Governo britânico quer infantários a detectar crianças em risco de se tornarem terroristas

Os críticos da proposta, que está a levantar polémica, dizem que a ideia é impráticável e que o Governo quer tornar os professores espiões.

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Governo britânico quer identificar o terrorismo desde o berço Enric Vives Rubio

O Governo britânico, chefiado pelo conservador David Cameron, tem preparado um projecto de lei que pretende que os professores, incluindo os educadores de infância, detectem se há crianças nas suas salas que correm o risco de serem seduzidas pelo terrorismo.

O documento que menciona os infantários acompanha a Lei Anti-Terrorismo e Segurança preparada pelo Home Office (ministério do interior) e está no Parlamento, diz o jornal The Telegraph. Nele, os infantários e outros lugares onde se educam crianças de pouca idade (amas, por exemplo) são identificados como alvos, a par das restantes escolas e universidades.

Diz o texto que os professores e educadores têm "o dever" de "prevenir que qualquer pessoa corra o risco de ser arrastada para o terrorismo".

"Os governantes e os responsáveis devem garantir que o pessoal tem um treino que lhes dê capacidade e confiança para identificar crianças em risco de serem arrastadas para o terrorismo e para desafiar as ideias extremistas que possam legitimar o terrorismo e que são partilhadas por grupos terroristas". Prossegue: Os educadores e professores "devem saber onde e como identificar crianças e jovens que precisam de ajuda".

Na forma como está redigido, o documento sugere que qualquer criança, até bebés, podem vir a ser terroristas ou a ser influenciados por ideias extremistas. "É difícil percebermos como isto pode ser implementado. É impraticável. Tenho que dizer que não percebo o que se espera que os [os educadores de infância] façam. É suposto denunciarem bebés que apareçam a balbuciar coisas que pareçam extremas?", questionou o deputado conservador David Davis, em declarações ao Telegraph.

"Transformar os professores em polícias da mente e num exército involuntário de espiões não vai parar a ameaça terrorista", disse Isabella Sankey, directora da organização de defesa dos direitos humanos Liberty. "Em vez de trazer [os alunos] para o mainstream, isto vai semear desconfiança, divisão e alienar as pessoas desde muito cedo".

Um porta-voz do Home Office explicou a proposta, que está a levantar polémica: "Não pretendemos que os educadores de infância e os professores se metam na vida privada das famílias, mas esperamos que ajam se observarem comportamentos preocupantes. É importante que os verdadeiros valores britânicos sejam ensinados às crianças na idade certa. Para as crianças de tenra idade, isto vai ajudá-las a aprender o que é certo e o que é errado e ensiná-las a desafiarem as atitudes negativas e os estereótipos".
 

  



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