EUA atiram responsabilidades sobre voo de Morales para Portugal, Espanha, França e Itália

A porta-voz do Departamento de Estado norte-americano diz que "a pergunta deve ser feita a esses países". Ministério dos Negócios Estrangeiros português declara que "lamenta qualquer incómodo", mas considera-se "totalmente alheio a esse incómodo". Bolívia admite expulsar diplomatas de Portugal, França e Itália.

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O avião de Evo Morales chegou a La Paz depois de uma paragem inesperada em Viena, na Áustria Jarbas Oliveira/Reuters

A Casa Branca confirma que manteve contactos com países a quem o analista informático Edward Snowden pediu asilo, mas passou a responsabilidade da polémica sobre o voo do Presidente da Bolívia, Evo Morales, para os quatro Estados envolvidos, entre os quais Portugal. "As decisões foram tomadas por países individuais e essa pergunta deve ser feita a esses países", afirmou a porta-voz do Departamento de Estado, Jen Psaki.

"Temos mantido contacto com vários países que tiveram a oportunidade de acolher Snowden, ou pelos quais ele poderia passar, mas não vou mencionar quais foram esses países, nem quando ocorreram esses contactos", disse ainda a porta-voz do Departamento de Estado na sua conferência de imprensa diária. No fim-de-semana, o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, telefonou ao Presidente do Equador, Rafael Correa, que descreveu a conversa como "amável".

Desde que o trajecto do voo do Presidente Evo Morales de Moscovo para La Paz foi alterado, na terça-feira – devido à suspensão de autorização de aterragem e sobrevoo nos espaços aéreos de Portugal, França e Itália –, o Ministério dos Negócios Estrangeiros português apenas se referiu ao caso na quarta-feira, em comunicado: "No dia 1 de Julho, segunda-feira, às 16h28, foi comunicado às autoridades da Bolívia que a autorização de sobrevoo e aterragem, solicitada para o percurso de regresso Moscovo-La Paz, estava cancelada por considerações técnicas."

O PÚBLICO tem tentado contactar o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Miguel Guedes, desde a manhã de quarta-feira, para esclarecer que tipo de "considerações técnicas" levaram ao cancelamento da autorização de aterragem em Lisboa, e obter um comentário sobre a acusação do Presidente da Bolívia de que Portugal suspendeu o sobrevoo e proibiu a aterragem devido a "suspeitas infundadas" de que Edward Snowden seguia a bordo, mas até ao momento não obteve qualquer resposta.

O caso do voo do Presidente Evo Morales provocou uma crise diplomática entre a Bolívia – com o apoio de países como a Argentina e a Venezuela – e os países europeus em causa, com o Parlamento boliviano a propor a expulsão dos representantes diplomáticos de Portugal, França e Itália.

A contestação a Lisboa, Paris, Madrid e Roma ouve-se nas ruas de La Paz desde a noite de terça-feira, com manifestações nas proximidades das representações diplomáticas destas capitais. O cônsul de Portugal em La Paz, George Rezvani Albuquerque, disse na quarta-feira à rádio TSF que o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal já enviou uma carta às autoridades bolivianas, mas recusou-se a comentar o conteúdo. Portugal não tem embaixador na capital da Bolívia – para além do consulado em La Paz, há também um consulado em Santa Cruz de la Sierra, ambos dependentes da embaixadora de Portugal em Lima (Peru), Helena Margarida Rezende de Almeida Coutinho.

França pede desculpas
No comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros português, lê-se que o Governo "lamenta qualquer incómodo junto das autoridades bolivianas, mas considera-se totalmente alheio a esse incómodo".

O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros de França, Philippe Lalliot, também lamentou o incidente, admitindo uma "confirmação tardia" das autoridades francesas: "O ministro dos Negócios Estrangeiros telefonou ao seu homólogo boliviano para lhe dizer que a França lamenta o incidente causado pela confirmação tardia da autorização para o sobrevoo do avião do Presidente Morales."

A posição de Espanha é um pouco diferente, o que tem aparentemente beneficiado a imagem do país na Bolívia em relação a Portugal, França e Itália. Segundo os media espanhóis, as autoridades do país disponibilizaram-se para abrir os seus aeroportos ao avião de Evo Morales após a recusa de Portugal, mas a posição de Lisboa, de Paris e de Roma tornou essa opção inviável, tendo o aparelho aterrado em Viena, na Áustria, onde ficou retido durante 13 horas.

Apesar disso, o jornal El País escreve que o ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol, José Manuel García-Margallo, manteve negociações com o seu homólogo boliviano, David Choquehuanca, enquanto o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros espanhol, Gonzalo Benito, negociava com as autoridades norte-americanas. Segundo o jornal, o Governo de Espanha disponibilizou-se para resolver a situação, mas o ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol terá pedido garantias ao Presidente da Bolívia de que Edward Snowden não estava no avião.
 
 

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