O recém-eleito Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, nomeou como seu sucessor no cargo de primeiro-ministro Ahmet Davutoglu, actual ministro dos Negócios Estrangeiros e um dos políticos que integram o seu círculo mais fechado.

Erdogan só vai tomar posse como Presidente na próxima quinta-feira, mas nunca escondeu quer continuar a mandar no país, através do controlo do Governo e do reforço constitucional dos poderes do chefe de Estado, que são quase exclusivamente decorativos.

É neste contexto que surge a escolha de Davutoglu para o suceder como primeiro-ministro e como líder do Partido da Justiça e do Desenvolvimento. A decisão terá de ser confirmada pelo partido na próxima quarta-feira, mas nada indica que a decisão de Erdogan venha a ser contestada.

Ahmet Davutoglu, 55 anos, foi também escolhido para continuar a "luta" contra Fethullah Gülen, o homem que Recep Tayyip Erdogan acusa de ter criado um "Estado paralelo" a partir dos Estados Unidos.

"Vamos prosseguir esta luta em conjunto. O facto de ser Presidente não vai ser um obstáculo à minha luta com a estrutura paralela", afirmou Erdogan, numa conferência de imprensa em Ancara.

Gülen – visto pelos apoiantes nacionalistas de Erdogan como uma "marioneta dos EUA" e por uma grande parte da moderna elite turca como a face de uma "modernização" do Islão, mais virada para o Ocidente – é acusado de tentar derrubar o Partido da Justiça e do Desenvolvimento através da sua influência junto do sistema judicial turco.

Na mesma conferência em que anunciou o nome do seu sucessor, Erdogan disse também que irá apoiar o futuro primeiro-ministro no avanço do processo de paz com a minoria curda.

O homem que vai assumir a chefia do Governo tem uma vasta experiência – e influência – na política interna e externa da Turquia. Conselheiro de Erdogan desde 2003 e seu ministro dos Negócios Estrangeiros desde 2009, Ahmet Davutoglu foi o ideólogo de uma postura que defende a convivência pacífica com os países vizinhos, embora os seus críticos digam que o facto de a Turquia ter actualmente poucos aliados no Médio Oriente é uma prova do seu falhanço.

Com a escolha de Davutoglu para líder do Partido da Justiça e do Desenvolvimento, Erdogan espera também que a sua formação vença as eleições legislativas de 2015 com um resultado que lhe permita alterar a Constituição, no sentido de reforçar os seus poderes como Presidente.