Erdogan diz que retirada militar total de Chipre "está fora de questão"

Negociações em Genebra terminaram sem acordo, mas duas partes vão retomar conversações já na próxima semana.

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Guterresacredita que cipriotas gregos e turcos farão um “último esforço” para chegar a acordo Laurent Gillieron/Reuters

O Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, introduziu uma nota de pessimismo nas perspectivas de um acordo para a reunificação de Chipre, ao afirmar que o seu país não prescinde do estatuto de garante da segurança da ilha nem admite retirar todos os soldados que ali mantém – condições em que Atenas e as autoridades cipriotas gregas continuam a insistir.

As negociações sobre as quais as Nações Unidas e a União Europeia depositavam grandes esperanças terminaram quinta-feira à noite sem um acordo, mas as duas partes decidiram retomar as conversações, a nível técnico, já na próxima quarta-feira. Será dada prioridade às questões de segurança, que se apresentam agora como principal entrave ao acordo, “e quando houver resultados a conferência será retomada nos mesmos moldes”, anunciou o porta-voz do Governo cipriota no final do encontro em Genebra.

Em declarações à Reuters, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse estar confiante que cipriotas gregos e cipriotas turcos farão um “último esforço” para encontrar uma solução que ponha fim à divisão da ilha – precipitada em 1974 pela invasão do Exército de Ancara para proteger a sua comunidade de um golpe militar inspirado pela junta no poder em Atenas.

No comunicado final da reunião em Genebra, a ONU afirma que a República de Chipre (internacionalmente reconhecida) e a República Turca do Norte de Chipre (aceite apenas por Ancara) “reconhecem que a segurança de uma comunidade não pode acontecer à custa da segurança da outra”.

Um compromisso que parece mais difícil depois das declarações de Erdogan – as primeiras sobre as negociações iniciadas na segunda-feira. “Já dissemos claramente a Chipre e à Grécia que não podem esperar uma solução em que a Turquia deixe de ser garante da ilha. Nós vamos ficar lá para sempre", afirmou o chefe de Estado, referindo-se ao estatuto que o país partilha com a Grécia e o Reino Unido desde a independência cipriota em 1960. Erdogan garantiu também que “está fora de questão” retirar a totalidade dos cerca de 30 a 40 mil militares que o país mantém no Norte de Chipre.

O Governo cipriota, com o apoio de Atenas, tem feito pressão para o fim da presença militar turca, mas Ancara só admite reduzir gradualmente o seu contingente até um mínimo de 650 militares, lembrando que também a Grécia mantém um batalhão de 1100 soldados na ilha.

Pouco depois da declaração de Erdogan, o ministro dos Negócios Estrangeiros grego, Nikos Kotzias, emitiu um comunicado, insistindo que “uma solução justa” para o problema de Chipre supõe “antes de mais pôr fim às causas que o originaram, isto é, a presença das tropas de ocupação e do sistema de garantias que foi violado”.

Os dois líderes cipriotas, moderados que há muito acreditam numa solução que conduza à reunificação, adoptaram discursos mais conciliatórios. “Precisamos de encontrar formas e meios para que ambas as comunidades possam sentir-se seguras nesta linda ilha”, afirmou o líder da RTCN, sublinhando que os complexos entraves a um acordo “precisam de tempo” para ser resolvidos. “Não podemos fazer tudo num único dia”. Nicos Anastasiades, Presidente da República de Chipre, mostrou estar em sintonia, dizendo acreditar que os grupos de trabalho serão capazes de encontrar “novas formas” de garantir a segurança na ilha, que sejam “ aceitáveis” para as duas comunidades, mas “radicalmente diferentes” das acordadas aquando da independência. 

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