Em guerra com o Estado Islâmico

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O jornalista escocês Alex Massie cita Trotsky para ilustrar a ameaça do Estado Islâmico (EI): “Vocês podem não estar interessados na guerra, mas a guerra está interessada em vós.” Este dito aplica-se a ocidentais e a árabes. Um ano depois da proclamação do “califado” por Abu Bakr al-Baghdadi, o EI resiste, consolida as posições no seu território original — Iraque e Síria — alarga a sua influência noutras regiões do mundo muçulmano e vangloria-se de abater ocidentais, na Europa ou em instâncias turísticas de países árabes. 

“O Egipto está em guerra”, diz-se no Cairo. O procurador-geral, Hisham Barakat, foi assassinado na segunda-feira pela explosão de um carro armadilhado. É a primeira vez em muitos anos que terroristas abatem uma das mais altas figuras do Estado. O atentado foi reivindicado por um grupo desconhecido, supostamente ligado ao Estado Islâmico que, em Maio, apelou ao assassínio de juízes. No mesmo dia, o grupo jihadista que representa o EI no Sinai lançou uma ofensiva em larga escala contra o exército, com um saldo de dezenas de mortos. Os militares respondem com ataques aéreos.

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Populares reunidos no local onde explodiu o carro armadilhado que matou o procurador-geral do Egipto, Hisham Barakat, a 29 de Junho Khaled Desouki/AFP

Os serviços secretos estão alarmados com a actividade de jihadistas no coração das grandes cidades. Estes seguem um triplo objectivo: matar figuras do Estado, lançar ataques no Sinai, assassinar visitantes ocidentais para arruinar o turismo. Em Junho, foi evitado à última hora um atentado em Luxor, onde se encontravam 600 turistas ocidentais. O regime do general Sissi encerrou-se num ciclo vicioso. A implacável repressão da Irmandade Muçulmana abriu as portas a jihadistas ligados à Al-Qaeda e ao EI. A polícia usa os piores métodos para os desmantelar, o que a seguir serve de justificação à ideologia sanguinária do EI. 

Al-Baghdadi alargou as suas ambições. “Comprou” gratuitamente uma base na Líbia, de onde age para desestabilizar a transição democrática na Tunísia: foi o atentado de 16 de Junho contra turistas. Nesse mesmo dia inspirou dois outros: um em França (com uma decapitação) e outro no Kuwait (contra xiitas). Tenta agora envolver-se no conflito israelo-palestiniano, implantando-se em Gaza.

O que Alex Massie quer dizer é que o Ocidente é vulnerável. O massacre de 22 britânicos na Tunísia desfaz as ilusões de segurança de David Cameron, que tem mais palavras do que meios de acção: “Não há esconderijos perante o terrorismo.”

Porque tem sido ineficaz a guerra contra o “califado”? Em grande parte pela origem e natureza do actual caos no Médio Oriente. “O Ocidente foi apanhado na armadilha de ódio entre xiitas e sunitas”, em que o Irão e a Arábia Saudita são os actores centrais, explica o jornalista italiano Alberto Negri. Esta guerra não é nossa, mas estamos nela.

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