Falklands votam em referendo para provar que não querem ser Malvinas
Habitantes das ilhas sob administração britânica reclamadas pela Argentina fazem consulta popular para provar que querem continuar britânicos.
As ilhas Falklands — Malvinas, para os argentinos — ficam a 75 minutos de avião da ponta sul da Argentina e a 12.700 quilómetros de Londres, mas as cerca de três mil pessoas que lá vivem sentem-se mais britânicas do que os próprios britânicos e estão dispostas a demonstrá-lo num referendo de dois dias que só termina nesta segunda-feira. É praticamente certo o “sim” dos ilhéus a continuarem a fazer parte do Reino Unido, mas a Argentina não dá qualquer crédito ao referendo, a que chama um mero golpe publicitário.
“Isto é quase um acto de auto-satisfação, perguntar a britânicos se querem ser britânicos. Para nós, não tem qualquer significado”, comentou o senador argentino Daniel Filmus, que dirige a Comissão de Negócios Estrangeiros, citado pela Reuters. “Os cidadãos das Malvinas não existem. São apenas britânicos que vivem nas ilhas Malvinas”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros argentino, Hector Timerman, numa visita a Londres no mês passado, em que comparou o “colonialismo” britânico nas ilhas aos colonatos israelitas na Faixa de Gaza.
Não se esperam, de facto, surpresas quanto à forma como responderão os 1672 eleitores recenseados nas Falkands, um arquipélago no Atlântico Sul, junto à Patagónia argentina, em que vivem mais ovelhas ou pinguins do que seres humanos, à pergunta do referendo: “Quer que as ilhas Falkland continuem a manter o seu estatuto político actual de território ultramarino do Reino Unido?”
Para os promotores da consulta popular, este é um momento histórico. “O referendo mostrará que a maior parte da população está muito satisfeita por pertencer a um território ultramarino britânico, porque este estatuto nos dá o direito à auto-determinação”, disse em Londres à AFP Jan Cheek, deputada da Assembleia Legislativa das Falklands.
“Não esperamos que a Argentina mude de atitude da noite para o dia, mas esperamos que o resultado envie uma mensagem forte”, explicou esta política, cuja família reside no arquipélago há seis gerações.
Na Argentina, as Malvinas fazem parte do imaginário — e a Presidente Cristina Fernandez de Kirchner, que viveu na Patagónia, perto das ilhas, ao casar-se com Nestor Kichner, ex-Presidente e governador daquela província, é uma impulsionadora destes sentimentos, quanto mais não seja para desviar as atenções dos problemas económicos do país. Buenos Aires pediu recentemente a Londres a reabertura de negociações sobre o território, mas David Cameron recusou.
A reacção em Buenos Aires à consulta popular não podia ser de maior desprezo. “Este referendo não tem base legal. Não será reconhecido pelas Nações Unidas ou pela comunidade internacional”, avisou a embaixadora argentina em Londres, Alicia Castro. Sublinhava que a ONU apenas reconheceu a Argentina e o Reino Unido como partes no conflito diplomático, que já gerou uma guerra ganha por Londres, em 1981, e não os habitantes das ilhas.