França condena o "emir branco" a seis meses de prisão

Olivier Corel é uma das figuras do fundamentalismo islâmico em França e durante anos esteve na mira da polícia por ligações a alguns dos mais importantes atentados no país. É condenado por posse ilegal de uma arma de caça.

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Os serviços de informação franceses estão certos das suas ligações ao mundo jihadista, mas nunca o conseguiram provar AFP

Há anos que a polícia antiterrorismo orbitava em torno de Olivier Corel, mais conhecido em França como o “emir branco” de Artigat, pelos seus discursos radicais islâmicos nesta região do Sul, próxima dos Pirenéus. Tentou durante anos ligá-lo a alguns dos atentados jihadistas mais célebres no país, mas sem sucesso. Conseguiu condená-lo nesta quarta-feira a seis meses de prisão, não por ligações ao terrorismo, como foi o objectivo durante muito tempo, mas por posse ilegal de uma arma de caça.

As buscas à casa de Corel aconteceram ao abrigo do estado de emergência decretado em França depois dos atentados de Paris. Este regime permite que a polícia faça buscas domiciliárias sem um mandado judicial. A sua habitação e outras quatro residências em Ariège foram vasculhadas na terça-feira: o imã salafista de Artigat foi detido preventivamente e seis outras pessoas ficaram em prisão domiciliária.

A polícia esperava violência na operação à casa do imã de Artigat. Possivelmente um novo assalto como o que aconteceu em Saint-Denis, onde se preparava um novo atentado na capital francesa. As buscas foram executadas por mais de 60 agentes no solo e dois helicópteros nos ares. Mas não houve resistência por parte do “emir branco”. E a única coisa que a polícia encontrou foi uma arma de caça de venda aberta ao público, mas não registada em nome de Olivier Corel.

Foi o suficiente para que o imã fosse condenado em França, passados anos de tentativas inférteis. Para além dos seis meses de prisão efectiva, Corel foi condenado a dois anos de pena suspensa. Durante este período, o imã de Artigat terá de pedir autorização a um juiz sempre que quiser viajar para o estrangeiro. Está também proibido de possuir armas de fogo nos próximos cinco anos.

O seu advogado diz que Corel está a ser alvo de uma campanha mediática de luta policial ao fundamentalismo islâmico em França. “Dá a impressão de que era preciso haver alguma coisa contra Olivier Corel a todo o custo”, afirmou à AFP.

O “emir branco” é uma das caras da radicalização islâmica em França. Chegou ao país em 1973, foi dirigente da associação francesa de estudantes muçulmanos – ligada à Irmandade Muçulmana na Síria, segundo o Le Monde – e, no final da década de 1980, fundou uma comunidade islâmica numa zona próxima de Artigat. “Era aí que pregava os ensinamentos salafistas [uma das linhas mais radicais do Islão], a coberto de cursos de religião e de conferências sobre a geopolítica do Médio Oriente”, explica o diário francês.

As autoridades acreditam que Corel foi fundamental para a radicalização dos irmãos Merah. Mohamed foi o responsável por três dias de matança em Toulouse e Montauban, em 2012. Matou quatro soldados franceses, três crianças judias e um rabi. A sua irmã, Souad, fugiu de França para se tentar juntar ao grupo Estado Islâmico, na Síria. Há um ano, a revista Nouvelle Observateur dizia que estava escondida da polícia na Argélia.

Corel teve também sob a sua alçada Sabri Essid, meio-irmão dos Merah. Essid viajou para a Síria depois de um grande processo antiterrorismo em França e foi lá que surgiu, em Março, num vídeo do Estado Islâmico em que conduz um rapaz com não mais de dez anos a abater um jovem palestiniano de 19. Os serviços de informação franceses dizem que o rapaz é filho de Essid e que foi Olivier Corel quem o incentivou a levar por diante a execução.

A rede de influências de Corel não acaba por aqui. Terá sido ele quem radicalizou também os irmãos Jean-Michel e Fabien Clain, ambos convertidos e casados sob a sua mão com duas jovens muçulmanas, na década de 1990. Surgem ambos na gravação áudio em que o Estado Islâmico reivindica os atentados deste mês em Paris.   

Os serviços de informação franceses estão convencidos de todas estas ligações jihadistas, mas os tribunais nunca as conseguiram traduzir num processo contra Corel. O imã foi acusado uma primeira vez por “associação criminosa em relação a uma organização terrorista” em 2009, na sequência de uma das primeiras operações francesas a desmantelarem uma rede que enviava jovens combatentes jihadistas para o Iraque. Fabien Clain e Sabri Essid foram condenados a cinco anos de prisão, mas Corel conseguiu uma anulação do processo.

Corel é detido preventivamente uma segunda vez em 2014. A Justiça francesa tenta relacioná-lo, sem sucesso, com os atentados de Mohamed Merah, que se encontrou com o imã apenas dez dias antes dos seus primeiros homicídios. Segundo Corel, Merah consultou-o por “questões relacionadas com o divórcio no islão”. 

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