Sondagem diz que Marina Silva vencerá segunda volta das presidenciais no Brasil

Pode o Brasil enveredar pela terceira via?

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Marina Silva personifica a terceira via da política brasileira REUTERS/Paulo Whitaker

No primeiro confronto televisivo entre os concorrentes à presidência do Brasil nas eleições de Outubro, era Marina Silva – que por capricho do destino tenta pela segunda vez eleger-se para o Palácio do Planalto – quem mais tinha a perder com uma prestação infeliz. A política ecologista, que assumiu a campanha da coligação “Unidos pelo Brasil” há apenas duas semanas, depois da morte de Eduardo Campos, entrou nos estúdios da TV Bandeirantes pressionada pelos números acabados de revelar pelo instituto de sondagens Ibope, onde surgia como favorita à vitória na segunda volta eleitoral.

E na falta de um vencedor claro do debate, acabou por ser Marina a ganhar a noite: com um desempenho seguro, bem preparado e sem erros, afastou as dúvidas sobre a sua candidatura e afirmou a viabilidade do seu projecto como real alternativa e “terceira via” política. “O meu objectivo é combater a velha polarização que há 20 anos constitui um atraso para o nosso país”, frisou, prometendo governar com “bons quadros” de “visão estratégica”, independentemente dos seus partidos.

Apesar da entrada fulgurante de Marina Silva na corrida presidencial, ainda é cedo para perceber se será ela a mudança que os eleitores brasileiros dizem querer mais do que tudo. Os dados do Ibope mostram que a reeleição ainda está nas mãos da Presidente Dilma Rousseff, candidata a um segundo mandato, e que reúne 34% das intenções de voto na primeira volta, já no dia 5 de Outubro. Porém, as contas da candidata do Partido dos Trabalhadores (PT) complicam-se no caso de uma segunda volta – um cenário que nem os petistas mais optimistas duvidam que vá acontecer.

Aí, só se o duelo for contra o candidato do rival histórico Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), Aécio Neves, é que Dilma “tira de letra”, para usar uma expressão brasileira: a sondagem dá 41% à actual Presidente, contra 35% do político tucano, ex-governador e senador do estado de Minas Gerais e neto de Tancredo Neves, um dos políticos mais populares de sempre no Brasil.

Mas se o eleitorado se mantiver fiel às opiniões registadas pelo Ibope, Rousseff disputará a segunda volta contra Marina Silva, que já abriu uma margem de dez pontos sobre Aécio (29% e 19%, respectivamente) na última quinzena de campanha. E que voltará a beneficiar de uma confortável vantagem de 45% contra 36% de Dilma: como escrevia a Folha de São Paulo, a sondagem fez acender um sinal amarelo de alerta na campanha petista, que pela primeira vez foi forçada a admitir a possibilidade de derrota.

No campo de Marina Silva, contudo, evitam-se declarações eufóricas e triunfalistas; a ordem é manter a humildade. Os responsáveis da campanha da coligação, que é liderada pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), repetem que ainda é cedo para perceber se o salto da candidatura nas sondagens reflecte a comoção do eleitorado com a trágica morte de Eduardo Campos, num acidente aéreo a 13 de Agosto, ou é já sintomática da adesão ao projecto de renovação política de Marina Silva – cujos contornos, segundo os críticos, são tão indefinidos quanto ela própria.

A mesma precaução é usada pelo PSDB. “As pesquisas que virão após os debates, em 15 ou 20 dias, darão um quadro mais real [do estado da corrida]”, comentou Aécio Neves, que de repente se encontra na desconfortável posição de ter de torpedear Marina para sobreviver até à segunda volta. Essa não foi, contudo, a sua estratégia no primeiro debate, em que dirigiu todo o fogo contra Dilma e só alfinetou Marina uma única vez, ao pedir-lhe exemplos concretos da “nova política” que ela tanto reclama. Os analistas aconselhavam um novo plano de ataque: o tucano acredita que a ecologista é “uma onda que vai passar”, mas a sua campanha corre o risco de morrer na praia se não enfrentar a maré.

Ao contrário de Campos, que era muito popular no seu estado de Pernambuco mas ainda um desconhecido para o resto dos brasileiros, Marina Silva é uma figura já familiar para o eleitorado: ela é ex-ministra do ambiente do Governo de Lula da Silva, ex-senadora do estado rural do Acre, ex-candidata presidencial pelos Verdes e líder do movimento ecologista Rede Sustentabilidade. Mais do que isso, o país já conhece o seu “peso” eleitoral: em 2010, a ecologista surpreendeu ao conquistar quase 20% dos votos.

Ao longo do primeiro debate, Marina mostrou ter feito o trabalho de casa para não desperdiçar esse capital político. Esteve particularmente acutilante ao falar nas grandes manifestações e protestos que tomaram conta das principais cidades brasileiras no Verão de 2013, exigindo saber onde pára a reforma política e as mudanças institucionais prometidas pela Presidente e pelos partidos no Congresso.

Há quatro anos, foi nas cidades e entre os jovens e as classes mais escolarizadas que Marina fomentou a sua base de apoio, precisamente os grupos que mais se envolveram (ou interessaram) pelos protestos. A sua campanha veio resgatá-los para a eleição, bem como os insatisfeitos ou desiludidos que tencionavam votar branco ou nulo: os dados do Ibope mostram que, depois da ascensão de Marina à cabeça da “chapa” do PSB, o número de votos brancos e nulos caiu seis pontos de 13% para 7%, e a de indecisos baixou de 11% para 8%.

No rescaldo do debate televisivo (o primeiro de três), os comentadores garantiam que a campanha vai mudar, e necessariamente aquecer. “O jogo mais pesado ainda está por vir”, avisava um analista. Mas a tensão nas campanhas do PT e PSDB, provocada pela ascensão de Marina, é inegável – a Folha dizia mesmo que os tucanos têm precisamente 39 dias para “evitar um fiasco histórico”, uma vez que desde 1994 nunca falharam a discussão na segunda volta.
 

   

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