EUA acusam Rússia de "alimentar conflito" na Ucrânia na 26.º reunião do Conselho de Segurança

Reunião de emergência convocada pelos Estados Unidos serviu apenas para nova troca de acusações. Veículo que serve para transportar militares russos mortos em combate foi avistado a entrar na Ucrânia, diz a OSCE.

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A Rússia nega movimentações militares ao longo da fronteira com a Ucrânia MENAHEM KAHANA/AFP

O Conselho de Segurança das Nações Unidas reuniu-se pela 26.ª vez desde o início do conflito na Ucrânia e o resultado final também não foi uma surpresa para ninguém. Os Estados Unidos voltaram a acusar a Rússia de estar a "alimentar o conflito" e a Rússia voltou a acusar os Estados Unidos de estarem a fazer propaganda, mas não houve nenhuma proposta concreta para reduzir a tensão, que voltou a atingir níveis preocupantes nas últimas duas semanas.

A reunião foi convocada depois de o principal líder militar da NATO, o general norte-americano Philip Breedlove, ter afirmado que as fronteiras entre a Rússia e a região controlada pelos separatistas pró-russos, no Leste da Ucrânia, têm sido pontos de passagem de "tanques russos, artilharia russa, sistemas de defesa aérea russos e tropas de combate russas" nos últimos dias.

"O que mais me preocupa é que a fronteira entre a Rússia e a Ucrânia está completamente porosa. Combatentes, dinheiro, apoio, abastecimentos e armas passam de um lado para o outro sem qualquer controlo. A situação não é boa", disse o general.

Na reunião de emergência que se seguiu às declarações do responsável militar da NATO, convocada pelos EUA, os representantes do Conselho de Segurança voltaram a trocar acusações.

A embaixadora norte-americana na ONU, Samantha Power, sentiu-se obrigada a justificar o facto de esta ser a 26.ª vez que o Conselho de Segurança se reúne para discutir a crise no Leste da Ucrânia, mas defendeu que "é por uma boa razão".

"Se a nossa mensagem, e a mensagem de outros países, sobre a deterioração da situação no Leste da Ucrânia soa familiar, é por uma boa razão. Ainda que haja desenvolvimentos recentes, a raiz do problema mantém-se: a flagrante violação da soberania e da integridade territorial da Ucrânia pela Rússia", disse Samantha Power.

A representante dos EUA acusou os separatistas das autoproclamadas repúblicas populares de Donetsk e de Lugansk de terem aproveitado o acordo de cessar-fogo assinado em Minsk no dia 20 de Setembro para reforçarem o seu poder militar, com a ajuda da Rússia.

"A Ucrânia continua a respeitar o cessar-fogo ao longo das zonas demarcadas, enquanto defende mais uma vez as suas forças e a sua população dos avanços dos separatistas. Nos últimos dias, o número de ataques dos separatistas aumentou de forma considerável, contra posições no aeroporto de Donetsk, na cidade de Debaltseve e, é claro, perto de Mariupol", disse a responsável norte-americana.

Do lado russo, a resposta foi a mesma de sempre, num sublinhado da posição oficial do Kremlin desde o início dos combates, em Abril – a Rússia nunca enviou para o Leste da Ucrânia nenhum militar, e todos os que por lá passarem são voluntários.

O vice-representante permanente da Rússia na ONU, Alexander Pankin, disse que as reuniões do Conselho de Segurança correm o risco de se tornarem "uma farsa", e acusou os EUA de estarem a fazer "mais uma incursão na propaganda, com novos floreados".

Nesta quinta-feira, em Moscovo, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Alexander Lukashevich, desmentiu as acusações da NATO, em declarações à agência Itar-Tass. "Digo-lhe de forma oficial que não há, nem nunca houve, quaisquer unidades nem movimentações militares ao longo da fronteira entre a Rússia e a Ucrânia no Sudeste da Ucrânia. Em vez de relatarem os factos, apenas apresentam acusações infundadas", acusou.

Para além da NATO, também a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) tem relatado movimentações militares ao longo da fronteira. No seu relatório semanal, publicado na quarta-feira, os observadores da organização dizem que viram um veículo com a inscrição "Gruz 200" a entrar na Ucrânia, vindo da Rússia – como explica a OSCE, a inscrição "Gruz 200" é "um conhecido código militar russo para 'pessoal militar morto em combate'".

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