Espionagem americana pode ajudar o Brasil a chegar ao Conselho de Segurança da ONU

Fontes da diplomacia dizem que no caso das escutas a Dilma Rousseff um mero pedido de desculpas não basta.

A Presidente do Brasil, Dilma Rousseff, quer uma resposta dos Estados Unidos à notícia de que foi espiada pela Agência Nacional de Segurança. A imprensa brasileira diz que exige uma explicação directa de Barack Obama, e a Folha de São Paulo adianta que pode conseguir bastante mais: Washington pode, como compensação, apoiar a reivindicação de Brasília de obter um lugar permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

O tema - a espionagem e as relações EUA-Brasil na sequência da notícia - deverão ser abordadas num encontro entre os dois presidentes que participam, a partir de quinta-feira, na cimeira do G20 em São Petersburgo, na Rússia.

"Não será uma coincidência cómoda neste momento, mas também não se deve evitar", disse à agência espanhola Efe uma fonte do governo brasileiro sobre o encontro que, tão próximo da revelação (o documento que fala na espionagem foi um dos divulgados por Edward Snowden), vai acontecer inevitavelmente na cimeira.

A Folha de São Paulo diz que a pretenção brasileira de pertencer ao grupo permanente do Conselho de Segurança está já a ser discutida. Alguns jornais brasileiros escreviam, na terça-feira, que o caso de espionagem a Dilma mostrou que o Brasil enfrenta os EUA "olhos nos olhos", ou seja de igual para igual, e que o governo de Washington tem que assumir essa igualdade perante um país que é uma potência económica e regional.

As fontes do jornal brasileiro dizem que o interlocutor americano é o vice-presidente Joe Biden que telefonou a Dilma Rousseff assim que a espionagem foi conhecida, no domingo - a estação de televisão Globo divulgou um relatório da Agência de Segurança Nacional que especifica que Dilma foi espiada quando era candidata, tendo sido ouvidas conversas suas e de acessores.

Os americanos querem salvar as relações com o país da América do Sul e manter a visita oficial de Rousseff a Washington, marcada para Outubro e que ficou em risco de não se realizar. Na agenda de Dilma (ainda não cancelada) está a venda de caças F/A-18 Super Hornet ao Brasil.

Segundo os jornais brasileiros, os meios diplomáticos de ambos os países concordam que, neste caso, um mero pedido de desculpas não basta. Uma delegação brasileira já esteve em Washington para discutir o caso, que já seria conhecido do governo brasileiro desde Julho mas que só chegou à opinião pública no domingo. Em Junho, Biden terá ligado a Dilma Rousseff mas, diz a Folha, omitiu a dimensão da espionagem que o documento de Edward Snowden veio revelar.

Em 2010, quando o Presidente americano, Obama, que estava de visita à Índia, defendeu que deveria ser este país a ganhar o lugar,  o Brasil abriu a guerra diplomática com Washington pelo lugar permanente no Conselho de Segurança. Brasília diz desde 2002 (era Fernando Henrique Cardoso Presidente) não representar o mundo actual; os membros permanentes são os vencedores da II Guerra Mundial (EUA, Rússia, Reino Unido, França e ainda a China e têm direito de veto naquele órgão das Nações Unidas).
 

 

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