"Esperamos que a vitória do Syriza inicie uma mudança noutros países europeus"

O economista e deputado do Syriza Giorgos Stathakis, próximo do líder Alexis Tsipras, é apontado como um forte candidato à pasta da Economia ou do Desenvolvimento, caso o partido de esquerda radical chegue ao poder.

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Giorgos Stathakis DR

"Campanha, campanha, campanha". Têm sido assim os últimos dias do economista Giorgos Stathakis, mesmo quando regressa a casa em Chaniá, em Creta, onde o PÚBLICO o encontrou há uma semana. A manhã tinha sido passada a visitar pequenas localidades da região, levando a mensagem de mudança do Syriza, partido que representa.

"Os cidadãos estão fartos dos partidos tradicionais e dos políticos tradicionais. O Syriza é a força política predominante com a promessa de que novos políticos vão governar a Grécia. Nós somos diferentes, temos sido sempre diferentes e vamos permanecer diferentes", diz.

O discurso é convicto e sereno. Giorgos Stathakis fala como se as eleições fossem já assunto do passado, como se o Syriza estivesse já sentado na cadeira do poder: "Para a Europa é uma mudança drástica. Vai ser a primeira vez que um Governo de esquerda, na história recente, vai ganhar com maioria. Esperamos que a vitória do Syriza inicie noutros países europeus uma mudança semelhante, em Espanha e noutros países", afirma.

Stathakis integra um grupo de conselheiros económicos do líder Alexis Tsipras (entre os quais Euclid Tsakalotos ou John Milios) e tem sido um porta-voz activo da visão económica do partido, defendendo a renegociação da dívida grega, a permancência da Grécia no euro e pondo à cabeça das prioridades o combate à evasão fiscal. Professor de Política Económica na Universidade de Creta desde 1988, onde lecciona Análise Marxista e Metodologia Económica, Stathakis, que estudou economia no Reino Unido, é visto como um moderado que consegue distanciar-se da retórica mais inflamada utilizada por outros quadros do Syriza.

"Vamos definitivamente abandonar as políticas pró-austeridade do memorando [de entendimento com a troika]", explica ao PÚBLICO. "Vamos definitivamente renegociar a dívida pública grega, para que se torne viável e permita à Grécia usar os seus recursos para propósitos sociais e económicos. O mais importante é ter uma mudança de políticas contra a austeridade e a favor do crescimento, com elementos fortes de segurança social e de justiça social", sublinha. A dívida pública grega ascende já a 177% do Produto Interno Bruto (PIB) e os primeiros sinais de abertura da zona euro já se fizeram sentir: há uma semana, o ministro francês das Finanças, Michel Sapin, defendeu que a União Europeia deve estar preparada para negociar os termos de uma renegociação da dívida e até de uma possível extensão do plano de resgate adoptado pela troika.

Algo que o Syriza não fará, assegura Stathakis, é usar a Assistência de Liquidez de Emergência (ELA) [mecanismo usado em caso de liquidez dos bancos] ou, como chegou a sugerir a deputada Rachel Makri numa declaração que gerou polémica dentro e fora do partido, recorrer à impressão de dinheiro: "Não é uma sugestão muito válida. O que é importante é fazer com que o BCE tenha um papel mais activo comprando dívida pública".

Para lá da dívida, diz Stathakis, há a questão "predominante" da evasão fiscal. "Os cidadãos mais ricos na Grécia não pagam impostos, e isso é visível porque dificilmente encontramos alguém que ganhe mais de 80 mil euros a declarar esse rendimento. Temos de trazer os mais ricos para dentro do sistema de fiscal. Se formos bem sucedidos, haverá mais justiça social do que no passado", afirma.

A bandeira do combate à evasão fiscal e aos oligarcas marcou a campanha do Syriza, com a promessa de quebrar os laços que unem os mais poderosos da Grécia e os partidos que estiveram no poder nas últimas decadas. Uma das medidas avançadas por Stathakis é a de obrigar as grandes empresas de media a pagar por licenças de emissão, algo que nunca fizeram. O economista acredita que a Grécia poderá encaixar mais de 100 milhões de euros com a medida. Stathakis está confiante de que esta e outras mudanças vão ser possíveis na Grécia, mesmo que a eleição não lhes garanta à partida uma maioria parlamentar: "Acho que formamos governo de qualquer maneira, e vai ser aceite pelo Parlamento. Vamos abrir um diálogo sincero com outras forças políticas e tentar encontrar uma coligação que possa funcionar num período sustentável de tempo".

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