Líderes vão tentar acordo sobre o nuclear iraniano até ao último minuto

Ministros dos Negócios Estrangeiros reunidos em Lausanne dizem-se optimistas, mas há vários entraves, e tudo pode ainda cair por terra.

Foto
Kerry, como outros responsáveis, já adiou o voo de regresso aos EUA Brendan Smialowski/Reuters

À medida que as negociações sobre o nuclear iraniano se aproximam do prazo de final de Março, e com os líderes desde sábado na cidade suíça de Lausanne a tentarem chegar a um acordo, o ambiente alterna entre optimismo e pessimismo.

Jornalistas famintos de declarações vêem responsáveis sair e entrar de salas de reuniões entre o Irão e seis outros países (EUA, França, Alemanha, Reuno Unido, China e Rússia). No sábado uma das principais declarações do dia era de um optimista ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano: “Penso que podemos fazer os progressos necessários para resolver estas questões e começarmos a escrevê-las num texto que se torne o acordo final”, disse Mohammad Javad Zarif.

No domingo, o tom era mais cauteloso: “Temos esperança, mas ainda há muito a fazer”, disse o ministro francês dos Negócios Estrangeiros Laurent Fabius; enquanto o seu homólogo alemão, Frank-Walter Steinmeier, declarou que no último ano “houve mais progressos do que alguma vez” em mais de uma década de negociações sobre esta questão, mas que apesar da “vontade” do Irão para um acordo, era preciso “mais flexibilidade” do outro lado.

Nada está certo: “ainda pode tudo desabar”, dizia um responsável sob anonimato à Reuters. A maioria das questões está interrelacionada, e se um dos lados conceder por exemplo no número de centrifugadores a operar, o outro poderá aceitar menos do que queria na duração do acordo, ou na velocidade do levantamento de sanções, por exemplo.

Em causa estão várias questões complexas, já que o objectivo do acordo é impedir que o Irão tenha um programa nuclear que lhe permita chegar a uma bomba atómica em menos de um ano – o espaço de tempo que seria necessário para o travar por outros meios (sanções ou intervenção militar).

Disto depende não só o número de centrifugadoras mas o grau a que o urânio é enriquecido (para fins civis é preciso urânio enriquecido apenas a 5% enquanto para uma bomba atómica terá de estar a 90% - o enriquecimento é feito em graus sucessivos).

O número de centrifugadoras é das questões mais fáceis de perceber: o Irão tem actualmente 20 mil das quais 10 mil estão a funcionar. O acordo deverá prever uma redução. O número previsto está entre 6 e 7 mil – abaixo disto é uma vitória para os seis países (e a Administração Obama), mais será uma concessão destes ao Irão. Quanto ao material nuclear, para evitar stocks acumulados que possam levar a um enriquecimento rápido, o Irão deverá aceitar enviar parte deste material para um outro país, provavelmente a Rússia.

Outra questão importante é que tipo de investigação em desenvolvimento poderá o Irão manter, assim como o grau de inspecção que aceitará para as suas instalações e ainda as perguntas a que terá de responder sobre actividades anteriores.

O levantamento das sanções é especialmente contencioso – o Irão queria o mais rapidamente possível, os seis países liderados pelos EUA dizem que este levantamento terá de ser progressivo e lento, dependente da demonstrada cooperação do Irão.

Principais problemas
Segundo a BBC, as previsões em relação à possibilidade de investigação e desenvolvimento nuclear pelo Irão na última fase do acordo (que se prevê durar dez anos ou mais) e o modo e ritmo do levantamento das sanções são as duas questões que estão a levantar mais problemas.

O prazo de 31 de Março é auto-imposto mas o facto de muitos dos responsáveis presentes (o secretário de Estado norte-americano John Kerry, por exemplo) terem cancelado viagens para os próximos dias mostra que estão empenhados em conseguir um acordo e que este é tido como possível até quarta-feira. A ideia é ter até ao fim de Março um acordo mais geral, de algumas páginas, deixando espaço para acertar ainda questões técnicas antes de 30 de Junho, quando termina o actual acordo interino que levou a algumas restrições no programa nuclear iraniano em troca de um alívio de sanções – ambos muito limitados.

No entanto, com sublinha o jornal norte-americano Politico, para os Estados Unidos a data chave é 13 de Abril, quando se reúne de novo o Congresso e os republicanos irão certamente propor, e aprovar, mais medidas contra o Irão.

A pressão é grande e apesar desta indefinição vozes críticas já se fizeram ouvir. De Israel, o recém-reeleito primeiro-ministro Benjamin Netanyahu alerta para um mau acordo – “ainda pior do que tínhamos antecipado”, disse. O Irão está a “tentar conquistar o Médio Oriente” com o seu apoio a grupos armados em vários países, como às milícias huthis no Iémen (cujo avanço levou a uma intervenção militar liderada pela Arábia Saudita). “O eixo Irão-Lausanne-Iémen é muito perigoso para a humanidade e tem de ser travado”, declarou. 

Sugerir correcção
Ler 2 comentários