anos mais tarde, à origem de Taiwan e a todas as tensões que duram até hoje, o Japão invadiu e anexou a Manchúria chinesa e a península da Coreia. Assim começaram os conflitos que nunca foram apelidados de guerra em larga escala, principalmente devido ao facto de o Japão querer evitar uma intervenção dos EUA ou do Reino Unido, numa altura em que a tensão na Europa, com ascensão do regime nazi, subia de tom.

A guerra propriamente dita só se iniciou em 1937 com aquele que ficou conhecido como o incidente da “Ponte de Marco Polo”. Nesse mesmo ano, as forças do Partido Comunista chinês e dos nacionalistas do Kuomintang fizeram uma pausa na guerra civil para unirem esforços contra a invasão japonesa. É a partir deste momento, aquando do início oficial da guerra, que se contabiliza o conflito sino-japonês.

Agora Xi Jinping voltou às origens dos primeiros “incidentes” para ordenar que os livros de história sejam alterados, datando a guerra entre 1931 e 1945. A decisão, puramente simbólica, pode não ser vista com bons olhos no Japão.

O conflito entre o Japão e China perdura no tempo, não só pela brutalidade mas também devido às múltiplas tentativas, por parte de ambas as partes, de tentar reescrever alguns pormenores da história. Por exemplo, o Governo japonês sofreu, a certa altura, críticas por tentar rever os livros de história para remover ou alterar os relatos da brutalidade e agressão do império nipónico durante as hostilidades. Em 2007, o actual Governo do primeiro-ministro Shinzo Abe tentou também que fossem alteradas as referências a "suicídios forçados" dos soldados do império durante a segunda grande guerra.

O número de vítimas no chamado massacre de Nanking foi igualmente tema de discórdia. Ocorrido em 1937, o exército nipónico ocupou a cidade chinesa de Nanking tendo cometido, durante seis semanas, um assassínio em massa da população local. Pequim calcula o número de mortos em 300 mil, mas os estudiosos e historiadores japoneses consideram o número um claro exagero.

No caso de Pequim, esta aparenta ser mais uma tentativa do Presidente Xi Jinping em realçar e promover as proezas do Partido Comunista na II Guerra Mundial e na sua antecâmara. Apesar disso, grande parte dos historiadores argumenta que foram os nacionalistas do Kuomintang, e não os comunistas, a arcar com a maioria do esforço militar no conflito com o Japão, tendo inclusive iniciado esforços, antes de 1937,  para alcançar um acordo de tréguas com o Império japonês.

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