Estado Islâmico mata 45 polícias iraquianos em novo ataque suicida

Atentados suicidas com veículos blindados começam a fazer parte da estratégia central dos extremistas islâmicos. Num segundo ataque, morreram 33 militares numa emboscada dos fundamentalistas.

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Primeiro-ministro iraquiano diz que as forças do Governo não entrarão por agora em Ramadi com receio de novos carros e camiões bomba Mohammed Sawaf / AFP

Num dia negro para o Governo iraquiano, pelo menos 45 polícias morreram nesta segunda-feira, vítimas de um ataque suicida lançado pelo autoproclamado Estado Islâmico contra uma base das forças de segurança em Tharthar, a norte de Falluja, cidade a oeste de Bagdad controlada pelos jihadistas. O ataque matou vários altos-cargos da polícia e, segundo a BBC, feriu ainda 33 pessoas, incluindo Moussa Haider, general brigadeiro do Exército.

Este foi apenas um dos dois ataques contra as forças de Bagdad. No mesmo dia, numa ofensiva distinta, morreram 33 militares numa emboscada do mesmo grupo. O ataque surpreendeu militares e combatentes das milícias xiitas em Seddiqiya e, de acordo com a Al-Jazira, feriu 40 pessoas. Numa questão de horas, morreram 77 combatentes leais ao Governo e, segundo as autoridades iraquianas o número de vítimas do atentado na base de Thartha deve aumentar. 

No ataque suicida foram utilizados três blindados (Humvees, viaturas blindadas que os Estados Unidos introduziram no país e continuaram a vender a Bagdad), de entre os milhares que foram capturados pelos radicais islamistas às forças iraquianas ao longo dos últimos meses, como admitiu o primeiro-ministro, Haider al-Abadi, no domingo. Só em Mosul, disse Abadi, o exército perdeu para os jihadistas 2300 Humvees comprados aos EUA. As explosões desta segunda-feira atingiram ainda um depósito de armas do exército, cujas munições explodiram ao cabo de várias horas. 

Os ataques suicidas têm desempenhado um papel cada vez mais central na estratégia militar do autoproclamado Estado Islâmico. Os islamistas já antes lançaram vários atentados suicidas de grande dimensão, em especial em Kobane, na Síria, junto à fronteira com a Turquia, mas nada como a dimensão que agora se vê na província em Anbar, no Iraque, onde têm dependido desta táctica para avançarem no terreno e se agarrarem às posições já conquistadas.

O ataque desta segunda-feira foi, aliás, o terceiro atentado suicida em menos de uma semana nos arredores de Falluja a matar dezenas de militares iraquianos de uma só vez. No domingo, o grupo matou 20 militares num quartel com oito carros armadilhados; na sexta-feira, uma série de ataques suicidas contra uma coluna militar a caminho de Ramadi matou 55 pessoas, incluindo 17 soldados.

Os extremistas “estão a utilizar estes carros bomba com um efeito devastador”, escreve o enviado da Al-Jazira em Bagdad, Imran Khan. "É muito difícil para o exército iraquiano defender-se contra estes carros.”

“Pequenas bombas nucleares”
Foi graças a uma vaga de poderosos ataques suicidas que o Estado Islâmico conseguiu conquistar Ramadi, a capital de Anbar. Durante 18 meses, os islamistas foram incapazes de ultrapassar as defesas do Exército iraquiano e entrar na cidade.  Mas as linhas defensivas não resistiram aos 30 veículos armadilhados  que foram lançados pelos extremistas ao longo do mês de Maio. Alguns deles, os conhecidos “camiões bomba” – veículos pesados e blindados artesanalmente com jaulas de aço –, destruíram quarteirões inteiros.

“O ataque de Ramadi causou choque e pavor numa escala completamente diferente”, disse à AFP Andrew Terril, professor no Instituto de Estudos Estratégicos do Exército norte-americano. Os “camiões bomba” utilizados em Ramadi, explica a agência, podem atingir o mesmo potencial de destruição que um ataque aéreo com bombas de 450 quilos. “A força aérea de um homem pobre”, explica Mike Davis, historiador norte-americano.

A utilização destes veículos blindados em ataques suicidas, capazes de resistirem a grande parte da artilharia do Exército, pode fazer tombar a balança a favor dos jihadistas, como aconteceu em Ramadi. Poucos dias depois da queda da capital de Anbar, aliás, os Estados Unidos anunciaram que iriam enviar 2000 armas antitanque, modelo AT4, para Bagdad.

As armas vieram também como resposta ao pedido primeiro-ministro iraquiano, que disse que o seu Exército não tinha condições para resistirem a estes camiões bomba e que o que estava em causa não era a “vontade de combater”, como insinuara o secretário norte-americano da Defesa, Ashton Carter.

“[Os militares] têm vontade de combater, mas quando enfrentam uma investida de nenhures… com camiões blindados cheios de explosivos, cujo efeito é o de uma pequena bomba nuclear, isso causa um efeito muito, muito mau nas nossas forças”, disse então Abadi.

Mas o armamento antitanque enviado pelos Estados Unidos poderá ter pouco efeito nas ruas pequenas ruas de Ramadi, onde se podem ocultar vários veículos com explosivos. Por essa razão, disse o primeiro-ministro iraquiano à BBC, a ofensiva lançada para reconquistar Ramadi não entrará por enquanto na cidade. 

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