Eurocéptico na pasta dos Negócios Estrangeiros da Finlândia

Para além do líder do partido Os Finlandeses, defensor da "linha dura" quanto aos resgates na zona euro, o novo executivo vai incluir o partido do Centro e o ex-primeiro-ministro pró-europeu, Alexander Stubb.

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Timo Soini lidera o partido eurocéptico há 18 anos Jonathan Nackstrand / AFP

Ao fim de mais de um mês de negociações, a Finlândia anunciou esta quarta-feira a composição do novo Governo. Os eurocépticos e nacionalistas do partido Os Finlandeses, cujo líder irá ocupar a pasta dos Negócios Estrangeiros e dos Assuntos Europeus, integram pela primeira vez um executivo.

A última vez que a Finlândia tinha ido a eleições, em 2011, a Europa estava mergulhada em pleno na crise do euro e o debate em torno dos programas de resgate dominava a agenda. Na altura, o partido eurocéptico que se chamava Verdadeiros Finlandeses conseguiu 19% dos votos, mas recusou integrar o Governo.

Quatro anos depois, com outro nome e menos votos – contrariando a tendência europeia de favorecimento das formações eurocépticas – o polémico Timo Soini, que lidera o partido eurocéptico há 18 anos, entra finalmente no executivo finlandês. O partido é conhecido por fazer parte da “linha dura” nos debates sobre os programas de resgate aplicados aos países da zona Euro, como Portugal.

Na campanha de 2011, Soini apostou forte na crítica aos empréstimos aos Estados em dificuldades e, mais tarde, chegou mesmo a pôr em causa a aprovação do programa aplicado a Portugal. Agora, o tom do partido baixou, concentrando-se sobretudo na crise económica que a própria Finlândia atravessa: a economia está em queda há três anos consecutivos e o país já recebeu avisos de Bruxelas por causa do aumento da dívida pública e do défice orçamental. Porém, ainda este mês, Soini disse que faria sentido que a Grécia abandonasse a zona euro, apesar de ter ficado acordado entre os membros do Governo que seria aprovado um terceiro resgate, caso fosse necessário.

Nos últimos dias já se adivinhava a composição do Governo finlandês. O líder do Partido de Centro e futuro primeiro-ministro, Juha Sipila, tinha anunciado a abertura das negociações aos Finlandeses, com o objectivo de alcançar um acordo de coligação abrangente – uma prática comum na Finlândia. A grande dúvida, de acordo com a imprensa finlandesa, era se Soini iria ficar com os Negócios Estrangeiros ou as Finanças.

Para tentar encontrar um equilíbrio na composição do Governo, Sipila escolheu o primeiro-ministro anterior e líder dos conservadores, Alexander Stubb, um europeísta, para a pasta das Finanças. Os três líderes partidários apresentaram em conjunto o novo Governo numa conferência de imprensa em Helsínquia e a nomeação oficial deverá acontecer na sexta-feira, diz a Reuters.

Para já desconhece-se a forma como irá o novo Governo apresentar posições comuns em temas como a Europa ou a defesa. Apesar de se comprometer com a permanência na União Europeia, o programa dos Finlandeses refere claramente a necessidade de renegociar os termos da adesão e até a devolução de alguns poderes comunitários.

“A Finlândia é um Estado-membro activo, pragmático e que deseja resultados concretos. Iremos procurar uma forma crítica, construtiva e cooperativa de combinar os interesses nacionais e comuns na Europa”, disse Timo Soini.

Uma das principais questões que promete dividir o novo Governo é a possível adesão da Finlândia à NATO. O programa do executivo contempla uma cláusula que prevê um pedido de adesão “a qualquer altura”, revela o site de notícias especializadas na área da defesa, Defense News. Para além da irritação que uma política deste género deverá despertar em Moscovo, os Finlandeses, defensores de uma política de defesa independente, também devem apresentar objecções. Alexander Stubb disse recentemente que é “importante” manter aberta a opção de entrada na Aliança Atlântica.

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