Encontros entre Putin e Poroshenko sem acordo à vista

Conflito no Leste da Ucrânia é o ponto principal na agenda de um encontro que junta os líderes europeus, russo e ucraniano em Milão.

Foto
Putin, Renzi e Poroshenko durante o encontro em Milão Daniel Dal Zennaro / AFP

Para Moscovo há “desentendimentos” nas conversações entre o Presidente russo, Vladimir Putin, e os líderes europeus quanto à situação na Ucrânia. Entre os europeus prevalece o optimismo, após alguns encontros à margem da cimeira euro-asiática desta sexta-feira em Milão, Itália.

A 10.ª cimeira da ASEM – organização de cooperação que reúne mais de 50 países europeus e asiáticos – que decorre em Milão foi o pretexto perfeito para juntar no mesmo fórum o Presidente russo e o seu homólogo ucraniano, Petro Poroshenko, bem como os principais líderes europeus. A pacificação do Leste da Ucrânia é o assunto que domina a agenda, numa altura em que continuam os combates em Donetsk, apesar de estar em vigor um cessar-fogo desde o início de Setembro.

Os primeiros indícios, logo após as reuniões iniciais, davam conta de um entendimento difícil de ser alcançado. Entre os líderes europeus, o sentimento era mais optimista, com o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, a descrever o encontro como “verdadeiramente positivo”, embora lembrando que permanecem “várias divergências” entre as posições russa, ucraniana e europeia.

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, partilhou do sentimento do homólogo italiano, falando de “uma reunião positiva”. A ideia principal, sublinhada por Cameron, é a de que Putin não deseja “um conflito permanente”, nem uma “Ucrânia dividida”. A chanceler alemã, Angela Merkel, admitiu não ver progressos "até ao momento", mas quis deixar uma porta aberta: "Iremos continuar a falar."

Outra das questões discutidas pelos intervenientes nas discussões de Milão é o fornecimento de gás natural russo. Poroshenko afirmou que ficaram acordados os "parâmetros básicos do contrato" entre a Ucrânia e a Rússia. A empresa estatal russa Gazprom cortou o fornecimento de gás à Ucrânia em Junho por falta de pagamento das dívidas contraídas pela empresa ucraniana de distribuição Naftogaz. Com a chegada do Inverno, a Ucrânia tem recebido gás por via de outros países, como a Polónia, através dos chamados "fluxos invertidos". Na véspera do encontro em Milão, Putin avisou que o fornecimento de gás à Europa pode sofrer reduções nos próximos meses, caso esta prática perdure.

A imagem dada pelo Kremlin à saída das reuniões era bastante diferente. “Infelizmente, certos participantes fizeram prova de uma total falta de vontade em compreender a realidade da situação no Sudeste da Ucrânia”, disse o porta-voz do Governo russo, Dmitri Peskov, à agência estatal RIA Novosti. Sublinhando que Moscovo continua “aberta” a discussões, Peskov insistiu na dificuldade das negociações nas quais permanecem “muitos desacordos e muita incompreensão”.

Na véspera, Putin já se tinha encontrado com a chanceler alemã numa reunião em que o Kremlin deu igualmente conta das “divergências sérias” entre as posições de ambos. Kiev, apoiada pelos Estados Unidos, a União Europeia e a NATO, acusa a Rússia de armar e financiar os separatistas e de ter mesmo enviado unidades militares para o Leste ucraniano, acusações que foram sempre negadas pelo Kremlin.

O grande objectivo é que o acordo firmado em Minsk a 5 de Setembro – que prevê o fim das hostilidades entre o Exército ucraniano e as forças separatistas pró-russas que ocupam partes das regiões de Lugansk e Donetsk – seja cumprido por ambas as partes. Conhecido como o "Memorando de Minsk", o documento, assinado pelas autoridades ucranianas e pelos líderes rebeldes, garante um estatuto especial às regiões controladas pelos separatistas, mas não a independência.

A investigação ao desastre do voo MH17 o avião da Malaysia Airlines que se despenhou em Julho, na Ucrânia, com 298 pessoas a bordo, em pleno teatro de guerra também foi abordada em Milão. A ministra dos Negócios Estrangeiros australiana, Julie Bishop, encontrou-se com o seu homólogo russo, Serguei Lavrov, e à saída do encontro disse que "a Rússia não foi cooperante como seria desejável".

No terreno continuam entretanto os combates entre o Exército e as forças rebeldes pró-russas na zona do aeroporto de Donetsk – onde se têm concentrado os confrontos desde que foi declarado o cessar-fogo. Os correspondentes da AFP no local disseram ter escutado tiros de artilharia nas imediações do aeroporto, que está totalmente destruído após seis meses de conflito.

O Exército ucraniano revelou que 11 soldados estão desaparecidos desde quinta-feira, depois de terem sido apanhados numa emboscada na região de Lugansk. 

Sugerir correcção
Ler 243 comentários