Egipto prepara ilegalização da Irmandade Muçulmana

Iniciativa não abrange o partido político criado pelo movimento

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Depois da deposição de Morsi, a Irmandade luta agora pela sua sobrevivência política Amr Abdallah Dalsh/Reuters

O governo interino do Egipto, tutelado pelos militares, está a preparar a dissolução da Irmandade Muçulmana, o movimento islamista afastado do poder pelo golpe militar de Julho, e que desde o ano passado estava registado como organização não-governamental (ONG).

Um porta-voz do governo negou que a decisão já tenha sido tomada, mas o jornal estatal Al-Akhbar revelou na edição desta sexta-feira que o ministro da Solidariedade Social, Ahmed el-Boraie, decidiu avançar para a dissolução, com base nas acusações de que o movimento usou os seus edifícios para abrir fogo contra manifestantes, nos protestos que antecederam o golpe, e para armazenar armas e explosivos. “A decisão será tomada nos próximos dias”, disse à AFP um porta-voz do ministro, revelando que a Irmandade não respondeu à convocatória para apresentar os seus argumentos contra a dissolução.

Segundo a Reuters, a decisão refere-se apenas às actividades da Irmandade enquanto ONG, estatuto que assumiu em Março de 2012 em resposta a um processo judicial movido pela oposição que a acusava de actuar à margem de qualquer estatuto legal.

Criado em 1928, o movimento político islâmico foi ilegalizado na década de 1950 e viveu grande parte da sua existência na ilegalidade, fazendo crescer a sua influência como organização social e caritativa. Quando o Presidente Hosni Mubarak foi derrubado, na revolução de 2011, a Irmandade era o maior e mais bem organizado movimento e o partido criado à sua sombra, o Justiça e Liberdade, venceu todos os escrutínios realizados entretanto, passando a dominar o Parlamento, elegendo Mohamed Morsi para a presidência, e fazendo aprovar uma nova Constituição em referendo.

A dissolução representa um novo golpe para o movimento islamista que, depois da violenta repressão das manifestações que contestavam nas ruas o afastamento de Morsi pelos militares. Mais de mil pessoas, na esmagadora maioria apoiantes da Irmandade, morreram nos dias que se seguiram à violenta ofensiva das forças de segurança, centenas de dirigentes e militantes do movimento foram detidos. As autoridades não fizeram ainda qualquer tentativa para ilegalizar o Partido Justiça e Liberdade, mas com a maioria dos seus líderes estão na cadeia e, com a imprensa estatal e o aparelho militar unidos, a Irmandade luta agora pela sua sobrevivência política.

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