Governo britânico quer controlar comunicações para combater terrorismo

A ministra do Interior, Theresa May, é o rosto de um novo pacote de medidas que ressuscita antigas propostas recusadas pelos Liberais Democratas.

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A família visitou o local onde o soldado Lee Rigby foi morto na quarta-feira AFP

Depois do ataque de Woolwich a um soldado britânico na semana passada, a ministra do Interior, Theresa May, anunciou planos para avançar com uma controversa lei de controlo de mensagens e sites na Internet, conhecida como “snooper’s charter”. Uma iniciativa que o parceiro da coligação, líder dos Liberais Democratas e primeiro-ministro adjunto, Nick Clegg, recusou no passado. E continua a recusar.

Theresa May foi à televisão justificar a medida, que também é rejeitada por vários grupos de direitos civis por restringir a liberdade. E disse que milhares de pessoas no Reino Unido estão em vias de radicalização, se puderem aceder a plataformas em que são difundidas mensagens de grupos extremistas que apelam ao ódio e à divisão. “Não há dúvida de que as pessoas podem aceder a conteúdos na Internet que fomentam a radicalização.”

Designada por "snooper's charter", a lei abriria a via à recolha de informações sobre visitas na Internet e contactos por email ou Skype e ainda mensagens e telefonemas em telefones móveis pelos operadores das comunicações, mas não o acesso aos seus conteúdos, explica o jornal Independent. O Governo quer proibir sites extremistas que apelem à guerra santa na Internet.

Na mira das novas políticas defendidas por Theresa May para combater o terrorismo estão também os grupos extremistas que incitem ao ódio mesmo sem apelar à violência e os imãs que apregoam esse ódio em mesquitas e universidades. No entender da ministra, os primeiros deveriam ser banidos e os segundos impedidos de conduzir as habituais orações.

Com este pacote de medidas, o Governo respondeu pela primeira vez ao ataque do soldado Lee Rigby, na passada quarta-feira, nota o jornal The Guardian, que explica que uma comissão, liderada por Cameron, vai ser criada para avaliar as medidas anti-radicalização.

A investigação à morte de Lee Rigby prossegue com a mobilização de 500 oficiais da polícia e dos serviços de segurança, acrescentou a ministra, que elogiou o trabalho dos serviços de segurança, depois das reservas manifestadas perante indicações de que haveria informações sobre o passado de ligação a grupos extremistas de pelo menos um dos dois suspeitos do ataque, Michael Adebolajo. Adebolajo e Michael Adebowale continuam hospitalizados e sob custódia policial depois de terem sido atingidos pela polícia no local do ataque em Woolwich, sudeste de Londres.

Em reacção às medidas defendidas pelo Governo de David Cameron, o Conselho Muçulmano Britânico, que classificara o assassínio de Lee Rigby de “exemplo horrendo do extremismo”, pediu cautela para que não se ceda à vontade dos extremistas de tornar a sociedade “menos livre, dividida e com pessoas suspeitando umas das outras”. E, embora reconheça que a discussão sobre "o extremismo e o papel das mesquitas e instituições religiosas” é uma dicussão difícil de se ter, o Conselho advertiu que “medidas e políticas tomadas de forma precipitada podem exacerbar o extremismo”.

O ex-líder dos Liberais Democratas Menzies Campbel também reagiu e manteve a posição até aqui defendida pelo actual líder Nick Clegg de bloqueio à nova lei de controlo das comunicações que May quer fazer passar. “O que está a ser defendido por alguns é que todos nós passemos a estar sob controlo em todos os telefonemas que fazemos, em todas as mensagens que enviamos e em todos os sítios da Internet que visitamos. Isso representa uma grave intrusão na vida das pessoas”, considerou Menzies Campbell, deixando claro que as medidas não passarão com o apoio do partido liderado pelo primeiro-ministro adjunto, Clegg.
 
 
 
 
 
 
 
 

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