Falklands votam em referendo para provar que não querem ser Malvinas

Habitantes das ilhas sob administração britânica reclamadas pela Argentina fazem consulta popular para provar que querem continuar britânicos.

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A maioria dos habitantes da ilha define-se como britânico Marcos Brindicci/REUTERS

As ilhas Falklands — Malvinas, para os argentinos — ficam a 75 minutos de avião da ponta sul da Argentina e a 12.700 quilómetros de Londres, mas as cerca de três mil pessoas que lá vivem sentem-se mais britânicas do que os próprios britânicos e estão dispostas a demonstrá-lo num referendo de dois dias que só termina nesta segunda-feira. É praticamente certo o “sim” dos ilhéus a continuarem a fazer parte do Reino Unido, mas a Argentina não dá qualquer crédito ao referendo, a que chama um mero golpe publicitário.

“Isto é quase um acto de auto-satisfação, perguntar a britânicos se querem ser britânicos. Para nós, não tem qualquer significado”, comentou o senador argentino Daniel Filmus, que dirige a Comissão de Negócios Estrangeiros, citado pela Reuters. “Os cidadãos das Malvinas não existem. São apenas britânicos que vivem nas ilhas Malvinas”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros argentino, Hector Timerman, numa visita a Londres no mês passado, em que comparou o “colonialismo” britânico nas ilhas aos colonatos israelitas na Faixa de Gaza.

Não se esperam, de facto, surpresas quanto à forma como responderão os 1672 eleitores recenseados nas Falkands, um arquipélago no Atlântico Sul, junto à Patagónia argentina, em que vivem mais ovelhas ou pinguins do que seres humanos, à pergunta do referendo: “Quer que as ilhas Falkland continuem a manter o seu estatuto político actual de território ultramarino do Reino Unido?”

Para os promotores da consulta popular, este é um momento histórico. “O referendo mostrará que a maior parte da população está muito satisfeita por pertencer a um território ultramarino britânico, porque este estatuto nos dá o direito à auto-determinação”, disse em Londres à AFP Jan Cheek, deputada da Assembleia Legislativa das Falklands.

“Não esperamos que a Argentina mude de atitude da noite para o dia, mas esperamos que o resultado envie uma mensagem forte”, explicou esta política, cuja família reside no arquipélago há seis gerações.

Na Argentina, as Malvinas fazem parte do imaginário — e a Presidente Cristina Fernandez de Kirchner, que viveu na Patagónia, perto das ilhas, ao casar-se com Nestor Kichner, ex-Presidente e governador daquela província, é uma impulsionadora destes sentimentos, quanto mais não seja para desviar as atenções dos problemas económicos do país. Buenos Aires pediu recentemente a Londres a reabertura de negociações sobre o território, mas David Cameron recusou.

A reacção em Buenos Aires à consulta popular não podia ser de maior desprezo. “Este referendo não tem base legal. Não será reconhecido pelas Nações Unidas ou pela comunidade internacional”, avisou a embaixadora argentina em Londres, Alicia Castro. Sublinhava que a ONU apenas reconheceu a Argentina e o Reino Unido como partes no conflito diplomático, que já gerou uma guerra ganha por Londres, em 1981, e não os habitantes das ilhas. 

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