Governo catalão antecipa eleições e avança no caminho da autodeterminação

Depois da manifestação de 11 de Setembro, o presidente da Catalunha assume a independência como programa eleitoral.

Desta vez, Artur Mas não se ficou por meias palavras. "Chegou a hora de exercer o direito de autodeterminação", disse o líder catalão no discurso com que abriu o debate sobre política no parlamento da Catalunha.

Primeiro é preciso confirmar se é isso que a maioria dos catalães pretende - é o que Artur Mas quer fazer com as eleições antecipadas que anunciou para 25 de Novembro.

"Como querem que não haja eleições? Como querem que não haja eleições depois do 11 de Setembro?", perguntou aos deputados o líder da Convergência e União (nacionalistas de direita, CiU), recordando a gigantesca manifestação do dia nacional catalão, quando 1,5 milhões de pessoas marcharam em Barcelona debaixo do slogan "Catalunha, o novo Estado da Europa". "A voz da rua será a voz das urnas. Não há forma de saber se todos os que não foram estavam contra e se todos os que foram estão a favor." Para além da manifestação do dia 11, Artur Mas explicou que os acontecimentos foram precipitados pela recusa do Partido Popular, no poder em Madrid, e dos socialistas, na oposição, em debaterem o pacto fiscal aprovado pelo parlamento catalão, com o qual a região queria passar a gerir o dinheiro dos seus impostos.

PP e PSOE, disse, actuaram com uma "grande miopia política", levando-o a concluir que "a dependência prejudica cada vez mais a Catalunha como país e como povo".

Ainda antes da intervenção de Artur Mas, o Governo do PP já fizera saber que será "firme e sereno" na sua reacção. Os planos de autodeterminação da região, disse durante a manhã a vice-presidente, Soraya Sáenz de Santamaría, "só vão somar crise à crise".

A dimensão da manifestação da Diada (que assinala a derrota da região na Guerra da Sucessão, em 1714, e a integração no Estado espanhol) surpreendeu, mesmo se surge após um período de crescimento sustentado do apoio à independência, como mostram os dados do inquérito anual do Centro de Estudos de Opinião da Generalitat (governo regional): este ano, 51,1% disseram pela primeira vez que escolheriam a independência num referendo.

O aumento do apoio à solução soberanista ganhou novo fôlego com a crise. "O sentimento de injustiça no tratamento económico que a Catalunha recebe, que já era generalizado antes da crise, agudizou-se quando o governo catalão começou a ter dificuldades para financiar os serviços públicos básicos", disse ao PÚBLICO Jordi Muñoz Mendoza, investigador de Ciência Política na Universidade Autónoma de Barcelona, autor de um estudo sobre o apoio à secessão na Catalunha.

A ideia de que a região - que em Agosto se viu obrigada a pedir 5000 milhões de euros de um fundo criado por Madrid para as regiões - dá a Espanha mais do que recebe de volta tem sido permanente na boca de Artur Mas. "Se fôssemos um Estado próprio, estaríamos entre os 50 maiores exportadores do mundo", assegurou ontem, notando que a região já exporta mais para o estrangeiro do que para o resto de Espanha.

"O nosso destino é o mundo", sublinhou.

Em relação à dívida catalã, Artur Mas afirmou que mais de 75% desse valor se explica por compromissos que Madrid não cumpre face à região.

O líder catalão não deixou de referir os cortes de quase 5% que o seu executivo fez nos gastos em políticas sociais, nem os 821 mil desempregados da Catalunha, mas responsabilizou Madrid e a conjuntura internacional. Cortes, disse, "todos os governos, de todas as cores, tiverem de fazê-los, até a França" do socialista François Hollande.

Para Artur Mas, é tempo de "uma nova etapa" que "requer uma nova legitimidade". Em 2010 os catalães não lhe deram a maioria absoluta, daí sugerir: "Enfrentar um processo de autodeterminação requer que o presidente tenha uma força especial." Já "o Parlamento que sair das urnas", antecipou, "terá de tomar provavelmente a decisão mais transcendente dos últimos 300 anos".
 
 Publicada a 26 de Setembro de 2012


 
 
 
 
 
 
 

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