Explosão no Leste do Iémen mata 22 soldados dos Emirados Árabes Unidos

Nova ofensiva da coligação saudita ganha terreno aos rebeldes, mas agrava também a crise no Iémen. Vinte e um milhões de pessoas precisam de ajuda humanitária.

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Fumo da explosão em Marib. Nunca tinham morrido tantos militares da coligação como nesta sexta. Mohammed Huwais/AFP

Vinte e dois soldados dos Emirados Árabes Unidos morreram nesta sexta-feira no Iémen, vítimas de uma explosão numa base militar em Marib, no Leste do país. Os militares faziam parte da coligação de países islâmicos comandada pela Arábia Saudita, que recentemente enviou tropas para o Iémen. Combatem os rebeldes huthis e milícias leais ao ex-Presidente Ali Abdullah Saleh, que ainda controlam a maior parte do país, incluindo a capital Sanaa.

Há duas versões para o que aconteceu nesta sexta-feira. Os rebeldes huthis, xiitas que recebem algum apoio do Irão, dizem que dispararam um rocket contra um depósito de armas e que a explosão destruiu também vários helicópteros Apache. Mas fontes do exército iemenita disseram à AFP que a explosão foi acidental. Já outros cinco militares dos Emirados haviam morrido na ofensiva terrestre da coligação, mas este é por muito o caso mais mortífero a atingir o esforço militar estrangeiro desde o início da ofensiva saudita.

Desde meados de Julho que a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos têm enviado discretamente colunas militares e armamento pesado para o Iémen, incluindo dezenas de tanques, helicópteros e veículos blindados. A coligação liderada por Riad admite que tem tropas na frente de combate, mas diz que estas estão lá para operar veículos e treinar militares do exército fiel ao Presidente Abdur Mansur Hadi, que fugiu do Iémen para a capital saudita perante o avanço dos rebeldes. Segundo estimativas não oficiais, há entre 3000 a 5000 soldados estrangeiros no país.

Têm sido determinantes para o curso da guerra. Os rebeldes huthis perderam já vários terrenos no Sul, onde entram também em jogo grupos separatistas regionais, que se aliaram temporariamente à coligação saudita e, também, o poderoso braço da Al-Qaeda no Iémen, cada vez mais forte no Sudeste. Agora luta-se pela cidade de Taiz, a terceira maior do Iémen, a cerca de 120 quilómetros da cidade portuária de Aden, que foi durante meses a princila frente da guerra. Em apenas duas semanas, a batalha por Taiz matou mais de cem civis e destruiu seis hospitais, diz a ONU.  

O pano de fundo humanitário para a guerra no Iémen é grave. Antes um dos países mais pobres da região, o Iémen tem agora 21 milhões de pessoas, ou 80% da sua população, a precisar de algum tipo de assistência humanitária, segundo os últimos dados das Nações Unidas. Mais de metade da população tem necessidades ou insegurança alimentar, cerca de 20 milhões de pessoas tem dificuldades em obter água potável e à volta de 15,2 milhões de iemenitas não têm acesso a cuidados médicos essenciais.

Parte deste contexto humanitário é produto da intervenção saudita, que começou a bombardear o país em Março e impôs um bloqueio naval que impede a chegada de combustível e alimentos às zonas de influência huthi. Segundo a organização humanitária Human Rights Watch, há provas de bombardeamentos da coligação a alvos civis e industriais, alguns deles com bombas de estilhaços, como as bombas-barril utilizadas por Bashar al-Assad na Síria. A organização diz que os jactos da coligação mataram já centenas de civis – morreram cerca de 4000 pessoas no Iémen desde Março e perto de 1,2 milhões fugiram de suas casas.

Pistas de paz

À medida que se agrava a situação no terreno para rebeldes huthis e milícias leais a Saleh, suavizam-se as posições das suas lideranças políticas. Os encontros desta semana em Omã entre o enviado das Nações Unidas para o Iémen, representantes dos rebeldes e o Governo exilado em Riad acabaram novamente num impasse, embora com avanços inéditos. Segundo avança a AFP, os rebeldes huthis aceitaram pela primeira vez entregar posições suas no Centro e Sul do país, com vista a um cessar-fogo. A ONU exigia-o desde Abril.

Mas, no final, o Governo exilado de Hadi acabou por fechar a porta a um acordo de trégua com os rebeldes, por considerarem que as cedências dos rebeldes eram “vagas”. Embalado pelas vitórias no terreno, o executivo em Riad fez uma nova exigência: o líder huthi, Abdul-Makel al-Huthi deve fazer um discurso televisivo em que reconheça Hadi como o Presidente legítimo do Iémen. Algo que os responsáveis huthis rejeitaram e disseram ser uma medida que “paralisava” as negociações. 

 

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