Facebook russo proibido "por erro"... ou como aviso

Site VKontakte tem 210 milhões de utilizadores e Putin dá cada vez mais sinais de o querer controlar.

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O VKontakte tem sido usado para a oposição promover os protestos contra Putin Pawel Kopczynski/REUTERS

Na Rússia, a rede social onde toda a gente está não é o Facebook, é a VKontakte. E imagina o Facebook posto numa lista de sites proibidos e tirado da Internet? Esta sexta-feira, o VKontakte foi incluído numa lista de sites proibidos pelo Governo. Mas logo a seguir foi anunciado que se tratou de “um erro humano”.

Havia muito receio na Rússia desde o início do mês que as autoridades pudessem dar este passo, pois o fundador do VKontakte, Pavel Durov, de 28 anos, que tem sido comparado com Mark Zuckerberg (o fundador do Facebook), tem sido alvo do interesse do FSB, os Serviços de Segurança Federais que herdaram parte importante das funções do KGB soviético. O site de media social, com 210 milhões de utilizadores inscritos, tem sido muito usado pela oposição para organizar os protestos populares contra Vladimir Putin que se têm vindo a realizar desde Dezembro de 2011.

Várias regiões na Rússia não estão a conseguir aceder ao domínio vk.com – o que aconteceu logo depois de ter sido anunciado que o VKontakte tinha sido incluído no registo de sites proibidos (http://zapret-info.gov.ru). Em São Petersburgo, por exemplo, continua a não ser possível aceder ao site, diz a BBC Online.

Mas a agência reguladora russa para a Internet, Roskomnadzor, emitiu um comunicado a dizer que o VKontakte tinha sido colocado nesta lista “devido a erro humano”. Este registo é usado para banir da Internet sites que distribuem pornografia infantil, estupefacientes ou promovem o suicídio, mas na Rússia tem acontecido que frequentemente sites como o Google e a Wikipédia acabem também lá, “por erro”.

Um porta-voz da VKontakte, Georgi Lobushkin, disse à Reuters não ter qualquer informação sobre a decisão da Roskomnadzor.

O facto de o VKontakte ir parar à lista dos sites proibidos, por erro ou não, neste momento, não parece inocente. O seu fundador, Pavel Durov, está desaparecido desde 24 de Abril, depois de ter sido implicado num acidente de automóvel em que um polícia ficou levemente ferido. Um vídeo mostra o condutor a fugir do local do acidente – vestido de negro, no estilo característico de Durov, um aficionado do imaginário dos filmes Matrix.

Só que Durov não conduz e não tem carro. O FSB revistou vários escritórios da Vkontakte, e até a casa dos pais de Durov, sem o ter, no entanto, acusado de nada. Durov estará no estrangeiro.

Apesar de ser através do VKotankte que as pessoas se organizam para as manifestações de protesto contra Putin, o regime tinha deixado Durov mais ou menos em paz até há pouco tempo. Mas há sinais claros de que essa atitude está a mudar.

Este mês, logo a seguir a ter surgido o vídeo lançando as suspeitas sobre Durov de ter atropelando o polícia e fugido, o gestor de um fundo de investimentos próximo de Vladimir Putin comprou 48% das acções do VKontakte, surpreendendo a empresa. Outros 40% da empresa são do milionário russo Alisher Usmanov, que ajudou a lançar o VKontakte em 2006 e tem também acções no Facebook e na Apple, mas é um aliado de Putin. A Durov restam-lhe 12%.

Ilia Sherbovich, que adquiriu os 48% do VKontakte recentemente, é o tipo de homem em quem Putin confia para endireitar um negócio que saiu dos carris: no ano passado, recorda o jornal canadiano Globe and Mail, foi escolhido pessoalmente pelo Presidente para integrar o conselho de administração do gigante petrolífero russo Rosneft, depois de a maioria dos directores terem sido despedidos.

Sherbovich diz querer que Durov continue com as rédeas do negócio, mas também quer que reveja o conteúdo do site. “Vamos pôr estes temas na agenda”, disse em declarações à televisão russa.
 
 

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