"El Chapo" deixa o México entre risco de nova fuga e a derrota da extradição

Barão da droga já escapou duas vezes da cadeia. Pressão para que seja extraditado é cada vez maior, mas o Presidente mexicano tem de avaliar bem os próximos passos.

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Joaquín Guzmán foi capturado novamente na sexta-feira passada ALFREDO ESTRELLA/AFP

Quando Joaquín El Chapo Guzmán foi capturado pela segunda vez na sua vida, em Fevereiro de 2014, o Presidente do México aproveitou para juntar a vaidade de ter liderado a captura do poderoso barão da droga a uma declaração em jeito de promessa: "Seria imperdoável, seria verdadeiramente mais do que lamentável" se o traficante escapasse outra vez da prisão, disse Enrique Peña Nieto. Um ano e meio depois, na noite de 11 de Julho de 2015, El Chapo fingiu que foi tomar banho e escapou pela segunda vez na sua vida de uma das prisões mais seguras do México, através de um túnel com mais de um quilómetro de extensão.

À sua espera tinha uma moto para o levar de um lado ao outro do túnel; um avião para o deixar na aldeia de El Limón; e depois um automóvel para o deixar na paragem final: a cidade costeira de Los Mochis, no estado de Sinaloa, que dá nome ao poderoso cartel liderado por El Chapo.

Mais do que o receio pela fuga de um dos mais procurados traficantes de droga de todo o mundo, foi a humilhação pública que afectou Peña Nieto. Foi a primeira vez que o actual Presidente se viu confrontado com as artes mágicas de El Chapo, mas o sistema judicial mexicano já tinha passado pelo mesmo em Janeiro de 2001 – dessa vez, o traficante fugiu da prisão de alta segurança conhecida como Puente Grande escondido num carro de roupa suja, de uma forma tão descarada que a cadeia passou a ser chamada "Puerta Grande".

A mais recente captura de El Chapo, na sexta-feira da semana passada, motivou mais uma vez declarações triunfalistas por parte do Presidente mexicano, mas as horas foram passando e a realidade voltou para travar a onda de entusiasmo: e se o traficante fugir outra vez?

A Justiça mexicana disse que já deu início ao processo de extradição do traficante para os EUA, onde é alvo de acusações em sete tribunais federais – a cidade de Chicago considerou-o mesmo, em 2013, o inimigo público n.º 1, uma distinção que apenas tinha sido reservada ao famoso gangster Al Capone, em finais da década de 1920.  Há já dois pedidos de extradição em curso, feitos pela Califórnia e pelo Texas. Os crimes vão desde tráfico de droga, homicídios e raptos, até branqueamento de capitais relacionados com droga.

Mas há quem duvide que isso vá acontecer, apesar de México e EUA terem um acordo de extradição.

"Acho improvável. É possível, mas acho que é altamente improvável por duas razões", disse à rádio pública norte-americana NPR Jimmy Gurule, professor de Direito Criminal na Universidade de Notre Dame.

"Em primeiro lugar, a extradição envolve assuntos importantes de soberania. Neste caso em particular, El Chapo foi julgado e condenado no México, e por isso deve cumprir a sua pena no México. Ao mesmo tempo, acho que o México não quer ser visto como um país que está a receber ordens dos EUA, e a ceder às exigências dos EUA."

Por isso, o Presidente Enrique Peña Neto está numa posição difícil: ou mantém El Chapo na cadeia, correndo o risco de uma nova – e politicamente fatal – fuga, ou extradita o traficante e põe em causa a segurança e a fiabilidade do sistema judicial mexicano.

A actual procuradora-geral, Arely Gómez González, pode estar disposta a dar esse passo, mas em último caso é o Presidente quem decide, com o seu poder de veto. Se dependesse do anterior procurador-geral, Jesús Murillo Karam, a decisão já estava tomada – há um ano, quando o barão da droga ainda estava na prisão, Karam afirmou que a sentença deveria ser cumprida no México, e só depois se falaria numa possível extradição: "Vai demorar um pouco, talvez uns 300 ou 400 anos."

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