Europa pouco impressionada com hiperactividade dos aviões militares russos

"Questão política" da Ucrânia apontada como razão para demonstração de força militar russa. Não se prevê que a NATO aumente níveis de vigilância.

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Uma imagem divulgada pelo Exército norueguês mostra um F-16 a escoltar um Tupolev TU-95 russo REUTERS/Norwegian NATO QRA Bodø

A chanceler alemã desvalorizou as movimentações aéreas dos militares russos sobre o Atlântico: “Não estou muito preocupada.” Foi assim que Angela Merkel reagiu às operações que nos últimos dias sofreram uma escalada e levaram mesmo a NATO a reportar o conjunto de intercepções realizadas anteontem.

Numa frase, a responsável alemã resumia a leitura feita no Velho Continente no rescaldo dos voos militares detectados. E que foram associados à “crise política” gerada pela situação ucraniana. "O sistema [de vigilância da NATO] funcionou na normalidade", resumiu ontem o ministro da Defesa, José Pedro Aguiar-Branco, a partir da Colômbia.

O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, sublinhou no entanto o aumento recente das intercepções de aviões russos do espaço aéreo dos países da Aliança Atlântica "no Mar do Norte, no Báltico e até no Mar Negro", que são "mais de 100".

O deputado socialista Miranda Calha e membro da Assembleia Parlamentar da NATO interpretou os voos que na quinta-feira chegaram até ao largo da costa portuguesa como uma “demonstração exterior do senhor Putin mais para afirmação interna”. Lembrando a “questão política” da “crise na Ucrânia”, Calha elencou também os relatos da hiperactividade militar russo nos ares europeus. Em diferentes dias da semana há relatos de intercepções com “19 aviões russos”.

“Não é vulgar esta movimentação e em certa medida parece uma escalada, mas houve uma resposta adequada por parte da NATO”, concluiu o ex-secretário de Estado da Defesa e actual vice-presidente da Assembleia da República. Calha não acredita que estes episódios resultem numa reacção por parte dos países-membros da Aliança. “O que há a fazer é continuar atento”, resumiu.

Na quinta-feira, dois caças F-16 portugueses interceptaram, identificaram e escoltaram dois aviões militares russos em espaço aéreo internacional sob responsabilidade de Portugal.

Segundo o Estado-Maior General das Forças Armadas (EMGFA), foram "detectadas duas aeronaves não identificadas em espaço aéreo de responsabilidade portuguesa" e " accionados os meios de alerta previstos neste tipo de situações no quadro da NATO, tendo dois caças F-16 portugueses identificado duas aeronaves militares russas, que encaminharam para fora do espaço aéreo de responsabilidade nacional".

Foi em 2007 que a Força Aérea Russa retomou o patrulhamento aéreo no oceano Atlântico e Pacífico, depois de um hiato de 15 anos. Na altura, Vladimir Putin justificou a decisão como uma resposta às “ameaças militares” que pendiam sobre a Rússia. Nesse ano, a NATO começava a ponderar a instalação de sistemas anti-míssil na República Checa e Polónia.

Desde então que os bombardeiros TU-95 têm testado o nível de prontidão da resposta ocidental. Desde logo no Báltico e no Mar do Norte, mas também ao largo do Reino Unido, dos Estados Unidos (principalmente nas proximidades do Alasca), do Canadá e até no Japão.

O alerta sobre as movimentações russas foi lançado pelo Allied Command Operations, estrutura responsável pelo planeamento e execução das operações levadas a cabo pela NATO. Quinta-feira relatou um “nível invulgar de actividade aérea no espaço europeu”.

Da parte da Rússia, veio apenas a público um comunicado para frisar que os aviões não tinham violado o espaço aéreo de qualquer membro da NATO. "Aviões russos, cumprindo as normas do Direito Internacional, realizaram voos em espaço aéreo sobre águas internacionais, sem entrar de modo nenhum em espaços aéreos de outros Estados", sustentou a embaixada em Lisboa, antes de lembrar a liberdade de voo sobre as águas internacionais. "As normas do Direito Internacional não prevêem quaisquer restrições e não obrigam a dar pré-avisos acerca de voos de aviões no espaço aéreo sobre águas internacionais".

Já o ministro da Defesa de Portugal, que estava na Colômbia aquando do incidente, veio a público para corrigir “a informação dos media portugueses”. Frisou que a intercepção "não foi em espaço aéreo nacional" mas "em espaço aéreo sob jurisdição nacional".  

"A informação dos media portugueses sobre a alegada violação do espaço aéreo português pelos aviões russos não corresponde à verdade", concluiu antes de explicar a razão da reacção das Forças Armadas. Como os aviões militares russos "não estavam a fazer a sua circulação nas condições necessárias em termos de tráfego aéreo internacional", o comando da NATO "solicitou a intervenção dos F-16" que "estão sempre em prontidão na Base de Monte Real".

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