Francisco na terra da Camorra: “A corrupção cheira mal”

Papa foi a Nápoles pedir a conversão dos mafiosos e dizer aos napolitanos que podem ter um "futuro melhor".

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O Papa Francisco lançou este sábado um emocionado apelo aos napolitanos para lutarem contra a corrupção “que cheira mal”, a “escravatura” do trabalho clandestino e o ódio contra os imigrantes. Na cidade Camorra, a versão napolitana da máfia siciliana, Francisco denunciou também o tráfico de droga e pediu aos mafiosos a “conversão ao amor e a justiça”.

Enumerados que estavam todos os problemas que asfixiam e fazem da cidade portuária situada a sul de Roma uma das mais violentas de Itália, o Papa disse que “ainda é possível regressar a uma vida honesta”. “É isso que pedem as mães em lágrimas nas igrejas de Nápoles”, implorou Francisco frente a uma multidão de cem mil fiéis reunidos na praça do Plebiscito, no centro da cidade.

Terminada a missa, o Papa argentino exortou Nápoles a viver uma nova “primavera” para “um futuro melhor”, “sem se refugiar no passado”.

Horas antes, ao lado do cardeal de Nápoles, Crescenzio Sepe, Francisco percorreu as ruas da cidade no papamóvel em direcção a norte, para um primeiro encontro com fiéis, desta feita no bairro deprimido de Scampia, com os seus sinistros prédios de habitação social, muitos deles onde nem a policia se atreve a entrar.

“Como um animal morto cheira mal, a corrupção também cheira mal, a sociedade corrompida cheira mal, e um cristão que deixa entrar a corrupção dentro de si cheira mal”, lançou Francisco. “Todos nós temos a possibilidade de ser corrompidos e de resvalar para a delinquência.”

"Somos todos migrantes"
Francisco apoiou com as suas palavras o apelo da filipina Corazon Dag-usen, que falou a seu lado no palco, para pedir que os imigrantes que chegam a Nápoles vindos de África e da Ásia sejam “reconhecidos” e que seja dado um tecto aos muitos que não têm onde dormir. “Eles são cidadãos, não são cidadãos de segunda classe! Nós também somos todos migrantes, filhos de Deus, no caminho da Vida! Ninguém tem um domicílio fixo nesta terra”.

O desemprego estrutural, particularmente o dos jovens, também foi denunciado. Francisco relembrou que em Nápoles, o desemprego abaixo dos 25 anos atingiu os 40% e que as associações humanitárias e as ajudas sociais não se podem substituir a “dignidade” do trabalho, já que “quem não tem a possibilidade de levar pão para casa, vê a sua dignidade roubada”.

O Papa criticou ainda o trabalho clandestino que alimenta a gigantesca economia paralela da cidade, considerando que se trata de “escravatura” – e deu o exemplo de uma mulher a quem foi proposto um salário de 600 euros por mês por 11 horas diárias de trabalho.

Neste quadro sombrio, os aplausos chegaram quando Francisco exaltou a vitalidade da cultura napolitana: “a vida em Nápoles nunca foi fácil, mas também nunca foi triste, o seu grande trunfo é a alegria.”

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