"Este é um dia que só acontece uma vez na vida"

Houve quem não tivesse dormido para votar logo pela manhã. Num dia histórico para a Escócia, quase ninguém quis ficar em casa

Fotogaleria
Edimburgo AFP PHOTO / LEON NEAL
Fotogaleria
Edimburgo AFP PHOTO / LEON NEAL
Fotogaleria
Castelo de Edimburgo AFP PHOTO / LESLEY MARTIN
Fotogaleria
Preparativos numa secção de voto AFP PHOTO / LEON NEAL
Fotogaleria
Edimburgo AFP PHOTO / LEON NEAL
Fotogaleria
Edimburgo AFP PHOTO / LEON NEAL
Fotogaleria
Bandeira escocesa cobre Sir Walter Scott AFP PHOTO / LESLEY MARTIN
Fotogaleria
Glasgow AFP PHOTO / IAN MACNICOL
Fotogaleria
Parlamento, Londres REUTERS / Luke MacGregor
Fotogaleria
Estrada em North Uist REUTERS / Cathal McNaughton
Fotogaleria
Pitlochry REUTERS / Russell Cheyne
Fotogaleria
Em Gibraltar segue-se a votação com interesse REUTERS / Jon Nazca
Fotogaleria
Secção de voto em Coulags, Highlands REUTERS / Cathal McNaughton
Fotogaleria
Waternish REUTERS / Cathal McNaughton
Fotogaleria
Glasgow AFP PHOTO / IAN MACNICOL
Fotogaleria
The Braes REUTERS / Cathal McNaughton
Fotogaleria
Aberdeen REUTERS / Dylan Martinez
Fotogaleria
Pitlochry REUTERS / Russell Cheyne
Fotogaleria
Alex Salmond antes de votar, Strichen REUTERS / Dylan Martinez

Levantaram-se bem cedo, chegaram às secções de voto ainda as portas estavam fechadas e a manhã mal tinha começado. Uns, para fugir às filas que se anunciavam e chegar a tempo ao trabalho, outros, por não quererem esperar nem mais um minuto para marcar no papel uma decisão que consideram histórica.

“Esta é a primeira vez que voto estando 100% seguro de mim”, disse à enviada do jornal francês Le Monde Jamie Brotherson, escocês de 22 anos que chegou à mesa de voto instalada numa escola na zona oeste de Glasgow ao raiar de uma manhã nebulada e fria. Confessou não ter conseguido pregar olho durante a noite anterior, antecipando o momento em que iria colocar a cruz no quadrado do “sim” à pergunta “Deve a Escócia ser uma nação independente?”.

“Esta é a primeira vez que sinto que tenho influência sobre o curso da história”, disse ao mesmo jornal Jessica MacGinty, de 25 anos e t-shirt decorada com os pins azuis da campanha pela independência. Oriunda da Irlanda e dizendo “sentir-se mais escocesa do que nunca”, não escondia o seu orgulho por poder escolher de forma pacífica a saída do Reino Unido que os seus antepassados conseguiram pelas armas.

Brotherson e MacGinty estão ambos na faixa etária que, segundo as sondagens, se mostra mais favorável a uma independência que só nas últimas semanas se tornou uma hipótese real. Entre os mais velhos, a hipótese de uma cisão com Londres nunca gerou grande simpatia, até porque em jogo estão, entre outras coisa, as reformas que descontaram durante décadas para a segurança social britânica. “A independência é para os povos escravizados e nós não somos”, indignava-se Mai Raj, um médico reformado ouvido pelo New York Times, dando como exemplo a Índia, seu país de origem, que teve de revoltar-se contra um país colonizador. “Mas ser uma colónia é uma coisa muito diferente de fazer parte da união”.

“História”, “destino”, “futuro” foram palavras repetidas ao longo do dia por quem entrava e saía das 2600 mesas de voto espalhadas pela Escócia – das grandes cidades, às ilhas remotas –, umas com filas maiores do que as outras, mas todas com níveis de afluência muito superiores aos de eleições normais. “Este é um dia muito especial, só acontece uma vez na vida”, disse à AFP Peter Macvean, presidente da secção de voto 317, na zona oriental de Edimburgo, a capital escocesa, explicando uma afluência que, ainda a manhã ia a meio, e ele já previa que poderia chegar aos 90%.

Os últimos tempos de campanha foram intensos, sobretudo depois de, a uma semana e meia da votação, terem surgido as primeiras sondagens a admitir a hipótese de uma vitória do “sim”. O entusiasmo cresceu, mesmo entre aqueles que à partida não se definiam como independentistas, e o debate acabou por dividir vizinhos, famílias e até casais. Nos últimos dias, responsáveis da campanha pelo “não” denunciaram um clima de intimidação, com alguns incidentes menores à mistura, como o que levou o líder dos trabalhistas britânico, Ed Miliband, a abandonar uma arruada depois de ter sido insultado por apoiantes do "sim".

Durante a votação desta quinta-feira, o ambiente foi sobretudo festivo, sem incidentes de relevo. Mas quando as urnas fecharem e os votos estiverem contados, os ânimos podem alterar-se. “Se perdemos, o choque vai ser violento”, disse ao Le Monde Ivan McKee, um activista do “sim” em Glasgow que nos últimos dois anos dedicou dez horas por semana à campanha. Uma desilusão que muitos asseguram que será pacífica, mas que outros temem possa gerar conflitos. “Os estragos que este referendo provocou! Dividiu famílias e comunidades, é verdadeiramente assustador”, lamentou-se à AFP Alistair Easter, um apoiante do “não” de Edimburgo, avisando que  a divisão vai demorar “muito tempo” a ser sarada.  

Sugerir correcção
Comentar