EUA reforçam defesa antimíssil para responder à ameaça coreana

Secretário da Defesa anunciou que vão ser instalados mais 14 interceptores de mísseis intercontinentais na Costa Oeste, dias depois de Pyongyang ter ameaçado EUA com "ataque nuclear preventivo".

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Os EUA querem deixar claro que "se mantêm firmes contra a agressão" Paul J. Richards/AFP

O Pentágono anunciou que vai reforçar as suas defesas antimíssil, colocando 14 novos interceptores na Costa Oeste, em resposta às “provocações irresponsáveis e imprudentes” da Coreia do Norte, que na semana passada ameaçou lançar um ataque nuclear preventivo contra os Estados Unidos.

O projecto anunciado sexta-feira à noite pelo secretário de Defesa, Chuck Hagel, implica a desistência da quarta e última fase do sistema de defesa antimíssil planeado para a Europa, em articulação com a NATO. Mas Washington garante que as três fases já em execução serão suficientes para proteger a totalidade do território europeu aliado até 2018.

Os 14 interceptores terrestres (conhecidos pela sigla em inglês, GBI) deverão ser instalados até 2017 na costa do Pacífico, juntando-se aos 26 já em funcionamento no Alasca e numa base da Força Aérea na Califórnia. Segundo a Reuters, a sua instalação custará cerca de mil milhões de dólares aos cofres do Pentágono e contraria o limite fixado em 2010 pelo Presidente Barack Obama, que pretendia limitar a 30 o número de interceptores balísticos estacionados em território norte-americano.

Hagel anunciou ainda a instalação de um segundo radar TPY-2 – concebido para detectar o disparo e seguir a trajectória de mísseis intercontinentais – no Japão. O sofisticado equipamento será montado numa base da Força Aérea japonesa na costa noroeste do país. Em cima da mesa está também a possibilidade, há muito reclamada pelos republicanos, de instalar interceptores antimísseis na Costa Leste dos EUA, com a criação de um grupo de estudo ambiental para identificar um local para a instalação do sistema.

"Ao dar estes passos quero mostrar que vamos reforçar a defesa do nosso território, mantendo os compromissos com os nossos aliados e parceiros, deixando claro ao mundo que os EUA se mantêm firmes contra a agressão", sublinhou Hagel, num recado enviado a Pyongyang, mas que ressoará também noutras capitais.

Os peritos coincidem na avaliação de que a Coreia do Norte não tem ainda capacidade para atingir o território continental americano – o mesmo não sucede com o Havai, por exemplo – mas o Pentágono faz saber que pretende antecipar-se à ameaça. Washington recorda que, em Dezembro, o regime norte-coreano lançou com sucesso um foguetão (que partilha todas as características com um míssil intercontinental, idêntico ao que poderá ser usado para transportar ogivas nucleares) e, em Fevereiro, terá realizado o seu terceiro ensaio nuclear.

A ousadia valeu-lhe uma nova ronda de sanções das Nações Unidas, a que Pyongyang reagiu com uma bravata como há muito já não se assistia: denunciou o armistício assinado com a Coreia do Sul em 1953 e avisou os Estados Unidos para o risco de um "ataque nuclear preventivo" por causa da sua actividade militar na região.

Num relatório entregue na passada terça-feira ao congresso, o director nacional das secretas americanas, James Clapper, conclui que a Coreia do Norte não utilizará o seu arsenal nuclear a menos que sinta a sua existência ameaçada. "Mas nós não sabemos o que para o regime norte-coreano poderá constituir a ultrapassagem desta linha", acrescentou, citado pela AFP.

Na conferência de sexta-feira, o Pentágono garantiu ter comunicado os seus planos previamente à China, vizinho e aliado (cada vez mais reticente) de Pyongyang, não revelando que reacção obteve. Pequim tem respondido com desagrado à intenção norte-americana de recentrar as suas preocupações militares no Pacífico – seja o destacamento para a região de mais meios, seja a venda de armamento sofisticado a Taiwan e ao Japão – e, ainda em Janeiro, anunciou que vai desenvolver um sistema antimíssil próprio.

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