Governador do Louisiana pede um pequeno controlo na posse de armas nos EUA

Depois de três ataques com armas em seis semanas e de dois apelos de Obama, fala-se no problema da posse de armas no país. Pela voz de um republicano que não acredita na mudança da lei.

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Memorial às duas vítimas de Lafayette AFP

O controlo das armas de fogo nos Estados Unidos entrou na campanha para as presidenciais de 2016. Entrou indirectamente, por causa dos três tiroteios em seis semanas — dois deles classificados como massacres — e da polémica provocada pela reacção do governador do Louisiana, Bobby Jindal.

No fim-de-semana, Jindal defendeu que todos os estados que formam o país devem endurecer a legislação e adoptar regras semelhantes às do Louisiana, onde as pessoas com problemas psiquiátricos, sejam eles quais forem, estão proibidas de comprar armas. "Penso que todos os estados devem apertar as suas leis", disse o governador do Louisiana, estado que colabora na base de dados federal sobre doenças e perturbações mentais que é disponibilizada a todos os locais de venda de armas.

O homem que, na sexta-feira da semana passada, disparou uma arma num cinema de Lafayette, no Louisiana, matando duas pessoas e ferindo nove, antes de se suicidar, tinha uma história de doença psiquiátrica. John Houser, de 59 anos, comprou a arma que usou numa loja de penhores do Alabama, onde não é obrigatório enviar os dados para este registo federal. "Se ele tivesse tentado comprar a arma aqui — disse o governador — não teria conseguido".

Jindal, que é uma das 16 pessoas candidatas à presidência dos Estados Unidos pelo Partido Republicano — é candidato a candidato, no final de eleições internas primárias o partido escolhe apenas um representante —, quis responder a vários apelos com esta recomendação. Apaziguou os que, no seu estado, se chocaram com o tiroteio e com o facto de um homem doente ter uma arma, e quis voltar a falar da armas, marcando pontos mas não comprometendo nem as suas posições pessoais nem as do partido que representa.

Jindal, esclarecia a revista online Salon, não é contra a posse de armas de fogo nem defende qualquer alteração na legislação — pelo contrário; de tal forma é um aliado do poderoso lobby das armas que, na classificação que a National Riffle Association (NRA) faz para os governadores, tem um A+.

Na última convenção da NRA, em Abril, o lobby e vários candidatos republicanos disseram que não iriam admitir que o tema do controlo de armas entrasse na campanha. "Hillary Clinton vai anunciar a candidatura. Deixem-me dizer-vos: se ela se juntar a Barack Obama e aos que nos querem tirar as nossas armas, o que tenho para lhe dizer é: ‘experimentem!’", disse o senador candidato Ted Cruz. Jeb Bush, que entretanto também se juntou à corrida pela nomeação republicana, disse na altura que a "segunda emenda" — a que permite a posse de armas a qualquer pessoa — "é a nossa primeira lei se segurança interna". Até ao momento, Clinton não explorou o assunto.

Jindal não é, portanto, o melhor porta-voz para o tema, como dizia a Salon. Mas foi o único a quebrar o silêncio entre os republicanos, pressionados a tomar posição depois dos três episódios de violência em três semanas. Além dos mortos de Lafayette, um homem armado matou cinco militares em Chattanooga, no Tennessee, e um supremacista branco assassinou nove pessoas em Lafayette, na Carolina do Sul.

Aqui, o debate sobre a posse de armas de fogo foi imediatamente aberto pelo Presidente Barack Obama, que disse que o país tem demasiados episódios destes e que é preciso enfrentar o problema. Porém, o debate racial — à volta da bandeira da Confederação, usado pelos grupos extremistas como símbolo racista —, sobrepôs-se. Em Lafayette, onde foi ao funeral de uma das vítimas, Obama voltou ao assunto. Há dias, falou mais uma vez nas armas, dizendo que é "angustiante" a ausência de progressos "mesmo diante de repetidos massacres".

Jindal foi dos primeiros a atacá-lo: disse que a proposta do Presidente para limitar o acesso dos cidadãos às armas eram "completamente vergonhosa" e um "inapropriado" aproveitamento político de uma tragédia. "Foi uma completa vergonha. Em 24 horas tivemos o Presidente a tentar marcar, de forma barata, pontos políticos".

Na altura, o governador do Louisiana explicou que era um momento de expressar solidariedade, de rezar, nada mais. Após o tiroteio em Lafayette, disse o mesmo. E até domingo, Jindal, e a maior parte dos seus rivais republicanos, iludiam as perguntas sobre se o crescente aumento destes episódios reflectia a necessidade de os estados agirem, ou o governo federal.

Foi antes de haver mortos no Louisiana. "Talvez desta vez [Jindal] se escandalize ao ponto de fazer alguma coisa. Talvez desta vez possamos esperar por mais do que abraços e orações", escrevia a Salon, chamando-lhe "hipócrita". Jindal não foi muito além, mas pôs o tema em cima da mesa - resta saber se alguém o segue.

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