França condena declarações do Papa sobre o preservativo

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Bento XVI com a mulher do Presidente dos Camarões e com o Presidente Paul Biya Alessandro Bianchi/Reuters

O Governo francês criticou hoje as declarações do Papa contra o uso do preservativo, mostrando-se “muito preocupada” com a posição defendida por Bento XVI antes de aterrar nos Camarões, onde começou ontem uma visita a África.

As declarações de Bento XVI, feitas aos jornalistas que acompanham a visita, durante a viagem entre Roma e a capital dos Camarões, Yaoundé, referindo que o uso do preservativo não é uma solução e pode agravar o problema da Sida, desencadearam uma tempestade de reacções críticas em todo o mundo. Alguns governos, organizações não governamentais e de combate à doença condenaram estas declarações, às quais o Vaticano reagiu hoje referindo que o Papa queria sublinhar a importância da “educação para a responsabilidade”.

Duas capitais europeias, Paris e Bruxelas, reagiram oficialmente. “A França exprime a sua viva preocupação quanto às consequências das declarações de Bento XVI”, disse hoje um porta-voz do ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Eric Chevalier. “O nosso papel não é o de emitir julgamentos sobre as doutrinas da Igreja, mas consideramos que estas observações põem em risco políticas públicas de saúde e os imperativos quanto à protecção da vida humana”, relata a agência Reuters.

Em Bruxelas, a ministra belga da Saúde , Laurette Onkelinx disse que a posição de Bento XVI “reflecte uma visão doutrinária perigosa”, acrescentando que estas “podem demolir anos de prevenção e educação e colocar em risco muitas vidas humanas”, cita o diário "International Herald Tribune".

O porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, defendeu o Papa considerando que “não se deve esperar desta viagem uma mudança na posição da Igreja Católica sobre a questão da Sida”, cita a AFP. De acordo com a mesma agência, a polémica provocada pelas declarações de terça-feira levou Bento XVI a acrescentar ao programa de hoje em Yaoundé um encontro com jovens de uma associação de ajuda aos doentes com Sida, animada pela comunidade de Santo Egídio.

“O Papa vive no século XXI?”

Várias organizações não governamentais, como a camaronesa Mopcat, um movimento para o maior acesso dos doentes aos tratamentos para a sida, reagiram duramente às declarações de Bento XVI. “O Papa vive no século XXI?”, questionou Alain Fogué, daquele movimento. “As pessoas não vão seguir o que o Papa diz. Ele vive no céu, mas nós vivemos na Terra”, acrescentou.

Judith Melby, da organização Christian Aid, criticou o Papa considerando que as suas declarações “enviam uma mensagem confusa a África, um continente onde a Igreja Católica é muito importante”. “A nossa posição é a de que a abstinência [defendida por Bento XVI como o meio para impedir a propagação da doença] é uma parte importante do conjunto das medidas, mas a abstinência por si só não vai impedir a transmissão do vírus HIV”, acrescentou.

Já o director executivo do Fundo Mundial de Luta contra a Sida, a tuberculose e o paludismo, Michael Kazatchine, pediu a Bento XVI que “retire as suas declarações”, que considerou “inaceitáveis”.

“É uma negação da epidemia. E fazer essas declarações no continente onde vivem 70 por cento das pessoas infectadas pela doença é absolutamente inacreditável”.

1,9 milhões de pessoas foram infectadas com o vírus do HIV no ano passado na África subsariana onde vivem 22 milhões de seropositivos

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