Goma, um cowork carioca

Vinte e duas pequenas empresas criativas juntaram-se no centro do Rio de Janeiro e tornaram um cowork num espaço de colaboração. A economia não é só criativa.

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Parece uma doença boa. Todos falam, sorridentes, de “contaminação”, de “incubação”, de “contágio” num espaço ainda em construção no centro do Rio de Janeiro. É “um labirinto”, “o caos”, “a comuna do Brasil”, dizem os criativos da Somos Goma sobre si e sobre o seu novo modelo de trabalho colaborativo — porque isto não é só um cowork, é um “colabô”, diz quem já os visitou. São designers, arquitectos, comunicadores, advogados, economistas, fazem vídeos, souvenirs, óculos escuros, consultoria e preocupam-se com a sustentabilidade. No epicentro de uma das maiores transformações contemporâneas de uma cidade, na Goma tanto se pensa o Rio quanto o melhor negócio para uma, duas ou talvez nove das 22 empresas da associação. “Não dá mais para trabalhar como nossos pais trabalhavam.”

Úrsulla Gonçalves, uma das líderes da primeira empresa a nascer na Goma, a Carioteca, resume nesta frase muita da filosofia deste espaço — três edifícios contíguos que começaram por ser um só, o número 82 comprado pelos sócios da empresa Matéria Brasil, e que no ano passado cresceram com o aluguer, a um português, das portas 84 e 86. Descrita como uma organização comunitária de fomento da economia criativa, estatutariamente uma associação sem fins lucrativos, a Goma reúne pequenas empresas para pequenos, grandes e médios projectos. Muitos deles do, para e sobre o Rio. “Estamos num contexto de uma cidade em transformação que começa a pensar que o petróleo vai acabar e o que vamos fazer depois disso”, completa Bernardo Ferracioli, um dos fundadores da Matéria Brasil, plataforma de inovação com nove anos focada em materiais sustentáveis e que deu o pontapé de saída para o que, em poucos meses, se tornou um dos mais interessantes casos de economia colaborativa e criativa da cidade.

Ali, as idades vão maioritariamente dos 20 e poucos aos 30 e poucos e os pés muitas vezes estão descalços ao calor enquanto se trabalha num portátil. Há uma empresa alemã e um alemão de 50 anos, duas portuguesas e uma neozelandesa de 20 e poucos e dezenas de jovens profissionais brasileiros a improvisar espaços de trabalho, a fazer brainstorming ou a ajudar a pintar paredes e chão. Uma mota no piso de baixo, uma prancha de surf no último andar e muitos vestígios do ADN da Goma, alicerçada na sustentabilidade, de permeio: amostras de tecidos, de cortiças, plástico, cabides, mini-Cristos em sucupira, um chão que é feito de madeiras de diferentes tamanhos, tipos e origens. Recicladas.

Bernardo Ferracioli está com a Revista 2 na rua, a olhar para a fachada do prédio de 1898 que comprou com os sócios da Matéria há três anos e meio. Está habituado a ser cicerone. Faz a visita guiada à Goma quase todos os dias, seja a estudantes de licenciatura, mestrandos e doutorandos, a designers que querem perceber o modelo colaborativo em que trabalham e, claro, a jornalistas. A escassos quarteirões daqui, uma mulher sem-abrigo fez do semáforo da mesma Rua Senador Pompeu a trave-mestra da sua casa de papelão, plástico e madeiras. É uma zona degradada, “abandonada” nas palavras de Bruno Temer, também da Matéria Brasil, e que no futuro pode vir a ser, como em tantas cidades já aconteceu em zonas de alugueres baratos, um distrito criativo. A Goma, além de outras incubadoras de design, de artistas ou de pequenas empresas afro-brasileiras do bairro, já cá está.

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Incubados no labirinto

São 65 pessoas que há um ano não estavam juntas. Ainda cá fora, Bernardo faz o seu “era uma vez”. “Éramos uma empresa que estava na batalha ainda e tinha espaço sobrando”, explica sobre o período em que se mudaram para o número 82 da Senador Pompeu. “Tínhamos acabado de sair da universidade, onde estávamos incubados, mas não queríamos perder esse frescor de gente nova dando ideia e a gente resolveu abrir o espaço para quatro empresas. Íamos trabalhar com eles como uma incubadora, como um acelerador, e eles ficaram aqui de graça.” Eram a Zerezes, a Terravixta, a Zebu e a Ybá, todas de design sustentável. “A gente foi aprendendo a fazer esse trabalho colaborativo, aprendendo como trabalhar com duas empresas diferentes que pegam um projecto, mantendo a sua autonomia”, exemplifica enquanto os carros passam e o sol queima. Em Fevereiro de 2013, “descemos e tinha uma placa ‘aluga-se’ nesse prédio aqui do lado. Aí eu falei: ‘Não vou deixar abrir uma loja de ferragem, vamos alugar isso aí’”. Em Novembro conseguiram.

E agora, lá dentro, no “labirinto que a gente está construindo”, como descreve Luiza Maia de Castro, mulher de Bernardo, o cenário é outro. Não são só eles e as quatro inquilinas, são 22 pequenas empresas. Partilham espaço, ideologia e negócios. Da fachada indistinta, tinta descascada e janelas e portas altas, passamos então para o piso zero da Goma. Que é pura manufactura. Onde antes estava a marcenaria da Matéria Brasil, mudada para a zona rural carioca de Guapimirim — “a sede campestre da associação”, ri-se Bernardo —, vai instalar-se “um grande laboratório de prototipagem [dos produtos que lá fazem] rápida, com cara de laboratório mesmo, branquinho, com laser”, descreve Ferracioli. Para “não se perder esse DNA da marcenaria” e para ter também “um lounge de exposição dos produtos”. Nos pisos térreos dos outros dois edifícios, vai ficar um bistrô aberto ao público e “um hot desk para as pessoas que queiram só sentar e trabalhar uns dias” — uma versão mais convencional do cowork e uma oportunidade de negócio.

Na penumbra da antiga marcenaria, ainda estamos então no presente. Os jovens designers da Zerezes estão por ali a lixar óculos, a resinar. Um deles é a portuguesa Ana Patrícia Aguiar, 23 anos, mestranda em Design da Faculdade de Arquitectura de Lisboa. As lentes Carl Zeiss ainda estão por pôr e só as armações de madeira se alinham sobre a bancada. A Zerezes dá-nos a ver um Rio de Janeiro cheio de sol e praia através de óculos de madeiras redescobertas — apanhadas das ruas cariocas e gravadas com número de série e nome da rua onde foi encontrado o taco, o móvel ou a palete de onde veio. Já conhecidos no meio do design, fazem agora a transição para as passerelles do Fashion Rio e para o Salone del Mobile, em Milão. Na mezzanine sobre a marcenaria, a Terravixta mostra-nos esse mesmo Rio em pequenino, pousado na prateleira. Faz miniaturas dos ícones cariocas, do Pão de Açúcar ao Cristo Redentor, em madeiras brasileiras e resina biodegradável, pensadas para ocupar pouco espaço nas malas dos turistas por serem espalmáveis e depois montáveis.

Ambas são bons exemplos do que é mesmo trabalhar em regime “colabô”: a Matéria Brasil aconselhou os melhores materiais para ambos os projectos, a Zebu, do design gráfico, tratou das caixas em que são vendidos e das suas etiquetas e até dos cartões de visita das outras empresas (onde se lê que foram feitos com tinta orgânica de cacau), com a empresa de marketing digital residente a fazer as campanhas. A Zerezes quer agora fazer um novo modelo, o Restus, a partir da serradura sobrante da feitura dos outros modelos, e para finalizar o seu desenvolvimento a Hula, também residente na Goma, fez o vídeo promocional para a campanha de crowdfunding — que começou a 24 de Abril no site carioca Catarse para financiar a fase de pesquisa.

Para uma empresa a começar, que conta com quatro designers fixos e uma portuguesa recém-chegada, “ser contaminado por eles foi uma das coisas mais importantes. É isso que é a criatividade”, diz Hugo Galindo sobre a oportunidade de terem sido acolhidos na Goma. “Trabalhando em rede, atingimos muito mais gente”, reflecte Luís Eduardo Rocha, outro designer. E a resiliência das pequenas empresas também aumenta, graças à distribuição de tarefas e encargos. “A taxa de mortalidade das empresas brasileiras é que oito em cada dez morrem antes de completarem três anos. Todas as empresas que entraram aqui há três anos com a gente estão vivas”, orgulha-se Bernardo Ferracioli, cuja formação é de Economia.

Ana Patrícia, que todos chamam “flor”, só deixa que lhe desapareça o sorriso entusiasmado uma vez. “Sinto que o meu país não quer que eu fique”, diz sobre Portugal e as oportunidades de emprego que por cá teria — ou teve. E não foram boas, nem na sua área de formação. No Brasil, queria estudar para o mestrado e trabalhar. “Ia ficar dois meses e hoje já não sei quando vou embora”, diz sobre a Zerezes, onde trabalha na produção. Para ela, Goma é sinónimo de riqueza. “Todos os dias se aprende qualquer coisa, o fluxo de partilha que passa aqui diariamente, com diferentes ideias e áreas… toda a gente ajuda um pouquinho.” Com a arquitecta portuguesa que havemos de encontrar na outra ponta da Goma, montou a Estação da Larica, um cantinho no prédio do meio com uma ardósia e frasquinhos “com pequenas iguarias degustativas de coisas de cozinha portuguesa”. Deixamo-la a resinar, prestes a defender a tese em Lisboa mas já a pensar em ficar. “Não ganho muito mas sou feliz.”

Depois de muito tempo a serem senhorios e motores, facilitadores, os sócios da Matéria Brasil podem agora ver a hidra a funcionar. Muitas cabeças, “22 empresas que dividem um espaço que não tem um dono”, mas sim um aluguer — e quando uma delas está a ter um mês difícil, há margem colectiva para esperar pelo pagamento. Por mês, são “12.500 reais, uns 4 mil euros. É muito alto mas também não é um absurdo no Rio, não chega a ser uma catástrofe”, diz Bernardo Ferracioli. “E essa é a grande diferença em relação a outros coworks. Todo o processo de gestão é feito de forma horizontal”, explica o defensor de decisões tomadas “tomando café”.

Outro exemplo de como isto não é só um cowork: um valioso projecto para a FIFA, que só será revelado amanhã, partiu de uma pequena encomenda da organizadora do Mundial de Futebol de 2014 à Terravixta. As restantes empresas, que se reúnem semanalmente em grupos de trabalho para falar sobre o espaço e suas necessidades (mas que também se abrem ao público à sexta-feira nas reuniões “de pulso” para trocarem experiências, tendo já recebido baianas que fazem salgadinhos acarajé e que querem aprender gestão), contrapuseram a possibilidade de fazer mais. Umas dezenas de milhares mais. A Terravixta, estando neste colectivo que tem empresas de consultoria de materiais, outros designers e outras cabeças, conseguiu aumentar a sua capacidade de produção e de resposta, nota Bruno Temer, e todos ganharam um projecto de meio milhão de reais (cerca de 160 mil euros). “Todo o mundo está ganhando a capacidade aqui dentro de vender todo o mundo. E isso é muito bacana. As pessoas se sentem donas das suas próprias empresas, mas parte de um conglomerado”, congratula-se Bernardo Ferracioli.

Uma das empresas que faz agora parte desta teia é o braço brasileiro da consultora ambiental multinacional Gitec, onde trabalha Luiza Maia de Castro, mestre em Economia que levou a Gitec até à Goma através do marido. O seu chefe, ansioso para saber como era esse tal modelo em que a Gitec se tinha instalado, veio ao Rio para ver aquilo que agora, na sede alemã da Gitec, chamam “a comuna do Brasil”. O seu “escritório” é a ponta de uma secretária longa junto a uma janela baixa, que partilha com outros Goma. Luiza estava exactamente a meio de uma apresentação a um convidado do que é a sua empresa e a Goma. Fala-nos dos projectos de gestão de risco com “a molecada do Rio”, que quer ensinar a lidar com deslizamentos de terras e enchentes através de “gameficação” — tornar tudo num jogo. Deixamo-la para conhecer os edifícios novos, descarnados em alguns pontos, luminosos e arejados noutros, completos estaleiros quando chegamos ao terceiro e último prédio da Goma.

As obras nesta sede estão a ser feitas através de outros processos colaborativos — em regime “mutirão”, a expressão que vem do tupi para quando todos se juntam para ajudar, neste caso a pintar ou a pôr chão, mas também em crowdfunding. Bernardo fez um “planinho financeiro” para pedir 200 mil reais (65 mil euros) em troca de 1,2% de juros ao mês para as obras do alargamento de um para três edifícios, e já estão a pagar de volta aos investidores. O número 86 quase não tem gente, mas tem muitas madeiras. No rés-do-chão, no meio do pó, está uma estrutura de um barco novinha em folha. Foi desenhada por um dos Terravixta, que todos descrevem carinhosamente como “louco”, e no andar de cima uma sala acolhe a Hula, os vitrinistas Meninos da Nuvem e o Estúdio Guanabara, um atelier de arquitectura onde está, há escassas semanas, a portuguesa Sara Jacinto, de 26 anos, ainda a aprender os nomes de todos e a orientar-se pelos edifícios.

Fala em animação e gratificação, em aprendizagem e emigração. “Vim à procura de trabalho às cegas”, explica sobre a decisão de emigrar, há dois anos. “Não havia perspectivas de ser contratada ou de ter estabilidade financeira e tinha muitos amigos cá. Todos os meus colegas de faculdade estão fora, contam-se pelos dedos das mãos os que ficaram em Portugal.” Chegou a trabalhar em Lisboa num espaço de cowork em que havia cooperação, “mas numa escala bem pequena. É a diferença entre a escala de família, quase, e o ninho de empresas. A Goma é mais uma cooperativa de empresas criativas”, descreve Sara Jacinto.

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O coração da rede

Bernardo e Bruno, sentados numa das mesas de trabalho e arejados pelas ventoinhas, rejeitam a ideia de serem uma espécie de embaixadores de um movimento. Não são embaixadores, frisam, mas pertencem a um movimento. Acham que não há outro projecto como a Goma, e mesmo a Carioteca, que descrevem como “o coração dessa rede” e que está a sistematizar o conhecimento adquirido nesta prática de trabalho colaborativo, não encontrou ainda nada similar na sua pesquisa. “Pode até haver alguém fazendo essa experiência, porque algum chinês está fazendo isso. Se não tem um chinês, tem um indiano”, ri-se Ferracioli sobre os muito povoados e imaginativos parceiros asiáticos do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China, os países cujo estádio de desenvolvimento similar os agrupa como grandes mercados emergentes). “É o único espaço colaborativo que eu conheço voltado para a inovação, sustentabilidade, design, arte. E também é único na forma de gestão, que não tem um dono, é uma associação aberta para tomar conta do espaço e o espaço não é o fim, é o meio. É o meio para a gente conseguir se manter. É uma rede de pessoas que trabalham com as mais diversas áreas de saber que estão alinhados com os seus fornecedores” — as outras empresas, explica Bernardo. “Isso permite a gente se manter pequeno e cada empresa decide qual o formato do trabalho, a divisão dos recursos.”

Quando muitos dos Goma estão a almoçar fora, Marcos Salles come o seu açaí e Úrsulla Gonçalves entusiasma-se. A Carioteca nasceu para isto — para, à imagem do que aprendeu na Goma, ser “um laboratório de fomento de empreendedorismo em rede”, ajudando estas e outras empresas a organizar-se, a trabalhar juntas. Úrsulla resume assim a Goma: “É um ecossistema, é um quartel-general, a sede, mas que vai muito além do espaço. É muito o mind-set de todo o mundo.” Essa mentalidade é de que não se pode trabalhar como antigamente, “não só em termos de gestão mas de preocupação sócio-ambiental”, tentando agora inspirar outros a trabalhar como eles e a “impactar positivamente tanto os nossos negócios — todo o mundo quer ganho financeiro —, mas também que isso se desdobre em benefícios para a comunidade, seja do Rio, do Porto, ou dos designers e arquitectos que têm contacto com a Goma”. Têm feito negócio nos últimos meses, muito graças a uma estratégia para enfrentar o seu maior desafio, as empresas tipo “revolução industrial”, que não falam a língua Goma — incluem o seu serviço naqueles que já são prestados por uma das empresas do colectivo, resume Salles, também um dos fundadores do Terravixta. São todos vasos comunicantes.

A Goma está numa rua em mudança, não só porque de repente há ali mais umas dezenas de pessoas, a trazer mais negócio para os botecos e a gerar novas paisagens humanas, mas também porque está no centro de uma cidade em convulsão. O Porto Maravilha é mesmo ali, obra-chave da transformação desta zona para os Jogos Olímpicos de 2016. Há obras, expropriações e ali perto a favela do Morro da Providência a preparar-se para o almoço. Junto ao mar, o fantasma do Cais do Valongo, um dos maiores entrepostos da escravatura onde chegavam os africanos no século XIX. Foi escavado em 2011 e é candidato a Património da Humanidade pela UNESCO, mas está agora rodeado pelo plano de 2,8 mil milhões de euros de transformação da zona industrial do porto para o grande momento do Rio de Janeiro que serão os Jogos. Ali haverá arranha-céus e torres em tributo a Donald Trump, um Museu do Amanhã projectado por Santiago Calatrava e uma Cidade da Música cujo orçamento de centenas de milhões já foi ultrapassado. Também o Morro da Providência passa por transformações, comuns ao resto da cidade e suas favelas, sendo um dos bairros de lata envolvidos na “pacificação”. Ou seja, é uma das 37 favelas ocupadas, com a polícia lá instalada, tentando (e falhando em muitos casos) melhorar a vida de quem lá mora e eliminar o tráfico e a violência.

Se o “surreal” em que se transformou a moeda brasileira, o real dos preços inflacionados devido à iminência dos grandes eventos desportivos no Brasil, é hoje a palavra de ordem no Rio, “gentrificação” é outra. São palavras lidas nos jornais, ouvidas em conversas, preocupações dos cariocas desde o centro à turística e balnear Zona Sul. Lá, na praia do Arpoador, o sol desce nesta altura do ano sobre o morro pelo qual escorrega a favela do Vidigal. Em pleno areal, contam-nos, como quem fala do preço do pão de queijo, que o futebolista britânico David Beckham terá comprado uma casa no Vidigal, onde o rapper Kanye West também já terá morada. Os jornais não tardam em reflectir o rumor, associando-o à gentrificação das favelas, à sua ocupação por gente com mais dinheiro e à subida dos preços em geral.

De volta à zona centro e às mesas da Goma, Bruno e Bernardo preocupam-se com estes novos fluxos na cidade. Não querem ser vistos como “esses mauricinhos [jovens com dinheiro] que tão vindo aqui ocupando”.

Compraram o n.º82 um mês antes de ser anunciado que os Jogos Olímpicos seriam no Rio em 2016, e dois meses antes de ser revelado o plano para a zona portuária. Compraram mais barato do que se tivessem lá chegado meses depois. Sabem que esta área está nos planos do Colectivo do Porto, que reúne várias empresas de design do bairro, para se criar aqui um Distrito Criativo — plano com apoio da prefeitura e de Washington Fajardo, arquitecto e conselheiro do autarca Eduardo Paes para o urbanismo e conservação que está focado na área portuária. Porquê aqui? Para “resignificar. É do lado do metro, da Central do Brasil, do centro comercial da cidade, do Porto Maravilha, e [agora] é um lixo. Infelizmente”, riposta Bruno Temer. Além da valorização imobiliária, interesse óbvio para a autarquia e para o sector privado, há que pensar coisas práticas como uma rede wifi, como a deslocação das unidades de formação públicas nestas áreas para a região, entre outros temas, e é isso que a Goma está a debater com outros coworks da zona.

O cowork é um fenómeno em ascensão no Brasil há cerca de meia década, com espaços de diferentes formatos a eclodir um pouco pelo país. Este cowork 2.0 “não pode fechar os olhos ao que está acontecendo no Rio, talvez uma das cidades em maior processo de renovação na América Latina — e a gente está no meio do processo com uma ideia inovadora louca”, frisa Bernardo. Por isso, além de pensarem esse seu contexto mais imediato que é o centro e o porto, tendem a fazer negócios cariocas.

Nos últimos três meses, contam, nove empresas do Goma estão a trabalhar na nova lixeira do Rio de Janeiro. A Matéria e a InventáRio de Janeiro, de arquitectura, criaram as novas barraquinhas de venda de cerveja da boémia Lapa; a Zebu, a Matéria e os Guanabara fazem novas bombas de ar para bicicletas públicas; outra parceria está a desenvolver um carro educativo sobre saneamento básico ou a sinalizar um parque. “É legal ver a ideia da ‘empresa’ se desconstruindo”, diz Bernardo sobre a forma como trabalham em conjunto. “É por isso que eu acho que a Goma é única nesse sentido — são essas pessoas que estão aqui dentro. O mood que tem aqui é único. Eu ’tou muito feliz.”     

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