Ataque em Timor-Leste confirma riscos de violência política

Polícia atribui ataque a grupo de ex-comandante da resistência. Três dos quatro feridos fazem parte da segurança do Presidente do Parlamento.

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Público/arquivo

Um ataque que na madrugada de sábado para domingo feriu quatro polícias timorenses, incluindo três agentes do corpo de segurança pessoal do presidente do Parlamento, soma-se a outro incidente ocorrido em Janeiro e confirma que os riscos de violência política continuam a existir no país.

A Polícia Nacional atribuiu o ataque ao Conselho de Revolução Maubere, um grupo liderado por Paulino Gama, ex-comandante da resistência timorense, conhecido como Mauk Moruk. “Posso dizer que foram elementos desse grupo de Mauk Moruk”, disse fonte policial à agência Lusa.

Na manhã de domingo, a polícia informou ter detido três pessoas em acções que realizou na região de Baguia, 40 quilómetros a sudeste da segunda cidade timorense, na sequência do ataque. “Estavam desarmados” e a situação agora é “calma”, disse fonte policial.

Nas operações estiveram envolvidos três pelotões das unidades especiais da polícia, dois de Baucau e um de Díli, e efectivos das unidades de reserva de Baucau. O comandante das F-FDTL, as forças armadas timorenses, Lere Anan Timor, declarou que nas operações não participaram militares.

O presidente do Parlamento, Vicente da Silva Guterres, disse à Lusa que o ataque "coordenado" de Baguia não o visava directamente, apesar de terem sido feridos três dos seus seguranças, que pernoitavam na esquadra. O quarto ferido é um agente local. Três dos feridos foram levados para o Hospital de Baucau, o quarto, em estado mais grave seguiu para o Hospital Guido Valadares, em Díli.

Vicente da Silva Guterres contou que o ataque ocorreu cerca das 2h de domingo (17h de sábado em Lisboa) e não o visava directamente. O alvo foi um quartel situado a cerca de 100 metros da casa onde estava a dormir, com a família. O presidente do Parlamento tinha-se deslocado à região para o funeral de um familiar.

De acordo com as informações da Lusa, primeiro foi cortada a electricidade na zona e depois iniciado o ataque “com muita gente”. “Houve tiros durante várias horas e foram lançadas granadas artesanais contra o quartel”, disse o presidente do Parlamento. Fonte da Polícia Nacional disse que além do ataque à esquadra foram queimadas pelo menos três casas.

“Eu estou bem e a minha família também. Espero que não tenha sido um ataque a mim. Julgo que não foi”, disse Guterres. “Penso que é algo que vem na sequência dos problemas que se têm arrastado aqui nesta zona. Espero que o Estado tome medidas para resolver a situação.”

 “Foram elementos desse grupo de Mauk Moruk. Queimaram ainda a casa de um liurai [chefe tradicional], destruíram a de um agente da Polícia Nacional e danificaram veículos”, informou a polícia.

Em Dezembro, o Tribunal de Díli ordenou a libertação de Mauk Moruk – com quem o ex-primeiro-ministro Xanana Gusmão manterá divergências desde a fase da luta contra a ocupação indonésia – e a de outro ex-comandante da resistência, José Santos Lemos (Labarik). Estavam ambos detidos preventivamente desde Março do ano passado.
 
Os dois homens tinham sido detidos após uma resolução do Parlamento que os acusava de tentativas de instabilização e de ameaças ao Estado protagonizadas pelo Conselho de Revolução Maubere, de Mauk Moruk, e pelo Conselho Popular da Defesa da República de Timor-Leste (CPD-RDTL) – um grupo de veteranos, a que Labarik pertence.

Agio Pereira, ministro de Estado e da Presidência do Conselho de Ministros, disse que o Governo está a tomar todas as medidas para controlar a situação na região de Baguia. Em Janeiro, dois agentes da polícia foram feitos reféns depois de confrontos no subdistrito de Laga, próximo do mesmo local do ataque deste domingo. Nesses confrontos foram feridos dois outros agentes.

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