Família diz que blogger saudita pode ser condenado à morte

Raif Badawi foi condenado por ofensas ao islão, mas a sua mulher diz que um juiz insiste em julgá-lo por abandono da crença religiosa, punível com decapitação.

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Ensaf Haidar diz que o Supremo vai reenviar o caso para um tribunal inferior CLEMENT SABOURIN/AFP

O blogger saudita Raif Badawi, que foi condenado a dez anos de prisão e a mil chicotadas em público por violação dos valores islâmicos e propagação de ideias liberais, poderá ser acusado de renunciar à sua crença religiosa – uma opção que na Arábia Saudita é um crime punível com a pena de morte por decapitação.

O receio foi transmitido pela mulher de Badawi, Ensaf Haidar, numa mensagem partilhada no Facebook, no domingo: "Recebemos informações de fontes seguras de que há tentativas para voltar a julgar Raif Badawi por apostasia."

Badawi foi condenado por ofensas ao islão por causa dos textos que escreveu no seu blogue Sauditas Liberais Livres, criado em 2008 e entretanto encerrado, mas nunca chegou a ser julgado por renunciar à sua crença religiosa (uma acusação que sempre negou) – em 2008 foi interrogado sob a acusação de apostasia mas acabou por ser libertado no mesmo dia, e em 2013 escapou a uma acusação formal depois de um tribunal superior ter decidido que não havia provas suficientes (na acusação formulada pelo juiz do Tribunal Distrital de Jeddah, que não tinha poderes para julgar um crime punível com a pena de morte, estava o facto de Raif Badawi ter carregado no botão "Gosto" de uma página de cristãos árabes no Facebook).

Apesar de ter sido poupado por um tribunal superior a um julgamento por apostasia, o blogger acabou por ser condenado a sete anos de prisão e a 600 chicotadas por ofensas ao islão, em Julho de 2013 – Badawi recorreu da sentença e acabou por ver a sua pena agravada para dez anos de prisão e mil chicotadas em público, em Maio de 2014.

No dia 16 de Janeiro, foi avançado que o rei Abdullah (que morreu sete dias depois) tinha enviado o caso do blogger para o Supremo Tribunal, numa decisão que alimentou esperanças de uma atenuação da pena, ou até mesmo de uma libertação. Mas a mensagem escrita no Facebook pela mulher de Raif Badawi no domingo aponta noutro sentido: "Recebemos também a confirmação de que o Supremo Tribunal enviou o caso do Raif para o mesmo juiz que o condenou a dez anos de prisão e a chicotadas."

A confirmar-se esta versão, o futuro do blogger poderá ser ainda mais dramático, devido a uma alteração recente na lei da Arábia Saudita: "Esse juiz tem preconceitos em relação ao Raif. Já pediu duas vezes que o Raif fosse acusado por apostasia. Os seus pedidos foram rejeitados na altura, porque o seu tribunal não tinha competências em casos puníveis com a pena de morte. No entanto, devido a um novo regulamento emitido pelo Conselho Judicial Supremo no dia 18 de Setembro de 2014, o tribunal passou a ter competências para julgar casos mais graves, puníveis com a pena de morte, amputações e apedrejamentos", escreve a mulher do blogger.

"Apelamos aos cidadãos e aos governos de todo o mundo que não deixem estes fanáticos arrastarem Raif para a morte. E renovamos o apelo a Sua Majestade o Rei Salman para que perdoe Raif Badawi e permita que ele se junte à sua família no Canadá", lê-se na mensagem.

As mil chicotadas a que o blogger foi condenado foram repartidas em 50 por semana. A primeira sessão de punição pública decorreu no dia 9 de Janeiro, mas o cumprimento da sentença tem sido sucessivamente adiado devido ao estado de saúde de Raif Badawi.
 

   

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