Estado Islâmico planta minas e explosivos em Palmira

Plano pode ser evitar o avanço das forças do regime de Bashar al-Assad. Mas a cidade-oásis, Património da Humanidade, não fica por isso mais segura.

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A antiga cidade fica 215 quilómetros a nordeste de Damasco Joseph Eid/AFP

As imponentes ruínas romanas da cidade de Palmira, desde Maio sob controlo dos radicais do autodesignado Estado Islâmico, estão agora minadas. O Observatório Sírio dos Direitos Humanos confirmou este domingo que os jihadistas colocaram “numerosos” explosivos e minas em vários pontos do sítio arqueológico, um dos mais importantes da Síria, considerado Património da Humanidade pela UNESCO desde 1980.

Não é certo que o plano seja fazer explodir a cidade do deserto do centro do país – a guerra fez desaparecer várias jóias do património sírio, como a Cidade Velha de Alepo, mas nos últimos meses os radicais destruíram intencionalmente património arqueológico no Iraque, o acervo do museu de Mossul, partes das cidades de Nimrud, nas proximidades de Mossul, um dos centros do antigo império Assírio, ou de Hatra, fundada há cerca de 2400 anos.

Aliás, depois de tomar a cidade-oásis, o Estado Islâmico chegou a garantir que “só” ia tocar nas estátuas dos “ídolos que os infiéis adoram”, assegurando que iria preservar a maioria dos monumentos de Palmira, como as imponentes colunas ou o Templo de Bel, um dos vários edifícios que sobreviveram e permitem ter noção do era a cidade no seu conjunto.

As minas e os explosivos não servem para destruir estátuas – isso tem sido feito pelos radicais à marretada ou com ajuda de escavadoras. A ideia pode ser evitar o avanço das forças do regime de Bashar al-Assad, expulsas pelos combatentes estrangeiros mas ainda estacionadas por perto.

De acordo com o director do Observatório Sírio dos Direitos Humanos, Rami Abdel Rahman, têm chegado reforços à zona onde os soldados sírios se mantêm nos arredores de Palmira, o que “sugere que podem estar a planear uma operação”.

A aviação de Assad também tem atacado com força a parte residencial de Palmira, uma terra pobre, na qual o regime nunca investiu, e habitada na sua maioria por beduínos e donos de pequenos hotéis e restaurantes. Pelo menos 11 pessoas morreram nestes bombardeamentos, diz a ONG com sede em Londres mas uma vasta rede de activistas no terreno.

O chefe da agência das Antiguidades síria, Maamoun Abduljarim, disse à Reuters que as notícias sobre os explosivos “parecem ser verdadeiras”, descrevendo Palmira como “refém” dos jihadistas.

Para Assad, mais do que preservar as ruínas, está em jogo o controlo de uma rota fundamental, a estrada que liga a capital, Damasco, ainda a sua sede de poder, quatro anos e meio de conflito e 230 mil mortos depois, à contestada cidade de Deir Ezzor, no Leste do país.

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